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Berlim de leste a oeste
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
06/08/2009 | 07:00
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Nove de novembro de 1989. Uma multidão eufórica põe abaixo o Muro de Berlim, um dos mais emblemáticos símbolos da Guerra Fria. Insatisfeitos com as restrições impostas pelo governo comunista, dezenas de milhares de berlinenses orientais invadem a mais bem protegida fronteira do planeta e são calorosamente acolhidos pelos vizinhos da Berlim Ocidental, acelerando o processo de reunificação da Alemanha, o colapso dos regimes do Leste Europeu e os próprios rumos da Nova Ordem Mundial.

Passados 20 anos deste fato histórico, o país confirma sua incansável capacidade de reerguimento apresentando para o mundo uma capital pulsante, repleta de edifícios modernos, apelos visuais e vida cultural em constante ebulição. Os números confirmam a diversidade: com quase 3,5 milhões de habitantes, Berlim é a segunda cidade mais populosa da União Européia e morada de pessoas de 18 nacionalidades. Dos 155 quilômetros de muro, restaram apenas alguns vestígios que hoje servem de tela para grafiteiros lembrarem os tempos de divisão e incitarem reflexões por meio da arte.

Para celebrar a data, uma farta programação de eventos e passeios guiados tem agitado a metrópole desde o início do ano. Mas o clímax das festividades ainda está por vir. Entre os dias 13 e 25 de outubro, uma iluminação espetacular tomará conta de diversas ruas, praças e monumentos, como o Portão de Brandemburgo, construído para comemorar as vitórias prussianas nas guerras e que hoje abriga uma Sala do Silêncio para que os visitantes reflitam sobre a paz.

Também é no pórtico que, no dia 9 de novembro, uma fileira de dominós gigantes marcará a fronteira entre os dois antigos lados da cidade. Ao cair a última peça, fogos de artifício darão início a um grande espetáculo ao ar livre. E a cada duas semanas a exposição itinerante Cenas Marcantes - 20 Anos de Mudanças em Berlim mudará de sede para que pessoas em vários pontos da cidade possam contemplar as lembranças da fase separatista.

Enquanto isso, os turistas conferem as transformações que a própria demolição do muro impeliu a algumas localidades. A começar pela Potsdamer Platz, centro quase abandonado na época da divisão e que hoje deslumbra os visitantes com a modernidade dos prédios no bairro da Embaixada e o brilhante Monumento ao Holocausto, feito pelo arquiteto nova-iorquino Peter Eisenman.

Já o bairro de Nikolai remete o turista para os tempos da antiga Berlim, assim como a Nova Sinagoga, erguida há quase 150 anos, e as catedrais da Alexanderplatz e do Gendarmenmarkt. É na Alexanderplatz, aliás, que fica um dos grandes orgulhos da extinta RDA (República Democrática Alemã): a futurista torre de TV, com 368 metros de altura, restaurante giratório no topo e uma das melhores vistas de toda Berlim.

Outros passeios se encarregam de não deixar que a história se assente junto com poeira. Em maio, o Centro de Turismo Alemão lançou roteiros que permitem percorrer toda a extensão do muro, a pé ou de bicicleta, para observar fragmentos e manifestações artísticas com o auxílio de um aparelho multimídia guiado por GPS.

Segmentos do muro também podem ser conferidos na Bernauer Strasse e nos 1,3 quilômetro da East Side Gallery, espécie de galeria a céu aberto com grafites feitos em 1990 por 118 artistas de 21 países.

HISTÓRIA - O principal motivo que levou à construção do Muro de Berlim foi a fuga de mais de 150 mil cidadãos do lado socialista para a República Federal, estabelecida no pós-guerra em três zonas ocupadas pelas forças vitoriosas dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França. Tudo começou em 13 de agosto de 1961, quando o chefe de Estado da RDA, Erich Honecker, cercou a fronteira com arame farpado para impedir o êxodo.

Nos dias seguintes, um muro passou a ser construído em substituição às barricadas provisórias, totalizando 66,5 quilômetros de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Pelo menos 80 pessoas morreram, 112 ficaram feridas e milhares foram aprisionadas nas diversas tentativas de transpor a muralha.

Por ironia do destino, 28 anos depois, o mesmo êxodo e tensão política que impulsionaram a construção do muro forçaram a sua derrubada. Só que desta vez a grande onda de fugas se fez através da Hungria, da Tchecoslováquia e da Polônia. A população exigia liberdade para ir e vir, fomentando uma série de protestos - a chamada Revolução Pacífica - contra o governo do Partido da Unidade Socialista.

Sob pressão, o líder da Alemanha Oriental, Egon Krenz, ordena a abertura do muro, que logo é derrubado pela população, jogando por terra as disparidades que separavam o Leste do Oeste.




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