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Vila Belmiro apaga velinhas

Estádio santista completa hoje 100 anos
com passagens relacionadas ao futebol regional

Por Dérek Bittencourt
12/10/2016 | 07:00
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Ricardo Hernandez/Banco de Dados


O Estádio Urbano Caldeira, popularmente conhecido como Vila Belmiro, chega hoje a 100 anos de fundação com história de coincidências e proximidade com o Grande ABC. A temida casa santista foi palco de 30 confrontos oficiais do time profissional principal do Peixe com clubes da região, entre outras passagens. Aliás, não só o Alvinegro recebeu algum adversário das sete cidades, como também alguns vizinhos.

Nas três dezenas de encontros com equipes do Grande ABC, o Santos venceu 16, empatou nove e perdeu cinco, num panorama que mostra bem a força do time em seus domínios. Tanto que foram necessários 47 anos do primeiro jogo contra a extinta equipe do Primeiro de Maio, de Santo André, em 1927, para que um time da região descesse a Serra do Mar e superasse o Peixe, em 24 de agosto de 1974, quando o Saad, de São Caetano, triunfou por 3 a 1, mesmo com Pelé em campo pelo Alvinegro praiano. As outras vitórias foram de Santo André (1983) e Azulão (2001, 2003 e 2004).

Presentes nestes sucessos são-caetanenses mais recentes, os ex-jogadores Magrão (autor de dois gols em 2001) e Marcinho (que deixou sua marca em 2003 e esteve em campo no duelo de 2004) relembraram as dificuldades de sair da Vila Belmiro com os três pontos. “A Vila sempre foi estádio muito diferente dos outros, pela questão de espaço, pressão da torcida. Isso tudo cooperou para o Santos sempre ser forte. Fazer gol ali foi especial”, destacou Marcinho. “Ganhar do Santos na Vila é sempre difícil. Gramado bom, dimensão boa, a proximidade do público deixa clima mais gostoso de jogar e tem história por ter sido estádio onde Pelé jogou. Torna uma honra e privilégio jogar lá”, opinou Magrão.

Emprestado pelo São Bernardo ao Santos até o fim deste ano, o atacante Walterson citou como é vestir a camisa Alvinegra no alçapão. “Quando vim jogar no começo do ano pelo São Bernardo (1 a 1) já vi que tinha algo diferente. Fiquei arrepiado aquele dia. E, hoje, realizando esse sonho que é jogar pelo Santos, dá para sentir que realmente é diferente”, destacou.

Em 6 de abril de 1933, o Primeiro de Maio esteve presente em outra passagem histórica – participou de amistoso, o primeiro jogo sob o novo nome: Urbano Caldeira.

Curiosamente nas duas vezes em que disputou título contra times do Grande ABC, o Santos não jogou em casa: em 2004, decidiu o Paulistão com o São Caetano no Morumbi (saiu derrotado), e, em 2010, usou o Pacaembu para faturar o Estadual ante o Santo André.


CASA NOVA?

Entre 2005 e 2006, surgiu a possibilidade de o Santos construir arena multiuso em Diadema. Moderno, com capacidade para 40 mil torcedores e financiamento alemão, o estádio ficaria próximo do km 20 da Rodovia dos Imigrantes, no Eldorado. O custo seria de R$ 250 milhões e os planos do então presidente Marcelo Teixeira eram ter um ponto estrategicamente localizado entre a Capital e o Litoral. Porém, o projeto ficou pelo caminho. Mas um novo pode ser idealizado na Baixada em breve.


Alçapão teve dez conquistas do Peixe


O quinteto Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe foi responsável por dar ao Estádio Urbano Caldeira a alcunha de alçapão entre as décadas de 1950 e 1970. E o apelido não só pegou como foi imortalizado no hino extraoficial do Peixe, denominado Leão do Mar: “Santos, sempre Santos, dentro ou fora do alçapão”. E jogar em seus domínios quase sempre faz a diferença para o Alvinegro praiano, que coleciona retrospecto favorável em sua casa, onde levantou dez títulos na história – nove Paulistas (1955, 1960, 1961, 1964, 1965, 2006, 2011, 2015 e 2016) e uma Taça Brasil (1964).

