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Para lutar precisa estudar; entenda o que é o kata

Quem quer ir bem no judô e em outras artes marciais, tem de saber as técnicas e sequências.

Por Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
10/11/2013 | 07:00
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Quem vê os judocas em ação, às vezes, não imagina o quanto precisam treinar para fazer os golpes com perfeição. Mais do que ter agilidade, concentração e força, primeiro de tudo devem entender as técnicas. Para facilitar o aprendizado, Jigoro Kano – fundador da arte marcial judô – criou o kata, método de estudo especial.

Certa vez, ele disse que o kata era como aprender gramática e a luta do judô (ou randori) era como a prática da escrita. Para escrever uma redação é essencial saber gramática, ou seja, para lutar bem é necessário saber o kata. “A gente treina para os golpes do judô ficarem melhores”, diz João Vitor de Lima, 8 anos, de São Caetano. Ele faz o nague-no-kata (formas de derrubar padronizadas) há 4 anos.

O termo kata significa ‘forma’. Existem oito deles, sendo que sete ainda são praticados e apenas cinco têm nível de competição (saiba mais nessa página). Foram ensinados na primeira escola de judô do mundo, a Kodokan, em 1882. Desde então, os katas são repassados da mesma maneira em todos os lugares do planeta. São praticados em duplas, que treinam as técnicas e depois são exibidas em competições, exames de graduação e demonstração em eventos.

Felipe Lessa Keney, 10, de São Caetano, já participou de alguns campeonatos e ficou um pouco nervoso. “É como se fosse uma prova, mas meu companheiro me acalmou e depois foi tudo bem.” Gustavo de Camargo, 10, de Santo André, conta que eles precisam estudar muito para mandar bem. “É cansativo e dá trabalho, mas eu gosto.” O legal é que nas competições os participantes ganham notas e todos saem vencedores, já que não há um oponente propriamente dito.

Mais do que trabalhar a paciência e, de quebra, o reflexo e o raciocínio, o kata faz com que o judoca fique disciplinado e responsável, porque quem já sabe os katas precisa ajudar quem ainda não consegue executá-los sozinho. “Nós também temos de observar os outros judocas fazendo”, conta Nicolas Leonel, 10, de Santo André. Além disso, para fazer o kata é preciso sempre que um da dupla caia, enquanto o outro derruba, ensinando a ter humildade.

 

Como é em outras artes marciais? - No caratê, assim como no judô, um dos objetivos do kata é dar a chance do praticante aprender mais sobre a arte (a sua essência), ensiná-lo a ter experiência de luta e prepará-lo para um possível combate real. Dizem que é preciso sentir o kata. Em cada um, estão técnicas que foram passadas por grandes mestres ao longo dos tempos.

Os katas do caratê, por exemplo, podem ser feitos individualmente e com outros caratecas. Também há competições internacionais, em que são avaliados como os atletas dão os golpes.

Há katas no aikidô, em que não é necessário treinar de forma agarrada ao parceiro. Os lutadores podem, ou não, usar objetos como um pau de madeira. No kabudô, conjunto de artes marciais tradicionais japonesas, o kata também é praticado.

 

Mesmas técnicas são praticadas no mundo - Os katas são divididos de acordo com as habilidades e técnicas do judô a serem ensinadas pelo sensei (mestre). São oito katas, ensinadas e aprendidas em todo lugar.

Nague-no-kata: formas de projeção (de derrubar o oponente).

Katame-no-kata: domínio no solo.

Kime-no-kata: formas de combate real.

Ju-no-kata: é a técnica do ataque e defesa.

Koshiki-no-kata: feito com armadura de samurai.

Kodokan goshin-jutsu: técnicas de autodefesa.

Itsutsu-no-kata: teoria baseada na natureza.

Seiryoku-zenko-kokumin-taiiku-no-kata: visa o treino completo do corpo (não é mais praticada).

 

Como se fosse uma coreografia - A capoeira – expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, esporte e música – é diferente do judô, mas também tem técnica e sequências de treinamento. “A capoeira é mais rápida do que o judô, mas os dois são legais”, conta Nicolas de Nicolai, 8 anos, que pratica as duas artes.

Os capoeiristas aprendem a dar golpes e a fazer movimentos ágeis, usando, entre outros, chutes, rasteiras e acrobacias. O objetivo, em geral, não é simplesmente atingir o oponente com golpes e rasteiras, mas sim jogar com os movimentos, como se fossem perguntas e respostas, em que não há vencedores ou perdedores. “Ficamos na roda esperando nossa vez”, diz Julia de Nicolai, 6. “Não pode ter medo de entrar”, completa Kauã Garcia, 6.

Sabendo que os golpes são fortes, os capoeiristas treinam e praticam as técnicas como se fosse uma coreografia antes de entrar na roda para jogar. Prestam atenção para que não ocorra nenhum acidente, como uma pezada sem querer, por exemplo. “Precisa ter muito reflexo”, explica Lívia Rodrigues, 8.

A capoeira foi desenvolvida no Brasil, principalmente por descendentes de escravos africanos. Mais do que golpes, os jogadores precisam mandar bem em musicalidade. Um bom lutador sabe tocar instrumentos (como o berimbau), cantar e gingar. “Além dos golpes, aprendemos a ter disciplina, educação e respeito”, conclui Pedro de Souza Silva, 11.

 

Saiba mais:

> As artes marciais têm o objetivo de desenvolver o corpo, a mente e a espiritualidade ao mesmo tempo.

> Se os katas forem bem executados e aprovados pelo sensei ou mestre, o praticante passa no teste e ganha faixa de outra cor.

> Nenhuma arte marcial ensina a brigar. Muita gente pensa que ao praticá-las fica-se violento, mas todas exigem respeito.

 

Consultoria do sensei Wagner Vettorazzi, que ensina o kata no ADC General Mortors, Alvi Celeste e AD São Caetano, e de Marcelo de Souza Silva (mestre Magoo), do grupo de capoeira Angolinha, de São Bernardo (www.capoeiraangolinha.com.br).




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