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Energia pressiona custo industrial
Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
02/07/2005 | 07:54
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O novo aumento na energia elétrica, de 15,24%, para as indústrias da Grande São Paulo, que entrará em vigor a partir desta segunda-feira, deverá representar mais uma pressão sobre os custos das empresas. Para representantes do setor industrial da região, parte dessa elevação deverá ser repassada aos preços, mas muitas companhias terão dificuldades em negociar aumentos e terão um achatamento ainda maior nas margens de lucro.

O aumento da energia consiste do percentual de 10,96%, concedido pela Eletropaulo, mais 4,28%, referente ao PIS/Cofins (Programa de Inclusão Social/Contribuição para Financiamento da Seguridade Social). Dessa forma, a elevação da tarifa para o setor industrial chega a quase 16%. "As empresas sofrem esses aumentos de custos dos preços administrados (tarifas públicas como luz e telefone) e não conseguem repassar já que o governo tem uma política de refrear a demanda", afirma o diretor adjunto do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) em Santo André, Shotoku Yamamoto.

Dessa forma, enquanto alguns índices inflacionários, como o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) registram taxa negativa e mostram um consumo retraído, os preços de serviços públicos voltam a registrar alta de preços. Para Yamamoto, "quem paga o pato" são principalmente pequenas e médias indústrias, que enfrentam um mercado de competição acirrada.

O empresário Cláudio Musumeci, proprietário da Diamante Têmpera, de São Caetano, afirma que será difícil repassar as elevações de custos para grandes clientes empresariais. A empresa, de médio porte (tem 92 funcionários), produz vidros temperados para fabricantes de fogões. Absorver esse aumento significará reduzir ainda mais a já apertada rentabilidade, segundo Musumeci. "Tenho dois fornos elétricos (para a produção dos vidros), e a conta de energia elétrica representa 20% dos custos da empresa", diz.

Musumeci, que também é diretor titular do Ciesp de São Caetano, afirma que os custos mais altos afetarão boa parte das pequenas companhias do Grande ABC e se somam ao impacto das altas taxas de juros e da carga tributária. Avaliação semelhante tem o diretor (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de São Bernardo e Região, Hermes Soncini. "Num momento em que as empresas estão com a produção caindo, um aumento desse porte é um absurdo", afirma.

Subsídio - A alegação da Eletropaulo para efetuar o aumento de 10,96% às indústrias é de que compensará a redução de 7,68% para as residências, como parte do processo de realinhamento da tarifa, para reduzir o subsídio cruzado (as residências pagariam mais enquanto a indústria teria valor menor a pagar). Incluindo PIS e Cofins, a conta de luz do consumidor deverá ter redução de aproximadamente 2%.

Mas a Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia Elétrica) questiona a forma como estão sendo feitos os reajustes ao setor industrial e afirma que a alta deverá gerar impacto na economia, por meio de aumentos de preços e redução de investimentos.

O presidente da associação, Paulo Ludmer, afirma que desde 2003 têm ocorrido aumentos de forma geométrica e não aritmética, como determina a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). Ele diz ainda que não está claro o cálculo para se saber se há subsídio cruzado nas diferentes regiões do país.

"Além disso, no mundo inteiro a energia para as indústrias custa de 40% a 45% do valor pago pelas residências. O esforço para cobrar das indústrias é menor, já que estas compram no atacado", diz. Ele acrescenta que, sob o argumento de que quer distribuir renda, o governo distribui pobreza. "A pessoa fica com luz barata, mas sem emprego".



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