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Bárbara Paz agarra seu grande papel
Por Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
22/09/2009 | 07:00
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Divulgação


De todos os conflitos que plantou na sua Viver a Vida, novela das 8 que estreou na semana passada na Globo, Manoel Carlos aposta boa parte das fichas na história de Renata, interpretada por Bárbara Paz. E apenas a história dela já daria uma novela inteira: aspirante a atriz ou modelo (o que aparecer primeiro), meio perdida e com baixa estima acentuada, ela está habituada a substituir a comida pelo álcool. Criada numa casa onde o consumo de álcool era tratado com naturalidade, ela vive dois palmos acima do chão, tentando não perceber que seu namorado é apaixonado pela namorada do irmão gêmeo. Personagens que têm relação conturbada com a bebida são uma constante nas novelas de Manoel Carlos. Desta vez, o distúrbio que movimenta a trama é o que se tem chamado de drunkorexia, uma espécie de moda em Hollywood, com ‘adeptas' como Kristen Dunst e Lindsay Lohan. É o primeiro papel de Bárbara numa novela da Globo. Sem fazer charme, ela admite que esperou muito pela chance na emissora que demorou tanto a aparecer por sua imagem ter ficado ligada à Casa dos Artistas, do SBT, do qual saiu vencedora em 2001. Oportunidade de ganhar dinheiro num primeiro momento, o reality show acabou criando obstáculos na carreira da atriz, só vencidos depois que ela resolveu se retirar da TV e investir em trabalhos no teatro. Lá obteve o respeito necessário para apagar a imagem de protagonista de novelas mexicanas. Foi mais uma grande virada na vida. A outra, aconteceu há 17 anos. Recém chegada a São Paulo, vinda da pequena Campo Bom (RS) para seguir a carreira de modelo e estudar teatro, com apenas 17 anos, ela sofreu um acidente de carro que lhe deixou marcas no rosto. Portas foram fechadas, ela conta. "Fui uma pessoa que me superei a vida toda. Por isso, quando me chamaram para a novela e eu vi que o tema seria superação, pensei que só pode ser mesmo o destino."

Quando saiu da Casa dos Artistas, você participou de adaptações de novelas mexicanas no SBT. Depois, resolveu ficar fora da TV. Você achou que seria bom descansar a imagem?

BÁRBARA PAZ - Não foi só para descansar minha imagem, mas eu mesma precisava descansar. Saí do reality show para a novela mexicana (Marisol). Nunca tinha feito novela, e gravava 35 cenas por dia. Não tinha noção, não tinha ninguém lá para me dizer como fazer. Foi tudo muito over. Não estava feliz. Depois de um ano, não sabia mais como lidar com tudo aquilo. Daí, o (Eduardo) Tolentino me mandou o texto do Oscar Wilde (A Importância de Ser Fiel) e disse ‘Bárbara, vamos estrear em outubro, leia'. Não tive dúvida, e comecei a ensaiar e resolvi ficar no teatro. Voltei para o meu mundo, e o meio teatral me respeitou. Foi uma fase muito feliz, nestes três anos fiz sete peças. Continuo com meus projetos: comprei os direitos do Hell (livro da francesa Lolita Pille) e quando a novela acabar, volto para o teatro.Fiquei três anos fora da TV, até que aparecesse um convite bom. Agora, estou no lugar onde todo mundo quer chegar, ainda mais numa novela das 8 e, melhor, do Manoel Carlos. É um grande momento para mim.

Sua personagem é drunkoréxica, algo pouco conhecido. Como tem sido a construção dela?

BÁRBARA PAZ - Nunca tinha ouvido falar na doença. Fui a um psicanalista, mas existem especialistas porque a drunkorexia não é um termo médico - existe a anorexia e o alcoolismo, separados. Nos Estados Unidos tem clínicas especializadas, aonde as celebridades que sofrem disso vão. Fui a um grupo de ajuda no Hospital das Clínicas, e conheci algumas meninas que sofrem disso. E prestei muita atenção em gente muito próxima de mim, que é muito magra e não se alimenta, por isso, quando bebe fica alteradíssima. Já ouvi muita gente dizer ‘sou drunkorexica', como se fosse bom.

É quase uma moda.

BÁRBARA PAZ - É sim. Vi filmes, procurei referências, mas tudo está dentro de mim. Já fui adolescente, já tomei os meus porres, sei como é isso. O ator busca o que está dentro dele. Encontrei com a (atriz) Sandra Corvelone e falei sobre o papel. Ela foi ler o texto comigo e falou "mas Bárbara, essa é você!". Num certo sentido, ela é bem parecida comigo: quer ser atriz, anda no mundo da moda, mas faz testes e não consegue nenhum trabalho.

Daí, ela torna-se alcoólatra.

BÁRBARA PAZ - Eu estava conversando isso com o Maneco: a Renata não é exatamente uma alcoólatra. As pessoas perguntam se ela vai ser uma Heleninha Roitman (personagem de Renata Sorrah na novela Vale Tudo, em 1988), mas é diferente. Ela sofre de distúrbios alimentares, não é uma bêbada de botequim. Ela nem bebe tanto assim, mas substitui o alimento pelo álcool. Espero que eu tenha cenas tão boas quanto as da Renata Sorrah, mas não é a mesma coisa.

Bêbado é um dos papéis mais difíceis de fazer. Como tem se preparado para as cenas?

BÁRBARA PAZ - É, corre o risco de ficar over. Converso muito isso com o Jayme (Monjardim) e o Fabrício (Mamberti), os diretores da novela, porque a ideia é que ela não vire uma bêbada de botequim. Ela fica alterada, passa mal.

No turbilhão da saída da Casa dos Artistas, você chegou a duvidar da vocação de atriz?

BÁRBARA PAZ - Da minha vocação, não. Mas tinha dúvidas se seria aceita, se conseguiria trabalhar com bons atores e diretores. Tinha essa dúvida na televisão também. A Nathália Timberg me dizia ‘Bárbara, fica tranquila. Eu cometi O Direito de Nascer (1964)'. Não foi fácil fazer aquilo, foi o maior sucesso, mas...

Certos papéis marcam para a vida toda.

BÁRBARA PAZ - Sabe o que acontece? E eu ainda não fiz um personagem capaz de apagar a Bárbara Paz da Casa dos Artistas. Quem sabe a hora não chegou agora.




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