Inaugurado em 12 de outubro de 1916 em área de 16.650 metros quadrados no bairro da Vila Belmiro, o estádio recebeu o nome atual em 1933, em homenagem ao ex-jogador, técnico e dirigente Urbano Caldeira, que morreu naquele ano.

O estádio pode não ser uma arena multiuso, ter capacidade reduzida e até mesmo não gozar do luxo das praças esportivas dos rivais da Capital, entretanto, os capítulos vividos no gramado da Vila Belmiro a transformam num templo do futebol mundial. Afinal, foi ali que o Rei Pelé se despediu dos relvados em 2 de outubro de 1974, em vitória por 2 a 0 sobre a Ponte Preta.

As quatro maiores goleadas da história do Peixe foram justamente na Vila: 12 a 1 sobre Ypiranga (1927) e Ponte Preta (1959), 11 a 0 no Botafogo-SP (1964) e 11 a 1 novamente diante do Ypiranga (1927), todos jogos válidos pelo Paulistão. Curiosamente, a maior goleada sofrida também foi em casa, para o rival Corinthians, em 11 de julho de 1920: 11 a 0, pelo Estadual daquele ano.

Pelé é o artilheiro da Vila famosa, com 288 gols. Já o maior público registrado na casa alvinegra foi no duelo contra o Corinthians, pelo Paulistão de 1964, quando 32.986 torcedores compareceram ao local – mais do que o dobro da capacidade atual (16.068 pessoas).


Retrospecto de clubes do Grande ABC contra o Santos na Vila Belmiro*

Jogos: 30
Vitórias do Santos: 16
Empates: 9
Vitórias do Grande ABC: 5 (Saad 1, Santo André 1, São Caetano 3)

22/05/1927 – Santos 4 x 2 Primeiro de Maio-SP (Santo André) – Campeonato Paulista
28/08/1927 – Santos 4 x 1 Corinthians de Santo André-SP – Campeonato Paulista
28/07/1929 – Santos 1 x 1 Serrano-SP (Paranapiacaba-Santo André) – Campeonato Santista
24/08/1974 - Santos 1 x 3 Saad – Campeonato Paulista
16/10/1982 - Santos 2 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
03/09/1983 - Santos 1 x 2 Santo André – Campeonato Paulista
29/08/1984 - Santos 2 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
18/09/1985 - Santos 1 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
23/02/1986 - Santos 4 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
12/08/1987 - Santos 0 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
30/04/1989 - Santos 0 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
31/10/1992 - Santos 2 x 2 Santo André – Campeonato Paulista
24/03/1994 - Santos 2 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
06/10/2001 – Santos 1 x 2 São Caetano – Campeonato Brasileiro
17/02/2002 – Santos 2 x 1 São Caetano – Torneio Rio-São Paulo
15/06/2003 – Santos 0 x 1 São Caetano – Campeonato Brasileiro
01/10/2003 – Santos 1 x 1 São Caetano – Copa Sul-Americana
25/01/2004 – Santos 1 x 1 São Caetano – Campeonato Paulista
28/03/2004 – Santos 3 x 3 São Caetano – Campeonato Paulista
07/08/2004 – Santos 0 x 1 São Caetano – Campeonato Brasileiro
27/02/2005 – Santos 3 x 2 São Caetano – Campeonato Paulista
04/10/2005 – Santos 2 x 0 São Caetano – Campeonato Brasileiro
02/02/2006 - Santos 3 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
28/10/2006 – Santos 1 x 0 São Caetano – Campeonato Brasileiro
20/01/2007 – Santos 3 x 0 São Caetano – Campeonato Paulista
05/02/2009 – Santos 2 x 0 São Caetano – Campeonato Paulista
25/03/2009 - Santos 3 x 0 Santo André – Campeonato Paulista
13/09/2009 - Santos 1 x 0 Santo André – Campeonato Brasileiro
26/02/2011 – Santos 1 x 1 São Bernardo – Campeonato Paulista
30/01/2016 – Santos 1 x 1 São Bernardo – Campeonato Paulista

