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Veículos made in China invadem o Brasil
Por Vagner Aquino
Do Diário do Grande ABC
14/09/2011 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Com a crise que balançou as estruturas da maior potência do mundo, em 2008 (respingando em outros importantes países ao redor do planeta), o Brasil passou a ser uma rentável fonte de investimentos. Com a queda do dólar e, em consequência, o baixo preço de importação, as marcas chinesas começaram a chegar por aqui.

Um boom tão rápido, que já em 2010 - durante o último Salão do Automóvel de São Paulo - das 42 marcas que estavam no Anhembi, nove vinham da China, despejando uma série de modelos pelas ruas brasileiras.

Detentoras de grande reserva cambial, e com subsídios do governo que propiciam custos reduzidos de produção, as montadoras chinesas querem entrar no mercado com força. E estão conseguindo. Já venderam cerca de 35 mil veículos por aqui. Mérito dos preços competitivos e da vasta lista de equipamentos que oferecem.

Mas apesar disso, conquistar o consumidor brasileiro não é tarefa fácil. Acima de tudo é preciso romper preconceitos, afinal, por aqui, produto chinês é sinônimo de qualidade inferior, ou mesmo de pirataria. Mas vale ressaltar que aqui isso não procede, no máximo, um produto genérico. Exemplo disso é o Lifan 320, que, inegavelmente, tem desenho inspirado no Mini Cooper e, por R$ 30 mil, vem com trio elétrico, direção hidráulica, freios com sistema antitravamento, air bag duplo, entre outros itens. No entanto, já conquistou 1.439 consumidores no Brasil nos oito primeiros meses deste ano, conforme apontam os números divulgados pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).

E é exatamente esta a tacada de mestre das chinesas, pois, "elas (as montadoras) miram na satisfação do cliente, que preza pela comodidade na hora da compra. O brasileiro acha muito chato escolher opcionais, quanto mais evitar dor de cabeça na hora da compra, maior é a aceitação do público", diz o consultor automobilístico Paulo Roberto Garbossa.

Mas a pergunta que não quer calar é: vale ou não a pena comprar um carro chinês?

"Ainda não tivemos um tempo suficiente para dar uma resposta com plena certeza. Ainda há muita coisa no ar. Teremos certeza se vale a pena ou não somente no momento da revenda, tudo vai depender da desvalorização e do pós-vendas", diz Francisco Satkunas, consultor automobilístico. E ele frisa: "Cautela não faz mal a ninguém."

Partilhando da mesma opinião, o diretor do CEA (Centro de Estudos Automotivos) Luiz Carlos Mello diz que as marcas se firmarão no Brasil somente com o tempo, "pois ainda não há frota considerável nas ruas."

Mello aponta que quando os carros estiverem com o terceiro ou quarto dono, será hora de responder a esta questão. "Por enquanto ninguém pode dizer ‘sim' ou ‘não', pois não há uma bagagem anterior, uma vida pregressa destes veículos."

 

Público consumidor

 

Pelas ruas, muitas pessoas fazem comentários maléficos sobre os carros chineses. Pois vários brasileiros comparam as marcas às outras orientais, como Mazda, Lada e Daewoo, por exemplo, que deixaram muitos órfãos por aqui na década de 1990.

Por outro lado, a maioria dos consumidores coloca a emoção acima da razão no ato da compra e corre qualquer risco para ter um veículo diferenciado na garagem de casa.

É o caso do coordenador de serviços administrativos Jozé Luiz do Nascimento, que comprou um JAC J3 em março deste ano. "Minha intenção era comprar um Ford EcoSport. Eu nem conhecia a JAC, mas acabei sendo atraído pelo preço, pela lista de equipamentos que o carro oferece e, sobretudo, pelo bom atendimento na revenda. Estou muito satisfeito com a aquisição e confesso que fiquei surpreso!", exclama.

Outro que decidiu dar uma oportunidade às novatas, foi o consultor de vendas Anderson de Souza Prado, que estava na dúvida entre quatro modelos populares, mas acabou optando pelo Chery QQ. "Por ser um modelo barato e com design diferenciado, acabou caindo nas minhas graças. No começo fiquei meio preocupado, mas até agora não me decepcionou", enfatiza.

Há também quem prefira pensar o outro lado da história e comparar a chegada das chinesas às japonesas Honda e Toyota, ou mesmo às sul-coreanas Hyundai e Kia, que já sentiram o gosto amargo da rejeição e hoje deram a volta por cima, tornando-se umas das marcas mais vendidas no mercado.

"Apesar do despreparo no pós-vendas, grande parte das recém-chegadas da China deverá emplacar por aqui, a exemplo das japonesas. Acredito que veremos resultados positivos a partir dos próximos cinco anos, um tempo plausível para que as marcas passem a fazer carros duráveis como os europeus e com uma boa dose de qualidade. Porém, a total resolução de problemas com assistência, peças de reposição e logística só poderá ser sentida nos próximos dez ou 15 anos, quando as marcas passarão a ter uma boa margem de lucro e, em consequência, possibilidade de investir em tecnologia", acredita o engenheiro mecânico Rubens Venosa.

 

Na visão das montadoras

 

Questionado sobre qual a vantagem de comprar um chinês ao invés dos tradicionais veículos populares vendidos por aqui, o presidente da JAC Motors do Brasil, Sérgio Habib, diz que seus produtos possuem o melhor custo-benefício do mercado nacional, "principalmente por terem preços fixados e seis anos de garantia sem limite de quilometragem."

Para Clóvis Rodrigues, gerente de marketing do grupo Effa, o carro chinês está chegando ao Brasil para quebrar paradigmas. "Existe, sim, a restrição, mas isso faz parte do processo de conhecimento, é o famoso medo do desconhecido", acredita.

 

Para ele, as chinesas só tendem a crescer no Brasil. "Vamos nos consolidar rapidamente por aqui, pois, além da propaganda boca a boca, hoje em dia há mais informação por parte do consumidor, que pode conhecer melhor o produto que pretende adquirir, e isso facilita a decisão", defende o executivo.

Mesmo com produção abundante e possibilidade de causar impacto na indústria nacional, as chinesas não são motivo de ameaça para outras orientais como a Kia, por exemplo. "As chinesas estão fazendo volume, com um produto mais barato, mas isso não nos atrapalha, pois é muita coisa em jogo. O Brasil é a bola da vez, todo mundo está investindo aqui, basta ter jogo de cintura para lidar com todas as burocracias, como o transporte, a homologação e, claro, os 35% de imposto de importação", ressalta José Luiz Gandini, presidente da Kia Motors do Brasil.

"Isso é bom, pois movimenta o mercado local", comemora o consultor automobilístico Paulo Roberto Garbossa. Ele recorda que, há alguns anos, o País contava apenas com quatro montadoras, agora, são 35 marcas. "Há mercado para todo mundo, pois cada consumidor tem um gosto. Alguns prezam pelo visual, outros colocam a mecânica, a proposta ou a lista de equipamentos acima de tudo. Depende do que o carro tem para valer a pena para o cliente."




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