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1/3 dos alunos não acessam internet
Por Fabio Leite
Especial para o Diário
21/11/2005 | 08:08
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O acesso à internet, ferramenta fundamental para a promoção da inclusão digital, ainda está longe de compor a rotina de estudos de um terço dos alunos da rede pública de ensino no Grande ABC. Segundo dados levantados junto às sete prefeituras e à Secretaria do Estado da Educação, cerca de 155 mil estudantes entre 7 e 18 anos estão alheios a uma das principais fontes de pesquisa da atualidade. Eles estudam, não por opção, nas 29% das escolas de ensinos fundamental e médio da região que não têm computadores conectados à rede.

Os excluídos digitais, que, segundo especialistas, compreendem todos aqueles que não têm acesso ao computador e à internet, figuram em maior quantidade entre as 352 escolas estaduais na região (32%) em comparação com os 28% dos 128 colégios de ensino fundamental sustentados pelos municípios. Contudo, mesmo sendo elevada, a porcentagem é inferior à média de todo o Estado (46,3%). Entre as que nem laboratórios de informática possuem, figuram 87 escolas.

De acordo com a Secretaria do Estado da Educação, a meta é que, até o fim deste ano, 100% das escolas estejam equipadas com laboratórios de informática. Quanto à internet, somente em 2006 todos os computadores devem estar conectados ao sistema banda larga, que, somado a capacitação de professores, já consumiu R$ 243 milhões dos cofres públicos.

“Isso vai demandar um certo tempo porque nem todas as escolas estão em condições de receber a sala. Já a internet, o programa Intragov teve licitação vencida pela Telefônica e está sendo instalado aos poucos”, assegura o diretor de tecnologia da informação da Fundação para o Desenvolvimento da Educação, órgão ligado à administração pública, Milton Leme.

Concorrência – Na fila de espera, já com laboratório com 12 PCs em funcionamento, estão os cerca de 2,4 mil alunos entre a 5ª série e o ensino médio da Escola Estadual Antonieta Borges Alves, na Vila Conceição, em Diadema, uma das 113 desconectadas do mundo virtual. Embora prefiram as aulas nas salas de informática – os alunos chegam a disputar assento em frente as máquinas – meninos e meninas dizem sentir falta do acesso à rede.

“Gostaria que tivesse internet pra gente poder fazer os trabalhos da escola”, comenta a estudante da 6ª série Jessica Graziele dos Santos, 12 anos. “Se tivesse internet a gente poderia pesquisar mais e jogar outros jogos”, completa o colega de classe Hudson Ramon Ferreira, 13 anos.

As aulas de informática ocorrem uma vez por semana para cada uma das 50 turmas e também auxiliam no reforço escolar por meio do programa pedagógico Trilhas de Letras e Números em Ação, voltado para o ensino de português e matemática. “É mais divertido. A gente aprende mais fácil”, revela a estudante Keith Marescalchi, 12 anos. Nos fins de semana, o laboratório da escola fica à disposição da comunidade por meio dos programas Escola da Família e Escola da Juventude.

Situação mais grave pode ser flagrada na Escola Estadual Neusa Marçal, no bairro Assunção, em São Bernardo, onde, segundo os alunos, os três computadores ficam inacessíveis. Para fazer pesquisa para trabalhos escolares, os estudantes precisam agendar um horário aos sábados. “A sala fica fechada. Nunca usei. Para usar tem de avisar com antecedência e agendar para o sábado”, diz o aluno da 7ª série Guilherme Santos de Paulo, 13 anos.

A Secretaria do Estado da Educação informou que a escola recebeu em 1997 cinco computadores e que, por se tornarem obsoletos, vai adequar a sala de informática e substituí-los até o fim deste ano por cinco equipamentos novos. Sobre o fato de a sala ficar fechada ao longo da semana, a secretaria respondeu que a orientação é que “as salas ambientes garantam o acesso aos alunos”.

Já no ensino fundamental da rede municipal (1ª a 4ª séries), Santo André é a cidade que mais registra excluídos digitais. Das 39 escolas existentes, apenas dez proporcionam a navegação online aos alunos. Na outra extremidade aparece São Caetano, onde todas as três escolas municipais estão conectadas à rede. São Bernardo, que municipalizou o maior número de escolas da região, mantém 79% das 72 instituições com condições de contatar a internet.

Atraso – A exclusão digital remete os alunos da rede pública de ensino a um atraso incomensurável se confrontados com estudantes do ensino público de outros países ou até mesmo de alguns colégios particulares da região. Enquanto os alunos do Estado têm o primeiro contato com o computador a partir dos 10 anos, quando têm, no Colégio Singular, por exemplo, que é particular, as crianças visitam o laboratório antes mesmo de completarem dois anos de idade.

“Elas desenvolvem coordenação motora, aprendem as cores, reconhecem os animais e objetos por meio do computador, que é a ferramenta que irá acompanhá-los pelo resto da vida”, conta o professor e coordenador de tecnologia da instituição, Eduardo Zamborlin. Segundo ele, as escolas que não levarem a informática a sério se tornarão obsoletas. “Hoje tudo é feito pela internet. Se o aluno não estiver preparado, será um excluído do mundo”.

Prática – Com o olhar compenetrado na lousa virtual, projetada por um aparelho chamado Mimo e pelo Datashow, a aluna Jenifer Santos, 10 anos, apressa-se para vencer uma das fases do jogo de raciocínio lógico. O domínio do computador é visível. Não por menos. “Mexo desde a 1ª série. Com cinco anos já sabia mexer no Paint (programa do Windows). Também ajudo meus pais a fazerem planilhas”, conta.

A agilidade de Jenifer só é suplantada pelo colega Felipe Gitti Silva, 10. Como se fosse uma competição, o garoto vibra ao superar a mais difícil de todas as fases depois de algumas tentativas. “Aqui a gente aprende a pesquisar melhor e também a desenvolver o conhecimento não só sobre informática”, conta.




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