*foram considerados jogos da equipe profissional principal do Santos FC em competições oficiais


Goleadas que o Grande ABC quis esconder

ADEMIR MEDICI
ademirmedici@dgabc.com.br


Naquele tempo – primeira metade do século 20 – era fácil: bastava tomar o trem e chegava-se a Santos e à... Vila Belmiro. Era assim que viajavam, principalmente, os times de Paranapiacaba, Rio Grande (da Serra), Ribeirão Pires, Mauá. Todos eles pertenciam à Lems – Liga Esportiva Municipal São-Bernardense.

Armando Scilla era um dos craques da Associação Atlética Industrial, de Mauá, fundada em 1921. Uma das partidas, pelo menos, foi na Vila frente ao Germânia, de Santos.

Os locais apareceram com uma atração, o craque Feitiço, que, como quem não queria nada, começou a fazer um gol atrás do outro. Marcou cinco e o Germânia derrotou o Industrial por 5 a 0.
Também o goleiro Renato Mariani tinha histórias a contar de excursões a Santos – e à Vila Belmiro. Estreou no Industrial em 1932. Em 1936 foi para o Clube Atlético Rhodia. O último jogo de Mariani na equipe foi contra o segundo time do Santos, numa preliminar disputada na Vila Belmiro.

Das histórias registradas sobre a Vila Belmiro e o Grande ABC há passagens envolvendo o São Caetano Esporte Clube, fundado em 1914. Os jogos do São Caetano foram em 1942. Primeiro duelo, na Vila Belmiro: 7 a 2 para o Santos; a partida da volta, no desaparecido campo da Rua Paraíba, 5 a 2 para o Santos.


Parabéns, vizinho


SERI
sergiolemos@dgabc.com.br


Hoje me dou um presente de Dia das Crianças com algumas décadas de atraso. Pego uma goiaba, puxo uma cadeira e admiro do 23º andar meu mais ilustre vizinho completar obsoleto, mas imponente, seus 100 anos de existência.

Criança, lá pelos anos 1970, costumava subir o pé de goiaba e assistir a lances dos jogos do Beija Flor, em São Vicente. Depois, jogava gol caixote na rua de terra.

O sonho de ser jogador de futebol durou até a constatação da falta de talento e o início do amor pelo desenho de humor. Mas a paixão pelo Santos Futebol Clube, que nascera no fim da década de ouro de 1960, seria duradoura.

Começaria a frequentar o Estádio Urbano Caldeira financiado pelo dinheiro da venda de jornais velhos para avícolas e de resto de fios de cobre para o ferro-velho do bairro.

Pelo menos uma vez por mês ia à Vila Belmiro para assistir aos jogos do não tão glorioso Peixe, que já não tinha sequer Clodoaldo e iniciaria período longo de altos e baixos.

Prometi não torcer mais diante da decadência que se prenunciava nos 1980. Decidi pela separação de corpos após a derrota no Brasileirão para o Botafogo em 1995.

Mas bela desculpa apareceu em 2004. Tinha que fazer com meu filho o que meu pai fizera comigo: lhe apresentar a história do clube por onde passaram tantos craques. Alguns jogos e visitas ao Memorial das Conquistas ajudaram a selar as pazes com o Santos.

De onde moro, no mesmo bairro do Santos, diariamente o vejo e admiro, como um velho amigo, um velho amor e um bom vizinho. Bom dia, Vila Belmiro e feliz aniversário. 




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