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Grande ABC tem 71 mil
diabéticos cadastrados
Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
30/05/2011 | 07:13
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Dados oficiais das prefeituras mostram que existem pelo menos 71.516 mil diabéticos no Grande ABC registrados nas Unidades Básicas de Saúde.

O número não abrange Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que não forneceram dados. São Bernardo é a cidade com maior número de doentes: 40 mil, seguida por Diadema, com 13 mil, e Santo André, onde estão registrados 7.300 diabéticos. Em Mauá, há atualmente 6.765 pessoas cadastradas na rede de atenção básica. Em São Caetano, o número chega a 4.500.

Não há estudo que comprove a quantidade de crianças com diabetes no Brasil e nem o avanço da doença nos últimos anos, pois não há notificação compulsória dos casos. Porém, especialistas afirmam que os diagnósticos têm aumentado, especialmente nos últimos dez anos, motivados pela obesidade - que deixou de ser problema mais comum na vida adulta.

O presidente do Instituto da Criança com Diabetes, Balduíno Tschiedel, afirmou que até 20 anos atrás, o tipo 2 da doença não existia entre jovens. Hoje, cerca de 3,5% dos brasileiros até 20 anos já desenvolveram a doença. "Os fatores sociais interferem no índice. Antes, a adolescência era vivida na rua. Hoje, a vida é em apartamento e em frente ao computador. Mas a diabetes vai cobrar seus efeitos no futuro."

Se forem considerados os pré-diabéticos (que têm níveis de glicose maiores que o normal) e a população que faz tratamento por meio de convênios, estima-se que 11% dos moradores do Grande ABC sofrem de diabetes, o que representa 275 mil pessoas. O cálculo é do presidente da Associação dos Diabéticos do ABC, Márcio Krakauer.

E podem ser muitas as complicações caso não haja controle da doença enquanto jovem: retinopatia (doença degenerativa que acomete os olhos), nefropatia (lesão nos rins), pressão alta, hipertensão, infarto, derrame e possibilidade de transplantes.

ALIMENTAÇÃO
A receita para conter o avanço da doença é simples, mas ainda há dificuldade de ajustar a alimentação dos adolescentes com tantas ofertas de comida fast-food espalhadas pelos grandes centros.

"Proibir é entrar no jogo perdendo. Assim tudo torna-se mais gostoso para eles. Eventualmente é possível abusar, desde que depois haja compensação na dieta", disse a médica endocrinologista e colaboradora da Associação de Diabetes Juvenil Lidiane Perlamagna. Ela lembrou que é possível conviver com a doença sem impor restrições.

A responsabilidade com horários e a quantidade do alimento ingerido também são fundamentais para o sucesso da dieta.

O exemplo vindo dos Pais é o pilar de sustentação para o tratamento da criança diabética. "É o que chamo de doença das 24 horas. Tem de estar atento o dia inteiro, a toda hora, e o tratamento deve ser realizado em família", afirmou Tschiedel.

 

Descuido custou a visão de eletricista

Se o cuidado com a doença não for prioridade na vida de jovens e adultos, as consequências fatalmente virão à tona décadas depois. Aos 48 anos, o eletricista José Mário da Silva, hoje com 61, descobriu que tinha diabetes tipo 2 e, sete anos depois, perdeu a visão dos dois olhos. O morador de Mauá admite a negligência contínua com sua própria saúde e revela as boas consequências de suas atuais privações por conta da deficiência.

A alimentação desregrada, os costumes sedentários e a frenética rotina de trabalho comprometeram seriamente seu bem-estar. Silva já sofreu dois infartos, tem problemas renais, no coração e atualmente toma oito remédios por dia. "Na época achei que não era nada. Abusava de tudo, continuava trabalhando, não me cuidava, comia de tudo e ainda bebia", enumera.

A vida sem a visão, no entanto, lhe revelou novas aptidões. Sem poder trabalhar no ofício que dominou por 35 anos, o morador do Jardim Zaíra resolveu prestar serviço às pessoas que passaram por traumas semelhantes ao dele. Por um ano, o eletricista cursou informática e hoje dá aulas na Associação Mauaense de Assistência e Apoio aos Deficientes Visuais, onde ocupa o cargo de vice-presidente.

"Depois dos 55 anos passei a ‘enxergar' o mundo melhor do que quando tinha visão. Hoje entendo mais o ser humano e me sinto útil." Para dar as aulas, ele usa apenas o teclado. Sobre as dificuldades enfrentadas, Silva refuta todas as possibilidades de lamentações. "Não me sinto nem um pouco revoltado. O culpado fui eu mesmo. Não é por causa disso que vou condenar os outros ou a Deus."

 

Merendas escolares podem atrapalhar prevenção

Frituras, refrigerantes, salgadinhos, pizzas, cachorros-quentes, hambúrgueres. Tudo o que enchem os olhos (e os estômagos) de milhares de jovens hoje em dia estão disponíveis nas prateleiras das cantinas de escolas públicas e particulares de todo o Brasil. Para especialistas, não é uma situação ideal e o quadro precisa começar a mudar, principalmente porque a doença é silenciosa e pode não se manifestar por anos.

"Não só no Grande ABC, como em todo o Estado de São Paulo, a prevenção é muito deficitária. Precisamos melhorar as dietas das escolas com abordagens multidisciplinares. Prescrever a insulina é o de menos para os médicos, o importante é educar", disse a endocrinologista e colaboradora da ADJ (Associação de Diabetes Juvenil), Lidiane Perlamagna.

Apenas no Instituto da Criança com Diabetes, com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a quantidade de jovens atendidos era de 520 em 2004. Seis anos depois o número pulou para 2.000, representando uma variação preocupante de 284%.

A influência e orientação dos pais são decisivas para a eficácia do tratamento de seus filhos diabéticos. Estimular o conhecimento dentro de casa pode evitar o agravamento da doença.

"Há conscientização na medida em que os pais conhecem os males que a doença pode trazer aos filhos. Não adianta brigar com a diabetes, tem de aceitar, senão o paciente certamente irá perder."




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