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Vítima de explosão aguarda indenização
Por Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
10/09/2008 | 07:04
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Tiago Silva/DGABC


Ele estava no subsolo de um dos prédios do Condomínio Barão de Mauá no momento da explosão, em 20 de abril de 2000. Viu seu colega, Geraldo Riviello, acender um isqueiro para enxergar as escadas que levavam à bomba d'água do edifício. Esperou para ver se o fogo seria consumido rapidamente, mas como isso não aconteceu, enfrentou o calor e voltou à superfície, na busca pela sobrevivência. Queimou o rosto, as mãos, o pescoço e os braços. Ficou 40 dias internado no hospital e, assim como a família de Riviello - vítima fatal da explosão - Marcus Vinícius Lazari Ferreira, 28 anos, ainda não foi indenizado pelo Estado.

Marcus aguarda que a Justiça apague parte de seu sofrimento. Durante os últimos oito anos, ele foi submetido a 12 cirurgias. No Hospital das Clínicas, em São Paulo, passou por nove procedimentos estéticos e reparadores e chegou a ouvir do pai que o paciente deitado na cama do hospital não era seu filho.

"Ele não me reconheceu de tão inchado que eu estava. Com a minha mãe aconteceu a mesma coisa. Ela só percebeu que era eu pela voz. Lembro de tudo isso o tempo todo. Não se trata apenas da explosão", diz.

Ferreira havia sido contratado pela empresa da família Riviello e ainda aprendia o trabalho de manutenção de equipamentos elétricos. "Estava com eles há apenas 17 dias. Era meu primeiro emprego depois de cursar escola técnica em Santo André. Naquele dia, fui ajudar o Geraldo no condomínio. Desci antes, para ajudar a equilibrar a bomba. Ele pegou o isqueiro para ver o que tinha acontecido com a lâmpada e logo sua mão começou a pegar fogo", lembra.

Desesperado, Riviello jogou o isqueiro no chão, mas o fogo já havia se alastrado. Quando tentou voltar a superfície, as labaredas formaram um rastro por causa do contato com o oxigênio. "Eu estava lá embaixo e, quando percebi que poderia morrer queimado - ouvia barulho forte de ratos e via a parede ficando escura - resolvi subir. Fechei os olhos, a boca e encarei, na adrenalina de tentar sobreviver."

Naquele momento, Riviello já era socorrido por moradores e policiais que haviam ido até o residencial para registrar um assalto. "Ele estava se arrastando no chão, sem roupa. Ficou tudo queimado. Logo depois, a ambulância me levou para o hospital. Fiquei cinco anos de licença médica. Só de deram alta em 2005", conta.

Durante o período mais crítico, Marcus teve a ajuda de familiares e amigos para pagar as despesas. "Eram remédios muito específicos, caros. Usava uma pomada por dia. Se não fosse por eles não estaria aqui. Preciso fazer esse agradecimento. Perdi minha juventude, não podia mais jogar futebol, andar de bicicleta. Coisa simples, que fazia em turma. Mas eles não saíram do meu lado."

Sem desistir do trabalho, Marcus voltou à ativa e faz treinamento em uma empresa de São Bernardo. Da Justiça, ele espera uma indenização justa - avaliada em cerca de R$ 600 mil. "Fiquei três anos sem ver a cara do sol, com dor de queimadura, que é muito forte."




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