Cultura & Lazer Titulo
Deixados de lado
Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
03/04/2011 | 07:00
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As histórias de amor dos protagonistas de novelas sempre foram foco para atrair o telespectador a acompanhar o desenrolar das tramas. Mas, com o passar do tempo, esse olhar tão aguçado do público para os mocinhos e mocinhas foi dividido com outros núcleos, que passaram a retratar com força temas do cotidiano. Em muitos casos, tornando a trama do casal principal mera coadjuvante.
Hoje, os autores já podem segurar a atenção do público pela dinâmica de outros personagens, não sendo mais obrigados a arrastar a história e a atenção para o casal central. Um exemplo é Marina (Paola Oliveira) e Pedro (Eriberto Leão), de Insensato Coração. Os dois, visivelmente sem química, foram deixados de lado pela direção, que percebeu que núcleos como os de Carol (Camila Pitanga) e Natalie (Deborah Secco) arrancavam mais suspiros do público.
Para críticos, os casais românticos ainda são a chave e o começo para qualquer dramaturgia, mas o perfil mudou, pois a realidade social não é mais a mesma. "Nos anos de 1970 e 1980, os pares românticos tinham veia melodramática, em que a mulher era submissa a seu amado e todos torciam para aquele amor dar certo. Hoje, as pessoas ficam e pronto", explica o pesquisador em teledramaturgia da USP (Universidade de São Paulo) Claudino Mayer.
Marisa (Glória Pires) e Beto (Lauro Corona), em Dancin' Days, simbolizam a época em que a mocinha conhecia seu amor, namorava e se casava.
Já Solano (Murilo Rosa) e Estela (Cléo Pires), da novela Araguaia, enfrentam mais obstáculos, tanto juntos como separados. "O exemplo de Araguaia é emocionalmente impactante. O púsblico espera que eles ultrapassem esses obstáculos para enfim selar o amor. A ancestralidade que envolve o amor de Solano e Estela é para ser registrada como um dos temas mais interessantes da teledramaturgia mundial", frisa o doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana Mauro Alencar.
No início, o enredo indicava que Solano ficaria com Manuela (Milena Toscano) e Estela seria a antagonista do casal. Mas, pela empatia gerada pelos personagens de Cléo e Murilo no público, decidiu-se que à protagonista seria dado outro destino.

POR TRÁS
Para Mauro Alencar, a tendência é que seja ampliado o retrato das nuances da faceta de cada personagem e dos seus enigmas amorosos. "Os modos de amar foram se transformando com o passar do tempo, acompanhando as mudanças sociais, ainda que a base da dramaturgia seja sempre a mesma: a busca de nosso lado oculto", explica o especialista.
Clara, de Mariana Ximenes na novela Passione, é exemplo de personagem que mostra essa obscuridade, um retrato mais consistente da diversidade humana. A mocinha passa a ser ousada, dissimulada, vingativa e apaixonante, vivendo sua história de amor de maneiras diferentes. Suas ações foram fortes e quase não deixaram espaço para outros personagens.
Mayer lembra que a dramaturga Maria Adelaide Amaral traz a contemporaneidade para a dramaturgia, fazendo com que os temas se diversifiquem na novela, assim como na vida real.
O amor, por mais que aparentemente tenha ficado de lado na relação entre os protagonistas, ainda é o objeto principal de qualquer novela. "Os pares românticos, desde o teatro da Antiga Grécia, são personagens fundamentais que complementam a busca do espectador pelo amor e afeto, necessários à vivência", conta Alencar. E ele continua a germinar e fazer brotar empatia. Se não pelos protagonistas, pelas tramas paralelas.




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