Política Titulo
Celso Russomanno é favorável à guerra fiscal
Por Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC
07/02/2006 | 08:34
Compartilhar notícia


Resgate da cidadania e respeito ao consumidor. Essas serão as principais bandeiras do deputado federal Celso Russomanno (PP), caso seja escolhido pelo partido para disputar o governo do Estado, na eleição de outubro. Mas, para isso, terá de vencer – em pesquisa interna que será feita entre março e abril – o ex-prefeito de Santos Beto Mansur, que também pleiteia a vaga. “Quem estiver melhor nas pesquisas, será o candidato do partido e terá o apoio do outro”, assegura.

Considerado um dos novos caciques do partido – principalmente agora que a maioria dos líderes da legenda está envolvida no escândalo do mensalão –, Russomanno não teme a força política do ex-prefeito de São Paulo e presidente de honra do PP Paulo Maluf. Para o deputado, Maluf é “carta fora do baralho” em 2006.

Segundo Russomanno, o contribuinte deve ser tratado como um “consumidor” e ter os direitos respeitados. “Hoje o Estado só é presente na vida do cidadão para cobrar impostos e taxas. O governo não dá nada em contrapartida das tarifas cobradas. O Estado faz você trabalhar quatro meses para ele e não dá nada em troca. Isso é um absurdo. Além disso, o servidor público tem de atender melhor a população. Tem gente com medo de ir a uma delegacia fazer ocorrência. Santo André é um exemplo. A cidade hoje tem o seguro de veículo mais caro do Brasil, por causa da quantidade de roubo de veículos. Isso significa a ausência do Estado na vida do cidadão”, analisa Russomanno, que preside o Inadec (Instituto Nacional de Defesa do Consumidor), criado por ele.

Ele declarou ser amigo dos prefeitos de São Bernardo (William Dib, PSB), Ribeirão Pires (Clóvis Volpi, PV) e São Caetano (José Auricchio Júnior, PTB), o que, segundo diz, facilitaria a interlocução com a região.

Candidato a prefeito de Santo André em 2000 – derrotado pelo petista Celso Daniel –, Russomanno transferiu seu título de eleitor para a capital e não pensa em concorrer novamente a algum cargo executivo na região.

DIÁRIO – Que problemas o sr. enxerga hoje no Grande ABC?
CELSO RUSSOMANNO – O fortalecimento do ABC tem de ser retomado. Quando fui candidato em Santo André, já falava da importância do Consórcio (Intermunicipal do ABC). Os sete prefeitos têm força política para fazer com que o governador funcione. Hoje, a região ABC está carente de tudo. Santo André, por exemplo, está virando uma cidade-dormitório. Será que os galpões vazios da avenida Industrial não servem para nada? Ou será que está faltando para tornar aquela região estruturada, para ter, inclusive, impostos diferenciados?

DIÁRIO – Então o sr. é favorável à guerra fiscal?
RUSSOMANNO – Sou. Se você analisar a carga tributária que temos hoje, a sonegação é absurda. Ninguém quer ser bandido. Todo mundo quer pagar, mas pagar o que dá. Com um carga tributária do que jeito que nós temos, muita gente está sonegando. Não é melhor cobrar um pouco menos e receber de todo mundo e ser duro no recebimento, do que deixar correr solto? As pessoas não têm direito.

DIÁRIO – Mas a maioria dos prefeitos do Grande ABC tem-se posicionado contra à guerra fiscal.
RUSSOMANNO – Não posso falar como prefeito de cada uma das cidades e sim como governador. Acho que tudo aquilo que está abandonado na região pode ter vida novamente e gerar empregos. As pessoas estão morando no ABC e vindo trabalhar em São Paulo. Não é mais barato ter a pessoa que mora na região trabalhando na região? Por que a maioria das montadoras foi embora? Porque o movimento sindical foi tão forte que eles disseram: Vamos sair daqui porque aqui não tem sossego. Você cria tantos empecilhos para o empresariado que eles não geram mais empregos no ABC. Você tem greve em porta de fábrica, um ISS e ICMS absurdos.

