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Interagir é uma forma de respeitar meio ambiente

Crianças da Emeief Núcleo Pq.Andreense conhecem biodiversidade

Por Selma Viana
Do Diário do Grande ABC
17/11/2011 | 07:00
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A Mata Atlântica é rica em biodiversidade, com inúmeras espécies de animais e plantas. Tem mico-leão-dourado, cobra, onça e tamanduá; as bromélias, os ipês-roxos, as orquídeas e os cipós. Na parte da Mata Atlântica, que fica na altura do km 38 da Rodovia Índio Tibiriçá, tem também uma escola de Ensino Fundamental. A unidade atende crianças que vêm da Vila do Sapo, Estrada Velha e Clube de Campo; áreas com muitos sítios e chácaras.

As brincadeiras preferidas das crianças são subir em árvores como o jequitibá e as figueiras; caçar tatu ou passarinho e comer jabuticaba ou jaca tiradas do pé. 
Foi essa realidade que a professora Bárbara de Oliveira Cardoso encontrou quando, há sete anos, decidiu sair de sua casa, em São Bernardo, para lecionar na escola Núcleo Parque Andreense.

Nas conversas com os alunos percebia que tinham muita informação sobre a preservação do meio ambiente, inclusive em relação a temas complexos, como lençol freático. Mas faltava conscientização. "Animais domésticos para eles são o papagaio, o macaco, o lagarto, não só o cachorro e o gato. E tive de orientá-los a não matar a cobra porque não é ela que está invadindo a sua casa, nós é que invadimos a mata. A natureza está lá, no lugar dela e temos de respeitá-la assim", reflete Bárbara.

A professora observou ainda que havia alguns equívocos no conceito que eles tinham sobre cuidar e preservar. "Prender passarinho para cuidar dele não é preservar. E, uma vez, implorei a um aluno que não arrancasse flores para me dar de presente. Sabe o que ele fez? Trouxe uma flor e um vaso para eu plantá-la. Expliquei que isso não adianta nada na preservação", ri. Os meninos entenderam que é preciso respeitar a natureza e não interromper o seu ciclo em função dos caprichos do homem.

PROPOSTA

Em março, Bárbara deu início ao projeto Valorizando e interagindo com o meio ambiente. Orientou os estudantes a entrar em contato com a fauna e a flora da região com olhos de pesquisadores e responsáveis pelo bem estar. Nada de Google. O resultado foi lista de plantas e animais catalogados entre silvestres e domésticos. Ainda com outro olhar, estudantes foram estimulados a fazer muitas perguntas. Tiveram a ajuda de um biólogo para as respostas e o material colhido se transformou primeiro em cartazes, distribuídos pela escola, e depois no livro Você Sabia?.

Na etapa seguinte, ela organizou três saídas pedagógicas: caminhada no bairro, visita ao Parque Escola e à Escola de Educação Ambiental, da Secretaria do Verde e Meio Ambiente de Santo André.

Foi neste último passeio que a professora colheu o primeiro resultado. O menino Ryan Luis Cerqueira da Silva, 8 anos, voltou encantado para casa, chamou o pai para uma conversa e pediu: "Vamos lá no curso, fazer a matrícula? Porque eu quero ajudar o meio ambiente". Atualmente, ele e a irmã mais velha são agentes ambientais mirins. Regularmente saem em grupo para limpar praças e contar às pessoas que se a sujeira atingir o lençol freático, a água ficará poluída. "No relato das crianças percebo mudanças de postura da família com o meio ambiente", celebra Bárbara.

Alunos aprendem na aula a dar importância à água

Depois de enchente que estragou parte da Emeief Elizabete Leonardi, na Vila Guarani, em Santo André, no início do ano, a professora Lenice Delmolin de Oliveira foi surpreendida com a pergunta da aluna Quézia Karina Hernandes, 9 anos: "Se água é tão bom, porque ela faz isso?"

Imediatamente Lenice percebeu que a profundidade do que estava por trás daquela simples pergunta infantil era a oportunidade que tinha para discutir o assunto mais seriamente com toda a turma.

Foi assim que surgiu o projeto pedagógico Água. Água? Água!, tendo como objetivo sensibilizar crianças para a importância do elemento água na vida individual e coletiva, além de contribuir para que sejam agentes transformadores na comunidade para preservação do meio ambiente.

O projeto é interdisciplinar, englobando Ciências, Geografia, Matemática, Língua Portuguesa, História, Informática e Artes em seus mais variados aspectos.

"Discutimos desde a composição da água e o papel desse elemento na cadeia alimentar a aspectos geográficos, como localização da água no planeta, transformações climáticas, produção de textos, estatística, operações matemáticas, releituras de obras de arte, música, além de questões ligadas a alimentação e a higiene", descreve Lenice. Para isso, as metodologias aplicadas variaram de aulas teóricas e expositivas a passeios em áreas de manaciais, rodas de conversa, uso de computador para pesquisas, confecção de jogos e produções artísticas.

Com todo o apoio da direção e assistência pedagógica da escola, além de outras professoras que participaram ativamente no desenvolvimento do projeto, como Eloize Cristina Odoardi e Rosana Scocco Sorgato, Lenice já se prepara para levar o projeto para fora dos muros da escola. Como um dos assuntos recorrentes em todo processo de discussão foi o incômodo causado pelas enchentes e o mau cheiro provocado pelo Córrego Cassaquera, Lenice irá com a turma à comunidade que mora às margens do rio para conscientizar os moradores da importância em não jogar lixo no local e ter cuidado com a higiene. "Isso é muito importante, até porque muitos alunos moram perto do córrego", diz.

A professora afirma que já conta com a colaboração dos pais para série de atividades e na produção de materiais para o projeto. E elas também contribuem com feedbacks sobre o comportamento dos filhos. "Uma delas me disse que o filho passou a cobrar de todos em casa atenção com a economia de água, mantendo as torneiras bem fechadas", diz Rosana, lembrando de uma aluna que estava indignada com a demora do irmão no banho. "Ele gasta 15 minutos no banho, já pensou quanta água?", conta Rosana. E a aluna tinha motivo para alertar o irmão, afinal estudou que cinco minutos com a torneira aberta consomem cerca de 45 litros de água, enquanto 15 minutos, três vezes mais ou cerca de 135 litros.

ORGULHO

"A água é importante, sim, e a gente precisa não jogar lixo no rio e na rua para ela não causar coisas assim." A explicação é a da aluna Quézia, que hoje sabe muito bem que as enchentes e os alagamentos fazem parte de um problema ambiental e social muito mais complexo do que ela imaginava, e que as pessoas precisam refletir desde cedo sobre isso, como ela tem feito junto com os colegas e os professores na escola. O pai de Quézia, Jesus Hernandes acha muito importante a conscientização das crianças desde cedo. (Mirela Tavares)




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