Poucas palavras, sintonia musical à toda prova e admiração expressa em cada gesto. Assim poderia ser descrita a parceria entre o violonista gaúcho Yamandu Costa, 29 anos, e o sanfoneiro pernambucano Dominguinhos, 68.

Gravado pela TV Cultura no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, o DVD Especial Yamandu + Dominguinhos (Biscoito Fino, R$ 42, em média) exemplifica isso e baseia-se no CD lançado pela dupla em 2007.

Como se estivessem em uma jam entre amigos, os instrumentistas exibem a mesma desenvoltura em temas líricos, como João e Maria, de Chico Buarque, e forrós empolgantes como Feira de Mangaio, de Sivuca e Glorinha Gadelha. Há outras interpretações envolventes, como na dobradinha formada por Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e Prenda Minha, do folclore do Rio Grande do Sul.

Cada nota soa natural, sem exibições desnecessárias de virtuosismo. "Tocar com o Domingos é um aprendizado muito grande porque o instrumento é uma extensão do corpo dele. Você aprende a colocar a música em primeiro plano", afirma Yamandu, que dividiu os holofotes com o parceiro pela primeira vez aos 15 anos, durante passagem do sanfoneiro por Porto Alegre.

Mesmo quem conhece a técnica exuberante do violonista - ágil e preciso ao dedilhar acordes e arpejos - fica impressionado ao assistir à maturidade e ao refinamento dele no vídeo.

"O Yamandu tocava aquelas coisas rápidas e eu tinha de correr também. Foi uma briga de gato e rato", brinca Dominguinhos, que não economiza elogios ao companheiro.

SEM ENSAIO - Em momento incomum em sua trajetória profissional, Yamandu enfrenta o desafio de cantar (e passa no teste com louvor), no clássico dos pampas Negrinho do Pastoreio). Ele revela que não precisou compor arranjos para as músicas, nem teve trabalho algum para estruturar o set list do espetáculo. "O Dominguinhos não gosta muito de ensaiar, eu também não", comenta.

O sanfoneiro confirma: "Não teve escolha nenhuma, nenhum segredo. Nós conversamos no camarim e dissemos: ‘Vamos tocar isso, mais isso, mais aquilo e acabou-se", relembra, aos risos.

Empolgados com o resultado, os dois gravaram outro disco, que deve seguir a orientação do primeiro álbum: clássicos da MPB, sustentados por ritmos nordestinos e gaúchos. O álbum chega às lojas somente em 2010.