DIÁRIO – Porque o sr. acha que o projeto que cria a Região Metropolitana do Grande ABC não avança na Assembléia Legislativa?
RUSSOMANNO – Eu sempre quis, desde a época em que fui candidato a prefeito. Não anda por falta de vontade política. Se o governador Geraldo Alckmin quisesse, sairia na hora. Como parlamentar, eu sei. Se o governador pegar o líder dele (deputado Edson Aparecido, PSDB) e indicar os projetos, eles vão para a pauta. Se tivesse vontade política, sairia da noite para o dia. O governador é que não quer. O Alckmin precisa entender que a densidade demográfica na região é muito grande e a taxa de desemprego também. O melhor, então, é gerar empregos perto de onde as pessoas moram.

DIÁRIO – E sobre o impasse jurídico que envolve a construção do trecho Sul do Rodoanel?
RUSSOMANNO – O Rodoanel começou errado. Saiu do nada para ninguém. Hoje você tem Rodoanel nas estradas Régis Bittencourt, Raposo Tavares, Castelo Branco, Anhangüera e Bandeirantes (trecho Oeste, único inaugurado). Quem vem do interior do Estado não vai para o interior pelo Rodoanel. Você precisa de Rodoanel para sair de Santos, passar pela Grande São Paulo, ABC, Rio de Janeiro, interior do Estado ou norte do país. Então, o Rodoanel deveria ter começado justamente no trecho Sul, pela Anchieta, Imigrantes e parar na Dutra. Já teria desonerado todo esse trecho e impulsionado todos os municípios do Grande ABC. Você geraria emprego na região, já que as empresas que exportam querem estar perto do Porto de Santos. O trecho feito é zero e não desafogou a capital. Gastou-se dinheiro à toa. Atribuo isso a oportunismo político. Com todo respeito ao ex-governador Mário Covas (morto em 2001), ele queria mostrar que estava fazendo o Rodoanel. Então, onde era mais fácil, ele investiu. E impasse com o Ministério Público é questão de negociação. O Estado tem um monte de áreas que poderia oferecer como contrapartida.

DIÁRIO – E o problema da Febem, qual seria a saída?
RUSSOMANNO – Eu tenho alternativa e estou ajudando a Febem. Um ex-assessor meu administra a unidade Raposo Tavares. Desde que chegou lá, não teve mais rebelião, porque ele deu auto-estima para a garotada. Colocou computadores e tem dado prêmio por comportamento. Sabe qual é o prêmio? Assistir ao show do Zezé Di Camargo & Luciano e depois tirar fotografias. Eu estou colocando a mão na cumbuca. Já estou tentando marcar com outros artistas. Lá você vai ver uma Febem diferente. Será que não está faltando um pouco de amor ao próximo lá dentro? As pessoas têm de ser sentir valorizadas. Está faltando ao governador ver de perto essa realidade.

DIÁRIO – Mas só amor é suficiente?
RUSSOMANNO – É evidente que não. Precisa também de um pouco de estrutura e melhorar a qualidade de vida internamente. O que não dá é fornecer um curso de informática e escrever no certificado a palavra Febem, porque ninguém vai dar emprego. Não é burrice isso? O que você está plantando na vida de um jovem estampando que ele foi da Febem? Apenas fechando as portas para ele. São pequenas coisas que mudam a vida das pessoas. Falta uma coisa chamada sensibilidade. Ser humano não se administra com número.

DIÁRIO – Que experiências o sr. traria da eleição de 2000, quando disputou a Prefeitura de Santo André e perdeu?
RUSSOMANNO – Foi uma experiência magnífica. Conheci de perto os problemas da região. Independentemente de ganhar ou não, uma eleição para cargo majoritário de uma cidade da importância de Santo André é maravilhosa. Trago para essa eleição muita coisa que posso fazer como governador, conhecendo as deficiências da região, como segurança pública e saúde.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;