Cultura & Lazer Titulo Crítica
Música que transborda sentimentos

Após farta pesquisa musical, cantora Mônica
Salmaso lança ‘Caipira’ com releituras e inéditas

Vinícius Castelli
02/10/2017 | 07:00
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Reprodução


 Chão batido de terra, casas com muros baixos, gosto de café, cheiro de mato, de roça. Um universo vivido por muitos avôs e avós por aí. É esse o sentimento que desperta logo no começo do passeio sonoro oferecido pela cantora Mônica Salmaso.

Ela apresenta Caipira (Biscoito Fino, R$ 30, em média), seu novo álbum e 11º da discografia. A obra ganha vida ilustrada por 14 temas, resultado de pesquisa que começou a ser feita em 2003. “O que há nestas músicas, de modo geral, é a fala sobre um Brasil do Interior, onde o tempo é outro. A observação tem espaço e a natureza interfere na vida cotidiana de uma forma linda. Fala de um brasileiro que tem sabedoria no modo de viver”, diz a artista ao Diário.

Entre os temas escolhidos para serem relidos estão preciosidades como Bom Dia, peça que é resultado da parceria entre Nana Caymmi e Gilberto Gil, e Minha Vida, de 1955, obra de Vieira e Carreirinho. Não ficam de fora canções como Feriado na Roça, assinada pelo belo jogo de palavras de Cartola. Um dos momentos mais delicados do disco, sem dúvidas.

Mônica conta que a lista de canções era enorme. “Comecei triando pelas canções que achava que eram imprescindíveis; as que não podiam faltar”, diz. Completou uma primeira lista e fez gravação caseira mesmo, experimentando canções, em seu tom de voz, sem interferências dos arranjos originais “Aí, o CD foi-se desenhando.”

O resultado desse empenho e de farta pesquisa sonora é rico. Além de apresentar a novo público canções de outros tempos, mostra a originalidade de uma poesia inocente. “É uma enorme sabedoria. É o saber que vem da forma de viver, que vira uma cultura rica, com imagens fortes e certeiras, com muita poesia e inteligência”. Além das releituras a obra conta com duas canções inéditas, Saíra, do mineiro Sérgio Santos, e Baile Perfumado, de Roque Ferreira. Ambas chegaram quando o disco estava quase fechado.

Tudo no projeto é delicado. O álbum conta com arranjos capazes de tirar lágrimas dos mais sensíveis e também dos que têm alguma ligação com o universo caipira. Mônica conta que o processo para esse trabalho a enriqueceu como pessoa e causou emoção também. “Sempre tive, desde o início da minha carreira, grande interesse na música brasileira feita em todos os tempos e em todos os lugares. As manifestações populares e a cultura de outras cidades e regiões que representam o Brasil como um todo, sempre me interessaram. Uma espécie de reconhecimento de identidade e de admiração da força que existe nelas.”

Na empreitada ela é acompanhada por Teco Cardoso (que produziu o disco e toca sopros), Neymar Dias (viola caipira e contrabaixo acústico), Nailor Proveta (clarinete e sax tenor), Toninho Ferragutti (acordeon), Robertinho Silva (percussão) e André Mehmari (piano), além de Sergio Santos, que toca e canta em uma de suas composições.

O trabalho conta ainda com a participação especial de Rolando Boldrin, como não poderia ser diferente, em se tratando do universo musical caipira. Ele faz dueto imperdível com Mônica em Saracura Três Potes, de Cândido Canela e Téo Azevedo. “Um dos grandes presentes que ganhei na minha vida, e eu já ganhei alguns. Boldrin é um dos maiores e mais importantes artistas do Brasil. Uma das pessoas mais coerentes e generosas que já conheci. Um grande brasileiro e, agora para minha sorte, um muito querido amigo.”

Obra digna de ser escutada de peito aberto, sem pressa, debaixo de uma árvore, com café quente na caneca e família e amigos por perto.




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