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Outra testemunha aponta Campelo como torturador
Por Do Diário do Grande ABC
19/06/1999 | 15:02
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Quando viu o rosto do delegado Joao Batista Campelo na televisao, o lavrador José Ferreira da Silva, 61 anos, nao titubeou. ``É esse mesmo o homem do terror. Quem bate logo se esquece, mas quem apanha sempre se lembra', disse ele na sala de chao de cimento de sua casa modesta, em Urbano Santos, a 300 quilômetros de Sao Luis, trazendo à memória o dia de 1970 em que Campelo, entao delegado da Polícia Federal no Maranhao, encostou o cano do 38 na sua cara e ameaçou atirar. ``Ele disse que eu era comunista, me apontou o revólver e ameaçou de me tirar o tampo da cabeça', contou. ``Eu disse: Doutor, o senhor é que sabe, mas sou de tudo inocente'.

A mesma disposiçao foi demonstrada por 10 outros urbano-santenses remanescentes das comunidades de base criadas no município no final da década de 60, pelos padres José Antônio Monteiro e Xavier de Maepou, presos pela equipe de Campelo em setembro de 1970, e atualmente seus denunciantes pelo crime de tortura - que o delegado continua a negar, mas que o levaram a se afastar da direçao da Polícia Federal três dias depois de empossado.

Eram 45 famílias, nas comunidades de Baixo Grande (criada em 18 de outubro de 69) e Olho D'Agua (em 28 de dezembro de 69). ``Nenhuma escapou da perseguiçao', disse Florêncio Vera Bastos, o Flor, de 58 anos. ``Eu fui obrigado a transportar um pedaço de trilho de 70 quilos na garupa de uma bicicleta, suadinho de fazer dó'. O trilho era usado como sino nas reunioes da comunidade - ``mas eles achavam que servia de sinal pros padres chamarem os comunistas'.

José Pereira Dutra, o Zé Cortes, de 65 anos, foi preso seis vezes, ora levado para a PF em Sao Luis, ora para a delegacia de Polícia de Urbano Santos. O objetivo da equipe de Campelo era conseguir depoimentos que incriminassem os padres. Zé Cortes conta que também teve um 38 apontado pra cabeça na delegacia de Urbano Santos. ``O senhor sabe o que é medo, do puro? Pois foi isso que a gente sofreu', afirmou. Ele também reconheceu a fotografia de Campelo: ``Ele era o comandante das ameaças'.

Em 1969, quando o padre José Antônio Monteiro chegou a Urbano Santos, a cidade era ``quase uma aldeia', para usar a expressao de Zé Martins. Atualmente, segundo dados do Projeto Comunidade Solidária, a taxa de indigência é de 48,63% da populaçao de 21 mil habitantes, ou 2.071 famílias.

``Se hoje está desse jeito, imagine naquela época', disse José Luiz Aguiar, o Zé Branco, 51 anos, outro que passou pelo aperto. Ele era o sacristao da igreja do padre Nonteiro - e assistiu a invasao da Casa Paroquial. ``Eles foram invadindo tudo, arrombando os arquivos e o quarto do padre, deitando fora tudo que era papel', lembrou Zé Branco.




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