Cotidiano Titulo COTIDIANO
Colhe-se o que se planta
Do Diário do Grande ABC
22/09/2016 | 07:00
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Mais algumas explosões sacudiram os nervos de Tio Sam no último fim de semana. Trata-se, todos sabem, de uma síndrome do mal que teve origem em passado não muito distante em que um país do Oriente Médio recebera a visita nada amistosa da cara amarrada de Tio Sam, em pessoa. Estava de olho, o gatuno, no precioso óleo daquele. E, para tanto, se armou, o tinhoso, de grosseiro argumento só para justificar ao mundo sua intenção sórdida de tomar de assalto a terra do outro. Coisa feia!

Dizia que o ditador daquele lugar escondia na manga do paletó armas químicas prontas para destruir o mundo. Coisa de novela mexicana que os povos não engoliram muito, não, embora ninguém tivesse peito para contestar sua majestade.

A ONU bem que lá esteve para procurar o tal artefato. Mas nada encontrou! Recusou-se, pois, a prestar apoio ao xerife, eterno caçador de motivos legais para saquear o quintal alheio.

Meio contrariado, no entanto, ele não desistiu. Seguiu intrépido na sua gloriosa empreitada de salvar o mundo.

Entretanto, a despeito dos seus motivos apocalípticos, continuou a não obter apoio de quem quer que fosse. Nem a velha Inglaterra, parceira de longa data, estendeu-lhe a mão. Mesmo assim, sustentado pela fama de tirano, inimigo do povo que o ditador daquele país carregava, o grande chefe branco invadiu, por conta própria, o lugar e destituiu do cargo o caudilho, que fugiu apavorado.

E tudo seguia, assim, muito bem, conforme se planejara. Até que, com o passar do tempo, Uncle Sam começou a desconfiar de que dera com os burros n’água. Afinal, caçara, capturara e enforcara o líder daquela nação, desejo ardente que vinha sustentando havia tempo sem, contudo, nada lucrar com isso, já que perdera o rumo da carroça, deixara desandar o caldo, e só o que conseguiu foi mergulhar o país numa guerra civil sem precedentes. Torrou também bilhões do rico dinheirinho norte-americano, matou milhares de seus soldados, enfiou o rabo entre as pernas e voltou quietinho para a sua casinha de paredes alvas, deixando para trás o caos estabelecido.

Então, o mundo que planejara salvar pôde assistir de camarote à ruína de uma sociedade que era sim vítima do regime, mas que se viu aniquilada depois que o benfeitor-xerife-gringo lá esteve para salvá-la e para livrar os povos da ameaça biológica.

O que se seguiu, pois, ao ato heroico do grande chefe branco, deu origem a uma erupção de revolta e ódio, uma vez que a morte e a miséria foram instauradas no coração da gente que, a despeito de toda aflição que cultivava no regime absolutista, era dona de um país que inaugurou a civilização terrestre. Milênios de história que o mundo tanto reverencia foram trocados pelo desespero.</CW>

A partir daí, grupos que antes já tinham seu olhar todo ele voltado para os dogmas que a religião mantém incrustados em seus ideais, aliaram o fanatismo à revolta, ganharam apoio e força, e partiram para a forra.

Há, inclusive, um velho ditado que diz que só é possível colher aquilo que se planta, ao se referir ao sujeito que pratica a maldade depois se aflige diante das consequências. Claro que o mundo finge desconhecer que, para cada bomba, há o dedinho norte-americano no detonador. Assim como no gatilho, no cabo da faca...

Talvez por sermos também americanos, sinto certa vergonha e tristeza por causa da ação destes e de gente que aqui também faz carreira destruindo, matando e aniquilando os sonhos dos seus conterrâneos. E ainda se saem bem no filme. Como aqueles.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com
 




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