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Grupo de choro comemora aniversário da Refinaria Capuava
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
06/12/2004 | 20:42
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Muitos choros passaram desde a estréia do grupo Bons Momentos, há um ano e meio no Festival de Paranapiacaba, até a apresentação desta terça-feira, às 7h30, na comemoração do aniversário de 50 anos da Refinaria Capuava, em Mauá (avenida Alberto Soares Sampaio, 1.740). No dia 12, será a vez do show de lançamento do primeiro CD instrumental, com 12 músicas como intérpretes e duas composições próprias, às 20h, no saguão do Teatro Municipal de Santo André, com entrada franca. As duas apresentações coroarão o trabalho e a dedicação deste jovem grupo de chorinho formado por seis jovens entre 17 e 21 anos, moradores do Jardim Oratório, em Mauá, quase vizinhos uns dos outros, que escolheram a arte em suas vidas e receberam apoio da Petrobras para exercê-la.

O Bons Momentos já fez shows em teatros públicos no Grande ABC, no Canja com Canja em Santo André e na sede central da Petrobras, no Rio. Os  rapazes de Mauá pegaram clima de palco, se divertem tocando e sabem que não precisam ficar  tensos. A idéia de evolução está contida na trajetória deles, e o grupo reconhece isso. O tal show em Paranapiacaba foi um marco de tudo aquilo que poderia dar errado, e deu. Frio intenso, luz do palco não acendeu, teclado ia num ritmo e o resto em outro, cada um fazia sua parte e, sem concentração, erraram muito. O repertório era simples, pois o grupo estava ainda nos cueiros do aprendizado musical: dois sambas e dois choros. Uma música, no entanto, foi aplaudida.  Naquele Tempo (de Waldyr Azevedo) conquistou parte da platéia, que pediu bis.

Até então, eles não sabiam o que era chorinho. O pai de um deles ganhou um CD na empresa onde trabalhava e lá estava a música. Mostrada para o resto do grupo, foi incorporada pela sua beleza. Depois da apresentação em Paranapiacaba, e da aceitação do público, decidiram pesquisar sobre o choro, descobriram sua originalidade genuinamente nacional, sua importância instrumental na história da música brasileira e perceberam que estavam diante de uma jóia da melodia e harmonia. Eles mesmos mudaram de atitude, perante música, show, palco e platéia. E este amadurecimento começa a ser recompensado.

Hoje, mais bem ensaiados, bem entrosados, sonham com a carreira musical sem esquecer que tudo começou nos intervalos da oficina de grafite, um dos projetos sociais que a Refinaria Capuava desenvolve com as comunidades vizinhas. Entre uma aula e outra, um deles levava seu violão e arranhava as quatro únicas músicas que aprendeu a tocar a partir de revistas cifradas. Cada um pegava alguma coisa para batucar, um dia um trouxe um clarinete de casa, outro, um cavaquinho, e faziam seu som. Quando Bira Azevedo, professor de música do Projeto Tocar, da Refinaria, quis montar um grupo musical que tivesse algumas noções   foi só buscar na oficina de grafite.

“A idéia inicial era criar um grupo para tocar nas instalações da Petrobras, não o tipo de música. A princípio queriam fazer pagode, samba, sertanejo. Falei que assim seriam só mais um grupo, e se íamos fazer música, faríamos com qualidade, para desenvolver senso crítico”, diz Azevedo. De dez integrantes no início, a banda ficou com seis, todos estudantes. Começaram a fazer leituras rítmicas e o chorinho foi gradativamente entrando, conforme pesquisavam. “Hoje, eles selecionam o que vão tocar e não fazem qualquer coisa. Procuram músicas que tenham contexto e alguma complexidade para dar vazão ao talento. Eu só vou aparando arestas, eles nem me ouvem mais como professor, só como amigo”, afirma Azevedo.

“Os melhores talentos saíram do morro, de qualquer morro. Tem gente de bem na favela, mas se não fosse a música estaríamos na contramão, com pessoas erradas enchendo a nossa cabeça. O lugar onde moramos favorece muito, mas queríamos a música porque o sofrimento com as drogas e o tráfico fica com a família”, disse Eric  Santos, 19 anos, que toca pandeiro e tantã.

  Os músicos do Bons Momentos recebem a infra-estrutura da Petrobras para transporte aos ensaios e shows. Ganham instrumentos, almoçam e ensaiam na empresa, que bancou as 4 mil cópias da gravação do primeiro CD. Mas não recebem nenhum salário da Petrobras; por contrato, não podem aceitar cachê nos shows pela empresa; só levam algum dinheiro quando Azevedo agenda shows. Cabe a Petrobras decidir se vai patrocinar o grupo por inteiro ou não.




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