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Paciente que furou a fila de transplantes recebe novo fígado
Adriana Gomes
Do Diário do Grande ABC
02/11/2005 | 07:30
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Eliane Lopes Gimenes, 39 anos, – a paciente que causou polêmica na semana passada ao conseguir liminar na Justiça que garantiu transplante de fígado em desacordo com o critério da ordem cronológica da Saúde Estadual e Federal – passou por retransplante terça-feira, no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital. Ela não havia obtido sucesso no primeiro transplante e desde o final de semana dependia de novo órgão, que finalmente chegou, graças à doação de uma família que perdeu um parente na Vila Alpina, em São Paulo.

Até as 21h de terça-feira, a cirurgia, que começou às 14h30, não havia terminado. "Mas me informaram que a operação transcorria dentro do esperado", disse à reportagem Vagner Lazaro Jimenes, 40, marido de Eliane. Terça-feira, ele contou com uma companhia importante no hospital. O presidente da TransPatica (Associação Brasileira dos Transplantados de Fígado e Portadores de Doenças Hepáticas), Sidnei Nehme, 60, foi prestar solidariedade à família de Eliane, que tem sido criticada por muitos pacientes que aguardam na fila para receber órgãos.

Ela estava na posição de número 635 na fila do Estado, que se baseia principalmente na ordem cronológica, com algumas exceções nas quais Eliane não se enquadraria. No entanto, decisão de uma juíza do 8º Ofício do Fórum de São Bernardo deu à paciente direito de prioridade. "A decisão do Vagner (Jimenes), de recorrer à Justiça, está correta. Nós da associação trabalhamos para que seja modificado esse critério da cronologia. Apenas no Brasil isso permanece. O sistema da gravidade é adotado em todo o mundo", afirma o corretor de câmbio Sidnei Nehme, que já passou por dois transplantes – de fígado e de rim.

Depois da análise da proposta da TransPatica, foi organizado fórum em Brasília no ano passado e o Ministério da Saúde, por meio da Câmara Técnica do Fígado, decidiu pela mudança. No entanto, a efetivação do novo critério – baseada no sistema Meld, um modelo matemático que avalia o resultado de três exames e estabelece ranking de gravidade – depende da implantação de infra-estrutura de informática e outras demandas que têm impossibilitado a revolução tão esperada por parte dos pacientes que esperam anos na fila pelo transplante. "Quem está mais doente na fila sempre morre", diz Nehme. Apenas no Estado de São Paulo, de acordo com a própria Secretaria da Saúde, 455 pacientes de doenças hepáticas morreram aguardando o transplante na fila.

Sidnei Nehme destacou ainda que não é válida a crítica de que a situação financeira supostamente privilegiada da família de Eliane Jimenes teria facilitado a obtenção da liminar. "Muitos advogados fazem esse tipo de trabalho gratuitamente e os pacientes ainda podem recorrer ao sistema público", observou.




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