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Dos pampas aos sertões
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
23/04/2011 | 07:21
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Fernando Dantas/DGABC


Disse Stendhal sobre a arte de escrever: "Senhores, um romance é um espelho que é levado por uma grande estrada. Umas vezes reflete aos vossos olhos o azul dos céus, e outras a lama da estrada..."

Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Euclides da Cunha e Lima Barreto estão entre os homens que, na continuação da frase do clássico escritor francês, são acusados por espelhar a estrada: "... E ao homem que carrega o espelho nas costas vós acusareis de imoral! O espelho reflete a lama e vós acusais o espelho! Acusai antes a estrada em que está o lodaçal, e mais ainda o inspetor das estradas que deixa a água estagnar-se e formar-se o charco."

Expoentes de um período crucial da história mundial - a modernização e a transição das sociedades política, econômica e cultural -, esses escritores brasileiros serviram como importantes historiógrafos do seu tempo.

Muita gente se atém à forma e às polêmicas de suas obras, mas não reparam que esses autores e o seus títulos foram repositórios de aspectos terríveis e desabonadores da nossa história.

O INÍCIO
Timidamente, o Brasil começa a ser retratado com "A Moreninha", de Joaquim Manoel de Macedo, lançado em 1844. O romance traz alguns costumes da época e a caracterização descritiva dos fatos lhe dá caráter documental.

Machado de Assis, considerado a vanguarda do realismo brasileiro, desde "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1981) escreve a história do País. Apesar da maior contribuição do escritor ser fundamentada nos perfis psicológicos que ele fazia dos personagens, suas obras lançam olhar especial à sociedade carioca e à transição do Império para a República.

Entre o Oiapoque e o Chuí, muitas penas trabalharam a favor ou contra centenas de figuras, tornando a história do País palco de enredos atrativos e com eventos questionadores dos fatos cotidianos.

"As Minas de Prata" e "Guerra dos Mascates", de José de Alencar, publicados em 1865 e 1871, respectivamente, são exemplos de livros que abordam episódios únicos de nossa história. O primeiro romance é ambientado no século 18 e narra o tempo em que as aventuras e os heróis estavam enfurnados pelo interior do Brasil em busca dos tesouros minerais. A obra traça um painel do tempo em que o País era alvo de impérios estrangeiros que representavam ameaça à nossa terra e que buscavam os tesouros presentes por aqui.

"Guerra dos Mascates" fala da luta travada entre as cidades de Recife e de Olinda, em Pernambuco, no início do século 18. Os proprietários de engenho entraram em guerra com as autoridades da Capitania - nesse tempo instalada em Olinda - para garantirem sua autonomia no comércio.

"Agosto", de Rubem Fonseca, se destaca como um moderno romance histórico. No livro, o autor joga luz às confluências que conduziram o presidente Getúlio Vargas ao suicídio, em 1954.

O título "O Tempo e O Vento, de Érico Veríssimo, é considerado uma epopeia da construção do Rio Grande do Sul, tratando de histórias que aconteceram desde 1680 até o ano de 1945.

Em seu "O Cortiço", Aluísio Azevedo traz importante painel de como seria organizado o Rio de Janeiro, sendo ocupado por uma parcela marginalizada da sociedade que foi obrigada a se estabelecer no que sobrou da cidade, erguendo as favelas.

Lima Barreto ocupa posição privilegiada neste advento de análise ao período de transição política do País. Crítico feroz dos modelos sociais brasileiros, o escritor foi um importante analista, explorando em sua literatura as incongruências da implantação da República no Brasil, que não havia sanado os problemas que existiam anteriormente.

Euclides da Cunha, em suas muitas andanças pelo País, retratou grandes episódios da nossa história, como a Guerra de Canudos, tema de "Os Sertões", e a vida e a exploração dos seringueiros na Amazônia, em "À Margem da História".

REGIONALISMO

Um específico modelo da literatura mundial, que é um estilo propriamente brasileiro, é o romance regional.

O Brasil de várias regiões, sociedades, climas e histórias, teve representação ao largo de sua extensa geografia. Não ficou de fora do registro literário quase nenhum de seus personagens. Guimarães Rosa, Jorge Amado e Graciliano Ramos aparecem como exemplos deste gênero literário.

Rosa - talvez o mais importante expoente regionalista - foi precursor ao adentrar território inexplorados e reconstruir povos. Ele faz essa sociedade regional tão importantes quanto as que se estabeleceram nos centro urbanos, encerradas em uma pequena faixa territorial do gigante e cheio de histórias Brasil.




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