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Ennio Morricone, o mestre das trilhas
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18/03/2008 | 07:00
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Mais conhecido como o compositor que ajudou a formatar o gênero ‘western spaghetti’ nos anos 1960, escrevendo trilhas um tanto híbridas para o diretor Sergio Leone, o maestro italiano Ennio Morricone, que rege a Orquestra Roma Sinfonietta no próximo dia 24, no Teatro Alfa (tel.: 5693.4000. Ingr.: R$ 700 a R$ 1,5 mil), em São Paulo, é muito mais sofisticado do que estão acostumados os ouvintes de temas populares como o de Cinema Paradiso.

Autor de mais de 400 trilhas para o cinema e ganhador de um Oscar honorário (2007) pelo conjunto da obra, Morricone compôs para diretores exigentes como Pasolini e Bertolucci, habituados a usar Bach, Verdi e outros compositores do passado em seus filmes.

Ele não inclui em seu próximo concerto nenhum desses temas mais complexos, explicando o motivo dessa exclusão na entrevista a seguir, em que fala de outros diretores politizados com quem trabalhou, entre eles Gillo Pontecorvo (1919-2006), Giuliano Montaldo e Elio Petri (1929-1982).

Do primeiro, ele selecionou para o concerto brasileiro os temas principais de dois filmes (A Batalha de Argel e Queimada), homenageando Montaldo com Sacco e Vanzetti e Elio Petri com A Classe Operária Vai ao Paraíso e Investigação de Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita.

Esses temas integram a segunda parte do concerto, apropriadamente chamada O Cinema do Compromisso. Na primeira, com a mesma duração (45 minutos), Morricone rege a orquestra de 100 músicos e um coro de 80 vozes em temas mais populares como os dos filmes de Leone (Era Uma Vez no Oeste, Três Homens em Conflito),Cinema Paradiso (1988), de Giuseppe Tornatore e Os Intocáveis (1987), de Brian de Palma.

Por que em seus concertos o senhor nunca inclui os temas escritos para os filmes de Bertolucci e Pasolini ou suas peças eruditas? Julga essas obras muito complexas para o público médio?

ENNIO MORRICONE – O concerto não pode durar três horas. Escrevi para mais de 400 filmes. Escolho os filmes que as pessoas mais conhecem e, portanto, tenho que excluir alguns outros. É esse o único motivo da exclusão. Não creio que as obras excluídas sejam complexas para o público médio. Excluo por uma questão de tempo do concerto mesmo.

O senhor escreveu muitas trilhas para filmes políticos, entre elas as de Sacco e Vanzetti, dirigido por Giuliano Montaldo, e Investigação Sobre Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, de Elio Petri. Como o senhor se posicionava politicamente nos anos 1970 e hoje em relação à política italiana?

MORRICONE – Participei de filmes para os quais fui convidado a fazer a música. Não era uma questão de posicionamento político. Nem hoje existe essa questão para mim. Quando me convidam para fazer um filme, decido se faço ou não com base em outros critérios. Se tenho tempo, faço. Se não tenho tempo, não faço.

A maioria de seus fãs o conhece pelos faroestes de Leone. Como lhe ocorreu a idéia de juntar instrumentos aparentemente inconciliáveis como sinos de igreja e guitarras elétricas em seus filmes? Por que sempre o uso das vozes femininas? Algo contra os barítonos?

MORRICONE – A voz feminina me servia porque acrescentava uma certa poesia às trilhas de Leone. Se tivesse usado um barítono – não tenho nada contra os barítonos –, ficaria sendo um pouco como ópera. Ali, a voz feminina é quase como um instrumento, com se fosse um violino, uma flauta, um canto sem palavras. E o uso dos instrumentos é uma coisa minha, uma vontade de resgatar alguns menos ou quase nunca usados.

Todo compositor tem seu parceiro favorito no cinema. Hitchcock tinha Bernard Herrmann. Truffaut tinha Georges Delerue e Fellini tinha Nino Rota. Leone foi o seu?

MORRICONE – Pode-se dizer. Mas não trabalhei só com Leone. Trabalhei muito com Mauro Bolognini, por exemplo, Giuliano Montaldo também. Tantos diretores que fica difícil escolher.

O senhor recebeu cinco indicações ao Oscar e até hoje seus fãs não se conformam por Cinzas no Paraíso ter perdido. O senhor acha que o Oscar honorário que recebeu no ano passado foi um prêmio para corrigir essas injustiças?

MORRICONE – Não. Injustiça existe quando alguém faz algo contra uma pessoa. Recebi não só por um filme, mas por todas as minhas obras.




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