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Ainda a Dengue

A dengue se arrasta há duas décadas no Estado de São Paulo e não há sinais de que tenha sido controlada ou involuído

Wilson Marini
31/03/2011 | 00:00
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A dengue se arrasta há duas décadas no Estado de São Paulo e não há sinais de que tenha sido controlada ou involuído, ao contrário, tudo aponta para um quadro ainda mais grave, ainda mais agora com o avanço da dengue do tipo 4 em outras regiões do País. Antes de se buscar responsáveis, é preciso ponderar que o desmatamento e outros fatores ambientais, como o excesso de chuvas, colaboram para a proliferação do mosquito. E que não é possível fechar as fronteiras à circulação do Aedes aegypti. Feitas as ressalvas, cabe perguntar se o Estado e os municípios foram eficientes nas últimas campanhas de combate e conscientização. Os números até agora em 2011 não são satisfatórios, e acenam para uma temporada com índices altos de infestação, novamente. Nos últimos dois anos, a dengue chegou ao ápice em São Paulo com números elevadíssimos na maioria dos municípios, e de forma escandalosa particularmente no Litoral e regiões mais quentes do Interior, como São José do Rio Preto, Ribeirão Preto e Araçatuba. Perdeu-se a conta na contagem dos registros de casos. Foram milhares de ocorrências, que somadas aos milhares verificados em anos anteriores, tornam a maioria da população dessas cidades contaminada por pelo menos um sorotipo do vírus. O problema para o futuro é que a pessoa infectada por um segundo sorotipo tem ampliada a chance de contrair dengue hemorrágica, segundo especialistas. O que fazer, agora? ALERTA Os primeiros avisos já foram dados, em pleno mês de março. Somente Sorocaba já registrou 325 casos de dengue neste ano, comprovados. É apenas uma amostra num cenário em que ninguém está livre do mosquito. Autoridades da maioria dos polos regionais estão preocupadas com a evolução. O Jornal da Cidade publicou “alerta geral” na manchete de terça-feira: “Bauru chega a mil casos de dengue: todo cuidado é pouco!”. Nos primeiros dois meses deste ano, o Brasil registrou 155.613 casos da doença, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde. A dengue avança no País que se prepara para ‘fazer bonito’ aos olhos do mundo com os dois megaeventos esportivos de 2014 e 2016. Se não controlar a dengue agora, como será a situação nos próximos anos? Os sucessivos recordes da epidemia traçam um panorama sombrio de Saúde Pública que poderá ter consequências ainda piores no próximo verão, se medidas coordenadas e inteligentes não forem tomadas agora em nossas cidades. CHUVAS Agora que as águas baixaram um pouco, e o inverno se aproxima, cabe aos prefeitos e responsáveis pela Defesa Civil no Estado se prepararem para as chuvas do próximo verão. Cientistas alertam que os próximos anos continuarão sendo extremamente chuvosos em nossas regiões, de novo mais que a média histórica, por conta de alterações atmosféricas como efeito do desmatamento na Amazônia. Já existe tecnologia disponível para se identificar os pontos críticos onde, atingindo-se determinados níveis de infiltração no solo, é possível se saber com antecipação a probabilidade de desmoronamento, enchente ou outro tipo de desastre ambiental. É hora, com a seca, de mapear essas áreas em cada um dos municípios, especialmente aqueles conhecidamente mais vulneráveis, e tomar já as providências, como a remoção gerenciada pelo poder público de famílias potencialmente vítimas das chuvas. Prevenir é melhor que remediar, diz o velho ditado. Infelizmente, não tem sido assim em relação a esse assunto. É mais fácil culpar São Pedro e, mais recentemente, o aquecimento global. Quem imaginar que seja este um ano “atípico”, como aliás autoridades estaduais disseram também por ocasião das chuvas de 2010, poderão se surpreender mais uma vez em 2012. As mudanças climáticas vieram para ficar. Não se trata de temer nem fazer terrorismo com a possibilidade de catástrofes, mas de gerenciar o risco. Existe tecnologia e recursos para isso na estrutura do próprio Estado. O que falta é coordená-los, botar em ação. As consequências das chuvas serão potencializadas se ações preventivas coordenadas entre órgãos do governo e a população não forem traçadas de imedito para corrigir os erros do passado em relação à ocupação do solo. A hora é agora. Do contrário, continuaremos a assistir a tragédias anunciadas.



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