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Aposentados ganham espaço nas centrais
Por Frederico Rebello Nehme
Do Diário do Grande ABC
26/02/2006 | 08:31
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Antes colocado em segundo plano, o contingente de mais de 20 milhões de brasileiros aposentados está se tornando cada vez mais valioso para as centrais sindicais. A crescente organização dos aposentados em sindicatos e associações nacionais tem chamado a atenção da cúpula dos movimentos sindicais e gerou neste ano, pela primeira vez, uma campanha unificada pelo aumento do valor de seus benefícios.

Hoje, pelo menos 830 mil aposentados são filiados a entidades representativas, cujos orçamentos, somados, resultam em aproximadamente R$ 40 milhões (ver quadro). Eles formam um grupo com força política ascendente e que está se tornando uma das mais importantes “categorias” dentro das centrais.

A mobilização dos aposentados começou a crescer exponencialmente a partir do ano de 2000, com o surgimento dos sindicatos nacionais de aposentados da Força Sindical – atualmente o maior, com 500 mil filiados – e da CUT. Antes, havia apenas a Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas), que, apesar de possuir grande representação – cerca de 300 mil filiados –, não conseguia envolver o movimento sindical em suas bandeiras.

“Antes, quem defendia o interesse dos aposentados eram os próprios sindicatos de classe, que ainda mantêm suas associações próprias. Com a criação dos sindicatos nacionais, as centrais passaram a dar mais atenção aos aposentados. Hoje é quase impossível discutir uma pauta nacional sem a presença deles”, afirmou João Felício, presidente nacional da CUT.

Para o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a organização dos aposentados deu um “poder de fogo sem precedentes” à “categoria”. “No caso da Força, passamos a incentivar a formação de sindicatos nacionais com base na experiência italiana de organizações desse tipo, e tivemos um retorno muito grande. Os aposentados têm grande capacidade de mobilização.”

A participação dos sindicatos de aposentados em questões mais amplas defendidas pelas centrais também tem aumentado. Na negociação do aumento do salário mínimo, por exemplo, os aposentados tiveram forte atuação – até porque o reajuste deles tem impacto nos benefícios previdenciários.

“Demos apoio à uma campanha das centrais sindicais que beneficia todos os trabalhadores. Agora precisamos de apoio político para avançar na nossa pauta, mas não queremos que as centrais assumam as negociações com o governo. Nós precisamos liderar as negociações”, afirmou Wilson Roberto Ribeiro, coordenador político do sindicato dos aposentados da CUT.

Desacreditados – Na avaliação de João Batista Inocentini, presidente do sindicato da Força Sindical e recentemente eleito um dos vice-presidentes da central, os sindicatos nacionais de aposentados eram vistos como projetos que não vingariam. Entre as razões, estariam a diversidade de categorias reunidas nesse grande grupo e também a existência de associações representativas de aposentados ligadas aos sindicatos.

“Ninguém achava que os sindicatos dos aposentados dariam certo. Todo mundo sempre usou os aposentados como massa de manobra, quando necessário. Hoje, já conseguimos maior aceitação entre os sindicatos. Quanto mais força tivermos, mais apoio político vamos conseguir das centrais”, afirmou Inocentini.

Reconhecimento – Para Ribeiro, coordenador do sindicato da CUT, o avanço dos aposentados tem afetado inclusive o tipo de estrutura ao qual a “categoria” tem acesso dentro das centrais. “Contamos hoje com uma assessoria que nunca tivemos, que está ajudando na formulação de nossas propostas”, afirmou o sindicalista.

Neste ano, o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) prepara estudos sobre a defasagem dos vencimentos dos aposentados nos últimos anos e sobre a diferença dos valores mínimos e máximos de benefícios.  




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