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Entrando no clima
Márcio Maio
Da Tv Press
25/03/2007 | 07:03
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O visual sóbrio e o jeito tranqüilo de se movimentar mostram de cara que Camila Pitanga, 29 anos, e sua personagem, a prostituta Bebel de Paraíso Tropical (Globo), estão a anos-luz de distância uma da outra. Avessa aos exageros, a atriz precisou se livrar de alguns preconceitos antes de achar o tom certo na novela de Gilberto Braga.

PERGUNTA: Qual foi sua reação ao receber o convite para interpretar a Bebel?
CAMILA PITANGA: De cara, fiquei apavorada. Reagi um pouco com medo e não aceitava esse lado ruim que ela tem. Ficava entusiasmada, mas sentindo um peso nas costas. Tive dúvidas se conseguiria convencer com as atitudes da Bebel. Além disso, eu julgava muito a minha personagem. Quando comecei a conhecer melhor o mundo das prostitutas, enxerguei finalmente a situação desarmada de preconceitos. Foi aí que a Bebel começou a ser construída.

PERGUNTA: Como foi essa preparação para começar a gravar as cenas?
CAMILA PITANGA: Todo ator usa nos personagens o que observa no dia-a-dia. Nós, artistas, vivemos da observação. Agucei o foco em coisas que poderiam ter relação com a Bebel. Fiquei com a antena ligada em tudo que pudesse usar para encontrar o tom da personagem. Quando estava na Bienal de São Paulo, por exemplo, vi uma instalação da fotógrafa Virgínia Medeiros sobre travestis. Fiz contato com a artista e ela me mandou um DVD com um documentário que fazia parte dessa instalação. Na Barbarella, uma boate de prostituição de Copacabana, até procurei algo, mas não gostei. Tive orientação para as cenas de stripper de uma dançarina de lá, a Adriana, e isso me ajudou muito.

PERGUNTA: Como foi feita essa orientação?
CAMILA PITANGA: O dono da La Cicciolina, ali do lado, abriu o espaço na véspera da gravação, à tarde, para a gente treinar. Fui macaco de imitação total. Fiquei ligada em exagerar, até porque a Camila faz as coisas em um tom e a Bebel, em três. Eu quase não ando de salto, mas só gravo de salto. Minha personagem é exagerada e eu tenho de segurar esse jeito. Se ela faz isso há anos, então dança de salto também. Esses cuidados são os mais difíceis para mim. A Adriana ficou em um palco e eu, no outro. Aos poucos, fui encontrando o meu jeito de dançar. O que me chamou atenção na Adriana é que ela consegue mostrar a bunda, o peito, de maneira sensual. Ela é especial entre todas as dançarinas que conheci. Mas o clima daqueles lugares não era o mesmo da Bebel.

PERGUNTA: Qual é o clima da Bebel?
CAMILA PITANGA: Visitei a Ong Davida, formada pelas meninas da Daspu, e aí isso começou a se definir. Acho que ali foi o meu antes e depois para esse trabalho. Quebrei meus preconceitos, me livrei do estereótipo da prostituta coitada, lasciva. São pessoas com histórias diversas e vi que tinha de entrar a fundo no que era do caráter da personagem. A prostituição não é um detalhe, mas, na verdade, é só o trabalho dela. Caráter é outra coisa. Não posso me apegar ao ofício para idealizar quem é aquela mulher. A Bebel é metida, se acha melhor que as outras, é arrogante. Isso independe da profissão. Seria assim em qualquer outra área. Ela é uma jogadora ambiciosa, se camufla para poder ganhar alguma coisa.

PERGUNTA: O Gilberto Braga confessou que, no início, teve receio em entregar um personagem como a Bebel para você. Como se sentiu?
CAMILA PITANGA: Eu mesma achei que pudesse demorar a achar o tom certo. Era um receio enorme, mas tinha de acreditar em mim. Não foi à toa que o Gilberto falou isso. Ele conversou comigo, disse que me achava muito princesa. Aí me explicou que a Bebel era uma puta, piranha no pior sentido da palavra, mulher da vida, rodada até dizer chega. Ainda não deu tempo para ter o retorno de público, mas assisto e me divirto. Quero aprimorar, mas aprecio meu trabalho. Não estou fazendo uma revolução, mas não me vejo fazendo feio.

PERGUNTA: Você foi elogiada pela coordenadora da Ong Davida, Gabriela Leite. Como recebeu essa notícia?
CAMILA PITANGA: Fiquei muito feliz com o comentário dela, até porque é uma mulher que não precisa fazer média. Isso me dá gás para continuar seguindo esse caminho. A Bebel não é uma personagem confortável, fácil de fazer, mas já posso dizer que me dá muito prazer em cena.



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