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Vai uma bolacha aí?
Por Dojival Filho e Roseane Castilho
01/03/2009 | 07:00
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O que o grupo irlandês U2, o cantor e compositor pernambucano Lenine e a banda inglesa Radiohead têm em comum? Além do talento e da carreira consolidada, eles aderiram em suas mais recentes produções aos discos de vinil, que marcaram época e retornaram em grande estilo ao cenário musical. Segundo dados divulgados pela Associação Norte-Americana da Indústria Fonográfica, o número de bolachões vendidos nos Estados Unidos em 2007 chegou a 1,3 milhão, um aumento de 36,6% em relação ao ano anterior, quando foram comprados 900 mil discos.

Quem ouviu música a partir dos anos 1950 e até o início da década de 1990 conheceu o ritual de colocar uma agulha sobre esse objeto e deliciar-se com a sonoridade. Mas a volta triunfal do formato não é uma onda nostálgica ou iniciativa de sebos. Em São Caetano, por exemplo, o proprietário da Livraria Lobato (Rua Baraldi. 924. Tel.: 4226-3114) , Ricardo Furtado, 42, abriu recentemente um espaço no estabelecimento para venda de vinis e já obtém resultados positivos.

"Tem muita gente ligando para cá. Já vendemos cerca de 100 discos, sem fazer muita divulgação", comenta o comerciante. Furtado foi incentivado, nessa empreitada, pelo amigo e consultor musical Ricardo Martins, conhecido como Rick 'n' Roll, que cedeu aproximadamente 4.000 discos e divide os lucros do negócio.

Um dos trunfos da livraria é a variedade. Nas prateleiras é possível encontrar preciosidades de gêneros como rock, sertanejo, MPB, funk, reggae, samba e música erudita. Entre os destaques estão o álbum Carmen Miranda em suas Inesquecíveis Criações, de 33 rotações. Lançada em 1955, é vendida a R$ 40 e tem, entre as faixas, Ta-hí, de Joubert de Carvalho.

Há outros quitutes mais acessíveis para os apreciadores da música popular brasileira, como Orlando Silva Canta Ary Barroso (R$ 10), e pérolas para os roqueiros, como uma caixa com cinco LPs de Elvis Presley (R$ 150).

Em Santo André, o músico e proprietário da Metal Discos (Rua Dona Elisa Flaquer, 184. Tel.: 4994-7565) Jean Lazare Gantinis , 49, sempre foi fiel aos vinis. Na loja, há opções para fãs de MPB e rock, com preços que vão de R$ 5 a R$ 500. O acervo possui 3.000 unidades.

"Desde 1984, nunca parei de vender discos. Tenho 5.000 na coleção particular e acho que o som é mais gostoso."

Paixão e arte - Mas qual seria a razão para a volta, com força, da boa e velha bolacha? Robson Santos, 42, proprietário do Sebo Vertigo Cultural (R. Elisa Flaquer, 174, em Santo André), teoriza: "O formato digital, em CD, foi ultrapassado pelo compactado, o MP3. Quem busca o vinil está atrás da arte das capas, da originalidade e da qualidade de som".

Desde que entrou neste mercado, em 2003, Santos estima que suas vendas cresceram aproximadamente 200%. "Tenho cerca de 4.000 CDs parados, com pouca venda", revela. Santos argumenta, também, que sua loja virou uma espécie de point dos fãs do vinil. "As pessoas vêm aqui nos fins de semana para conversar sobre música e lançamentos", diz.

O poeta andreense Zhô Bertolini, 56, reforça a tese: "Disco é cultura, CD é mercadoria", afirma. "Devo ter cerca de 500 discos em casa, mas hoje não saio mais por aí caçando vinis como fazia antigamente."

Bertolini acredita que a música deixará de fazer parte do comércio de produtos e passará funcionar como prestação de serviços. "Você vai pagar uma assinatura e, dessa forma, poderá fazer o download das músicas na internet". Seria algo similar ao que já ocorre com serviços de telefonia móvel nos Estados Unidos e na Europa. Pode até ser prático e acessível, mas nada que substitua o charme da cultuada bolacha.




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