Setecidades Titulo Pandemia
Isolamento cai e Doria critica comportamento

Governador lembrou que quarentena ainda está em vigência; na região, confinamento foi de 58% para 39%

Por Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
01/09/2020 | 00:01
Compartilhar notícia


O fim de semana de sol forte comprovou na prática o que os números já vinham apontando. Mesmo com a quarentena ainda em vigor no Estado de São Paulo, o isolamento físico vem caindo drasticamente desde que o governador João Doria (PSDB) iniciou as fases do Plano São Paulo, programa que normatiza a flexibilização no funcionamento de comércios e serviços. O confinamento registrado na sexta-feira, dia 28, foi de apenas 39% no Grande ABC, bem diferente dos 58% computados na sexta-feira, dia 10 de abril, no início da quarentena.

Os dados são de monitoramento realizado pelo governo do Estado com base no sinal dos aparelhos de celular. A maior mudança aconteceu em Ribeirão Pires, que chegou a ser considerada exemplo de isolamento no Estado. Em abril, 70% da população estava confinada, já na sexta-feira eram apenas 40%. Outra cidade com queda brusca foi Diadema, que passou de 61% para 36%.

Os números se refletem na prática. É cada vez mais comum observar trânsito de veículos, principalmente na região de centros comerciais, além de bares e restaurantes lotados. Mas o que tomou boa parte do tempo da entrevista coletiva de ontem, concedida por Doria no Palácio dos Bandeirantes, foi a presença de turistas nas praias do Litoral. Segundo a Ecovias, concessionária responsável pelo SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), 202,8 veículos desceram para o Litoral entre sexta-feira e domingo, movimento superior ao registrado no feriado de 7 de setembro de 2019, quando 187 mil carros seguiram com destino à Baixada.

“Estamos em quarentena, quero deixar isso bem claro”, afirmou o governardor. “Todos observaram neste fim de semana número impressionante de pessoas no Litoral de São Paulo, se aglomerando, sem máscara, de forma inadequada e perigosa. As rodovias tiveram seguidos congestionamentos como se nada estivesse acontecendo”, criticou Doria, lembrando que o próximo fim de semana será de feriado prolongado, já que na segunda-feira é 7 de setembro (Dia da Independência do Brasil).

O governador afirmou ainda que a quarentena seguirá enquanto não houver vacina. “É preciso que as pessoas tenham responsabilidade. Estamos combatendo um vírus muito agressivo, letal. Mais de 30 mil brasileiros de São Paulo não conseguiram se recuperar”, lamentou, lembrando do número de mortes no Estado (leia mais abaixo). Doria pediu para que prefeitos não permitam aglomerações nas praças, avenidas, parques e praias.

De acordo com a psicóloga clínica de Santo André Sandra Monice, à medida em que mais pessoas estão nas ruas, mais se cria ideia ilusória de que o perigo não existe, dando a falsa sensação de segurança e promovendo a migração para a condição de intangíveis. “O indivíduo comum, saudoso de sua condição de partícipe do mundo, acaba por misturar democracia com liberdade, direito com saúde e investe numa ação descuidada, como criança que testa limites, esperando um castigo que acredita que nunca virá”, explica.

A especialista afirma que série de fatores pode contribuir para essa espécie de alienação ao risco de contágio pelo coronavírus. Segundo ela, de um lado há as informações desencontradas, equivocadas e utilizadas a fim de aquecer debates políticos. “Além disso, a classe médica, que deveria ser o fiel da balança, para corroborar o apelo da permanência do isolamento e dos cuidados necessários, também não consegue afinar o discurso”, diz.

Especialista lembra que abuso prejudica pessoas que estejam sendo cuidadosas

Epidemiologista, especialista em dinâmica em transmissão de doenças infecciosas e professora de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Adélia Marçal dos Santos explica que durante todo o período fora de casa as pessoas precisam manter o distanciamento e os cuidados para evitar exposição de si e dos outros.

“Quem circula muito tem mais chance de se contaminar e de levar o vírus para dentro de casa ou para ambientes de trabalho, expondo as pessoas que estão se cuidando mais ou são mais vulneráveis a desenvolverem formas graves da doença”, comentou Adélia.

A especialista reforça que a Covid-19, para ser controlada, depende da solidariedade e do cuidado de uns com os outros. “Não podemos pensar de forma individual – ‘eu já tive, não tem risco, ou eu sou saudável, atleta, não tenho risco de ficar doente grave’”, explica. Segundo a epidemiologista, as pessoas precisam se cuidar não só para si, mas para o outro, que pode ser mais sensível. “A solidariedade é a palavra-chave para o combate à epidemia”, finaliza. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;