Economia Titulo Matriz energética
Portaria da Aneel deverá elevar procura por gás natural

Estabelecimentos com geradores próprios poderão
vender energia às distribuidoras, estabelece portaria

Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
23/03/2015 | 07:05
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André Henriques/DGABC


A demanda por gás natural em indústrias e grandes comércios deve apresentar elevação nos próximos meses em razão da portaria 44 da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que entrou em vigor neste mês. O texto, assinado pelo ministro Eduardo Braga, de Minas e Energia, determina que os agentes distribuidores – no caso da Grande São Paulo, a AES Eletropaulo – devem realizar chamada pública para incentivo à geração própria por parte dos consumidores. O estímulo será feito por meio de crédito na fatura dos estabelecimentos que gerarem a própria energia e a disponibilizarem à rede de distribuição.

A medida inclui apenas os clientes do chamado Grupo A, que recebem energia em alta tensão. Se enquadram nesse perfil as indústrias e centros comerciais de grande porte, como shoppings, clubes e hospitais. Segundo o gerente de marketing industrial da Comgás, Ricardo Vallejo, cerca de 95% desses consumidores possuem geradores, que podem ser movidos a diesel ou a gás natural – sendo a última opção mais barata e mais limpa do que o óleo. Esses equipamentos costumam ser ligados entre 17h30 e 20h30, o chamado horário de ponta, no qual a tarifa é mais cara em razão da elevação na demanda. Nesse período, é mais vantajoso utilizar o gás como fonte de abastecimento, diz Vallejo.

“O governo viu que há um potencial de empresas com polos geradores, mas que ficavam por 21 horas em ociosidade. Então, por que não comprar essa energia excedente?”, explica o gerente. Vallejo afirma que a utilização do gás, “que já era vantajosa, vai somar um incremento de receita”. A portaria determina que “a energia gerada deverá ser comprovada por meio de medição individual instalada na unidade de geração própria” e que “o pagamento poderá ser feito, prioritariamente, mediante crédito concedido na fatura de consumo e/ou do uso do sistema de distribuição”.

Há dois tipos de geradores a gás: os que utilizam apenas esse tipo de combustível e os modelos flex, que também podem ser movidos a diesel. “Nos bicombustíveis, a economia de energia é de aproximadamente 30%. Já nos que são exclusivamente a gás, o gasto diminui entre 45% e 50%”, acrescenta.

A Comgás não informa o valor para instalação de sistema a gás natural nos empreendimentos, pois o gasto varia conforme o tamanho da empresa e do tipo do motor que será utilizado. Entretanto, Vallejo garante que o retorno do investimento pode ser obtido em 15 a 18 meses. Ele estima que, após a regulamentação da portaria e a publicação dos editais de chamada pública e da vigência dos Contratos de Adesão de Geração Própria, o prazo para retorno deverá cair para apenas dois meses.

CRISE HÍDRICA - A escassez em diversas regiões do País e os recentes reajustes anunciados pelo governo federal nas tarifas de energia elétrica fizeram com que aumentasse o interesse por fontes alternativas de energia. A companhia informa que, desde o fim do ano passado, “a procura por projetos de cogeração e climatização aumentou cerca de 20%”. Não foi informada, entretanto, a estimativa de crescimento desse mercado para o Grande ABC nos próximos anos, pois os números são classificados como estratégicos.


INVESTIMENTO - Até 2021, a Comgás planeja investir aproximadamente R$ 210 milhões para expandir a rede de tubulações no Grande ABC – o que equivale a R$ 30 milhões por ano. A informação é do gerente regional da companhia, Silvio Renato Del Boni, que participou na semana passada de evento no campus da UFABC (Universidade Federal do ABC) em Santo André para comentar sobre o plano de crescimento da empresa nos sete municípios. Atualmente, quase 116 mil clientes utilizam o gás natural na região, sendo a maioria ligações residenciais. Cerca de 5% (aproximadamente 5,8 mil) são dos segmentos da indústria, comércio e serviços. A estimativa da companhia é elevar o total em 12 mil clientes por ano, o que representa crescimento anual próximo a 10%.

Segundo Del Boni, o tamanho da rede terá aumento significativo nesses sete anos. “O nosso crescimento depende da expansão das redes. Então, à medida que ampliamos, vamos disponibilizando o serviço para novos clientes, inclusive dos setores da indústria e do comércio”, comenta o gerente, responsável pelas áreas do Grande ABC e Baixada Santista.

A maior rede está disponibilizada em São Bernardo, com cerca de 440 quilômetros. “Em Santo André, onde temos 170 quilômetros, temos como projeto alcançar 900 quilômetros até 2021. Estamos falando em algo em torno de seis vezes o que nós já temos implementado”, diz Del Boni. Em todo o Grande ABC, o planejamento é para que sejam construídos aproximadamente 1.500 quilômetros de tubulação no período estipulado.

Por ter a maior rede, São Bernardo concentra a maioria dos clientes: 64,4 mil, seguida por Santo André (28,2 mil), São Caetano (13,7 mil), Diadema (9.500) e Mauá (30). Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra possuem apenas um consumidor cada.

A Comgás não informou o volume de gás utilizado pela indústria e o comércio no Grande ABC. A justificativa é o fato de a quantidade ser sazonal, podendo variar conforme o cenário nacional, como mudanças no cenário econômico e a crise hídrica em diversas regiões do País.

Em relação ao GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), o gás natural é considerado mais vantajoso. Isso porque, além de ser mais barato, oferece mais segurança, já que não precisa ficar armazenado e, por ser mais leve que o ar, se dissipa facilmente em caso de vazamento. 




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