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Quatro PMs suspeitos de chacina no Jardim Kennedy são afastados
Por Artur Rodrigues e
Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
18/02/2006 | 08:45
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Quatro policiais militares do 30º Batalhão, de Mauá, foram afastados nesta quinta sob suspeita de envolvimento em chacina que vitimou três pessoas na favela do Jardim Kennedy, no dia 9 de janeiro deste ano. Os PMs foram reconhecidos por testemunha presencial e, caso não apresentem álibis convincentes, podem ser presos. O comando da PM no Grande ABC abriu inquérito para investigar as acusações contra os policiais, que foram colocados à disposição da apuração. A denúncia dos moradores foi publicada em reportagem do Diário no último domingo.

Na quinta, uma testemunha colhida pela Polícia Civil de Mauá reconheceu quatro PMs por fotografias e dois deles pessoalmente. No reconhecimento feito no 30º Batalhão, a moradora identificou dois policiais. Um ela errou. Outro não estava no local. O coronel Renato Aldarvis, CPA/M-6 (Comando do Policiamento de Área Metropolitano - 6), o delegado titular de Mauá, Américo dos Santos Neto, e a promotora Adriana Ribeiro Soares de Morais acompanharam o processo.

A testemunha contou às autoridades que viu os PMs cometerem o triplo assassinato e que, na cena da chacina, havia uma viatura. Era uma Blazer da Polícia Militar. Antes de sair do local, um dos suspeitos chamou a ambulância pelo rádio, afirma a moradora do Jardim Kennedy. Ela foi incluída no Programa de Proteção à Testemunha e não está mais na favela. Outra pessoa que alega ter presenciado à chacina ainda não fez o reconhecimento dos suspeitos.

Um dos próximos passos é verificar se as pessoas assassinadas em 9 de janeiro e outras três, executadas no mesmo local, em 23 de julho de 2005, morreram de tiros da mesma arma. A Polícia Civil pediu exame balístico comparativo dos casos. Segundo testemunhas entrevistadas pela reportagem, os dois crimes foram cometidos pelos mesmos PMs. O delegado Américo dos Santos afirma que os depoimentos coincidem com os publicados nas reportagens ao longo desta semana.

Os dois triplos homicídios têm características bastante semelhantes. Mesmos horários (de madrugada), descrições de PMs fardados e viaturas na cena do crime são algumas das descrições coincidentes. A principal diferença é o fato de que na última chacina o local do crime não foi preservado, segundo moradores da favela. Eles afirmam que as três vítimas já estavam mortas quando foram levadas. Um rapaz de 17 anos, baleado na cabeça, sobreviveu ao incidente. Morreram o ferramenteiro Roberto Pinheiro Yamaguti, 28 anos, a vendedora Jaqueline Alessandra dos Santos Gomes, 18, e um homem que ainda não foi identificado. Os moradores acusam PMs que utilizavam a viatura 30070, na época do último crime, e a 30080, em julho do ano passado.

O coronel Renato Aldarvis, comandante da Polícia Militar no Grande ABC, disse que os quatro policiais militares afastados estão passando os dias com o pessoal do expediente do 30º Batalhão de Mauá, à disposição das diligências de investigação dos casos do Jardim Kennedy. À noite, eles podem voltar para suas casas. Apenas estão suspensos das atividades operacionais da PM, ou seja, não podem fazer policiamento de rua. Mas não têm restrição para o desempenho de atividades administrativas.

Aldarvis abriu na última quinta-feira um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar as acusações contra os quatro policiais da Força Tática do 30º Batalhão. “Nós tomamos conhecimento ontem (anteontem) de que havia testemunhas. Até então, havíamos feito uma apuração preliminar, na qual não conseguimos informações importantes na favela. Agora, chegamos à conclusão de que há elementos para abrir um inquério. Intensificamos, portanto, as investigações”, disse Aldarvis.

O comando da PM teve contato com as testemunhas por meio da Polícia Civil. “Uma delas prestou depoimento no inquérito. Existem pontos que não estão claros, o que é comum nos relatos de qualquer pessoa que presenciou um crime. Mas, por enquanto, não há elementos suficientes para prender alguém (algum policial militar)”, disse o comandante da PM no Grande ABC.

O inquérito da PM tem prazo de 30 dias para conclusão, a partir da data de início (quinta-feira). O coronel Aldarvis afirma que convidou a promotora Adriana Ribeiro Soares de Morais, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), para acompanhar todo o processo de investigação do caso no IPM. “As armas dos policiais suspensos também foram apreendidas e enviadas à Polícia Científica, para análise.” Para o coronel, a prisão dos policiais militares afastados depende “do mínimo” de coerência entre acusação e provas fatídicas.

Cada policial suspeito está sendo interrogado nos inquéritos que correm pelas polícias Civil e Militar. O coronel Aldarvis garantiu à reportagem que informará os nomes dos policiais suspeitos caso eles sejam presos. “Por enquanto, não posso fazer isso.” O IPM é presidido pelo major Carvalho, comandante interino do 30º Batalhão, mas o coronel Aldarvis diz ser quem solucionará a questão. Segundo Aldarvis, em caso de comprovação de culpa por parte dos policiais militares suspeitos, o comando do 30º Batalhão não será responsabilizado pelos episódios.




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