Ainda bem que, entre 12 faixas, haja só um vexame escancarado. Lobão está ridículo cantando Chorando no Campo, fazendo um “oooooo” completamente chocho, desafinando quase o tempo todo. Incrível que ele seja um dos autores deste samba-choro. Até que letra e música não são ruins: o que dá dó mesmo é a cantoria de Lobão.
Uma ruim para 11 ótimas, em todo caso, é uma goleada do lado bom. Por isso, esqueça e pule a faixa do Lobão, e curta as demais. É maravilhoso saborear alguns dos mais talentosos chorões brasileiros em ação – e com a mesma verve e criatividade que demonstravam quando Jacob do Bandolim os liderava, décadas atrás.
Nomes como Dino 7 Cordas, Jorginho do Pandeiro, César Faria e os mais jovens Ronaldo do Bandolim e Jorge Filho, não só impõem respeito pelo modo como divulgam o choro em todas as suas nuances, mas são capazes também de admiráveis performances, como as que abrem e fecham este CD. Na primeira ponta, o célebre Canta Brasil, de Alcir Pires Vermelho e David Nasser, em leitura impecável do Época de Ouro, coadjuvado por outro grupo instrumental de responsa: Nó em Pingo D’água. No fechamento, um arranjo primoroso da música porta-bandeira da bossa nova, Desafinado, com direito a deliciosos baixos de violões.
Entre uma e outra, músicas e interpretações contagiantes. Até Elba Ramalho consegue cantar com certo jeito o samba-canção Nova Ilusão, de Claudionor Cruz e Pedro Caetano (o vibrato na voz, claro, é de doer). Zeca Pagodinho, soberano, encara o samba O Bom Jesus, assinado por duas feras do Época, Dino 7 Cordas e Jorge Rocha, em bom arranjo de Dininho, o Dino filho. E o Moska, que eu não conhecia, mas é artista contratado da EMI, canta direitinho outro samba-canção no qual Dino 7 Cordas e Augusto Mesquita puseram atrevidamente o título Insensatez (não tem nada a ver com a música de Tom Jobim, mas é igualmente excelente).
Ainda na ala do pessoal de qualidade, Ney Matogrosso rememora os anos 20 com a valsa Ana Carolina, de Jorginho do Pandeiro e Paulo César Pinheiro. Letra bonita, interpretação irretocável de Ney, acompanhado apenas de violões e o violino de Nicolas Krassik. Boa também a interpretação de Ivan Lins para o samba-canção que compôs com letra de Aldir Blanc, Cegos de Luz, em ótimo arranjo de Cristóvão Bastos.
Duas das mais belas faixas do CD ficam por conta de Beth Carvalho e Moraes Moreira. Velha amiga dos chorões do Época de Ouro, Beth comove no samba médio Aperto de Mão, de Horondino Silva (o Dino 7 Cordas), Jaime Florence e Augusto Mesquita. E Moraes ajusta-se como uma luva ao Época de Ouro, com seu violão e voz, no choro de sua autoria O Bandolim de Jacob, um tributo ao fundador do conjunto.
Entre os instrumentistas convidados, shows à parte, a começar de Bastos, notavelmente simples e eficiente ao piano elétrico em Uma Farra na Ilha, uma parceria do pianista com Jorginho do Pandeiro do Época de Ouro. Simplicidade e eficiência também marcam a participação de Sivuca ao acordeom: é incrível, mas ele parece melhor quanto mais velho fica. Confira no choro Dino Pintando o Sete, de sua autoria.
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