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Alta do dólar chega à cesta de compras

Moeda norte-americana influencia em preços de diversos produtos, entre eles, o pãozinho

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
02/03/2020 | 07:00
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DGABC


 A alta do dólar, que acumulou valorização de 4,5% em fevereiro, está no centro da discussão econômica. Impactado principalmente pela disparada de casos confirmados do coronavírus em todo o mundo, o aumento da moeda norte-americana tem causado preocupação em diversos setores. A interferência do cenário vai além de índices como os da bolsa de valores e para quem tem viagem internacional marcada. Chega à cesta de compras da dona de casa. Diversos alimentos, como o pãozinho francês, o frango e o arroz, por exemplo, correm risco iminente de ficar mais caros.

O câmbio pode afetar diretamente ou indiretamente no custo final de um produto. “As commodities (bens classificados como matérias-primas e que têm o preço determinado pela oferta e procura internacional) não possuem diferenciação para o mercado internacional. Então, por exemplo, o açúcar, soja e trigo já sentem efeito direto do câmbio. É bom para o exportador, mas para o consumidor é ruim porque ele vai pagar mais caro”, explicou o engenheiro agrônomo da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) Fábio Vezzá De Benedetto, responsável pela pesquisa da cesta básica na região.

A pressão do dólar alto impacta indiretamente alguns alimentos – exemplo do leite em pó, commodity que influencia a bebida de caixinha, por ser mercadoria semelhante. Há também interferência na cadeia de produção do alimento. “A matéria-prima que está cotada em dólar indiretamente influencia no produto. O preço do boi gordo influencia na carne, assim como a ração desses animais, que também tem influência no frango”, explicou Benedetto.

“Muitos produtos podem ser afetados pelo custo de transporte, por exemplo. Existe toda uma cadeia que o câmbio conecta na nossa economia”, avaliou o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

Esse é o caso do principal alimento do café da manhã da maioria da população: o pão francês. O trigo é uma commodity, ou seja, é cotada em dólar, e a farinha, que é matéria-prima do alimento, tende a aumentar. Padarias da região afirmaram que o insumo está na média 5% mais caro.

De acordo com dados da Craisa, o quilo da farinha ficou 4,77% mais salgado no último mês nas prateleiras dos supermercados na comparação com janeiro, chegando a uma média de R$ 4,17 o quilo. Além do pão (que teve alta de 6,89% no mesmo período, em cotação nos supermercados), doces e biscoitos devem sentir acréscimo nos preços.

As padarias se esforçam para não repassar a alta ao consumidor. “Para manter o preço,nós preferimos diminuir a margem de lucro. A concorrência atualmente está muito forte e o preço é uma das principais questões para o cliente”, contou Ronaldo Vasefe, funcionário da Panificadora Nanci, localizada na Vila Alpina, em Santo André. O estabelecimento vende o quilo do pão a R$ 15,90.

O presidente do Sipan-ABC (Sindicato das Indústrias de Panificação do Grande ABC), Carlos Henriques, o Toninho, disse que o aumento da farinha vem sendo escalonado. “O setor tem algumas padarias que estão com preços mais baixos e, talvez, tenham que reajustar os preços. Outras, talvez, terão mais tempo para fazer isso. Mas, com certeza, os ajustes devem acontecer no pão e em outros produtos da padaria e, infelizmente, os consumidores devem pagar mais caro. O setor não tem tanta gordura para segurar os preços como antes, quando tinha altos estoques”, disse.

OUTROS PRODUTOS
A cesta básica da Craisa, que considera a cotação de 34 itens baseados no consumo de uma família de quatro pessoas, ficou 1,12% mais cara em fevereiro na comparação com janeiro deste ano, totalizando R$ 685,88.O produto que registrou a maior alta foi o ovo (13,22%), chegando a R$ 6,81 a dúzia. Isso aconteceu por causa do aumento da procura pelo encarecimento da carne bovina, que ficou praticamente estável (variação de -0,15%).

Outros produtos já apresentam variação positiva, com possível interferência do dólar, como a farinha de mandioca (5,66%) e o arroz (5,08%). Preços de hortifrúti, como o tomate (11,74%), são impactados pelo clima, que acaba atrapalhando o cultivo.




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