A são-bernardense Débora Cristina de Oliveira Pires pode ser considerada a mais completa atleta Sub-23 do Estado desde o dia 14. Com sonho e ambição de alcançar status de melhor da América do Sul e representar o Brasil na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, a heptatleta de 19 anos não ficou apenas com a medalha de ouro no Campeonato Paulista de Atletismo, mas também concretizou a superação das dificuldades da vida de classe média baixa com o apoio dos pais e das três irmãs mais novas e o incentivo dos técnicos Maria Rita Eufrásio e Luiz Nascimento dos Santos.

Integrante do Projeto Esporte e Vida, de Santo André, treina de segunda a sexta-feira, quatro horas diárias. Faz academia no primeiro dia, enquanto nos outro quatro aprimora as habilidades nas instalações do Estádio Bruno Daniel. Se o time de futebol já não tem muita estrutura a dispor, Débora menos ainda.

Aliás, os munícipes da cidade sofrem com espaços e material específico para a prática de esportes como o heptatlo, que consiste na combinação de sete provas: 100 m com barreiras, salto em altura, arremesso de peso, 200 m rasos, salto em distância, lançamento de dardo e 800 m.

A rotina é intensa. Além dos treinos, na parte da manhã estuda para finalizar no fim do ano o terceiro ano do ensino médio e ingressar em 2012 na faculdade de educação física.

No período da noite, nas segundas, quartas e sextas, dá aulas de capoeira em projeto social de São Bernardo para tirar crianças da rua.

O começo no esporte, há cinco anos, foi por acaso. "Estudava em uma escola estadual em São Bernardo e a Rita dava aula lá. Formamos um grupo para disputar os Jogos Escolares e ela se interessou por cinco de nós. Comecei a treinar no Clube da Volks, depois no Sesi e aqui, com o professor Luiz, onde estou até hoje", afirmou.

A complexidade do heptatlo exige muito e Débora sabe bem disso. "Não tem meio termo. Tem de ser bom em tudo, porque se for mal em uma prova, atrapalha a pontuação na outra", disse a atleta que fechou o Estadual Sub-23 com 4.789 pontos, quase 100 a mais do que a marca em 2010.

olha que a são-bernardense disputou a competição de forma maneirada. "Pedi para não forçar muito para não se machucar, porque estaria competindo em categoria que não é a dela. Foi mais um teste", disse o técnico Luiz Nascimento dos Santos, que disse não estar surpreso com o resultado da atleta contra adversárias mais velhas. "Sabemos das condições dela, mas pela precariedade de trabalho que temos...", deixou no ar o técnico.

No Esporte e Vida, Débora serve como exemplo aos mais novos. "É dedicada e querem ser como ela", conta Luiz dos Santos. Em casa é a mesma coisa. "Estou trazendo minha irmã mais velha para treinar dardo. E as outras duas virão em breve", disse a atleta, que tem Lucimara Silvestre (bronze no Pan-2007) como maior ídolo.

No próximo fim de semana, Débora tem pela frente o Estadual Juvenil. Duas semanas depois, o Brasileiro da categoria. E de 23 a 27 de setembro, o Sul-Americano, na Colômbia. "Estamos confiantes nela", concluiu o treinador. "Se continuar nesse ritmo, não deixa de ser promessa para 2016", emendou. "Essa é minha meta e vou continuar ralando", concluiu a atleta.