Angelina Jolie está irreconhecível em O Preço da Coragem, filme de Michael Winterbottom que esteve na Mostra Internacional de São Paulo e que chega hoje apenas às salas de cinema de São Paulo.

Irreconhecível porque dos elementos do seu sex appeal costumeiro só ficaram os lábios fartos. Os cabelos lisos e longos ganharam um aplique de coque cacheado e os olhos claros foram cobertos por lentes escuras.

Irreconhecível também porque na triste história do casal de jornalistas Mariane e Daniel Pearl (decapitado no Paquistão enquanto cobria o pós 11 de setembro) não sobrou nada daquele olhar louco que ela costuma lançar, não importa o papel.

No drama, ela dá vida à viúva, que à época do seqüestro de Danny, como era conhecido o repórter norte-americano, estava grávida de cinco meses.

Ela trabalhava para a rádio France Internationale enquanto o marido era correspondente do Wall Street Journal. Em janeiro de 2002, quando ele foi levado por terroristas, eles estavam prontos para ir para casa.

Mas Pearl queria fazer uma entrevista com o xeque Gilani. Acabou por cair numa armadilha imposta por terroristas paquistaneses envolvidos nos atentados ao World Trade Center. A suspeita é de que ele teria sido um alvo por ser judeu.

O filme mostra a luta e a força dessa mulher, que não entregou os pontos mesmo depois de saber que a morte do marido havia sido filmada. Sem discurso revanchista, escreveu logo depois o livro A Mighty Heart, que deu origem ao filme que tem na produção o marido de Angelina, Brad Pitt.

A atriz coloca as vísceras a serviço do papel. O maior exemplo é a seqüência em que recebe a notícia da morte de Daniel. O grito, chocante, parece durar duas horas, tamanha a intensidade da cena.

Apesar de tudo, nada de melodrama. O filme todo parece seguir o estilo de Mariane, que, à época dos acontecimentos, recusou-se a posar de vítima frente às câmeras.