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Crime em shopping faz psiquiatras temerem discriminaçao a pacientes
Do Diário do Grande ABC
06/11/1999 | 15:33
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Psiquiatras temem que o caso do estudante Mateus da Costa Meira possa contribuir para o crescimento da discriminaçao de pacientes psiquiátricos. "Nao se deve generalizar e correr o risco de trazer mais sofrimento a quem tem problemas mentais", disse o presidente da Associaçao Brasileira de Psiquiatria, Miguel Jorge. Segundo Jorge, 20% da populaçao pode apresentar algum tipo de patologia psiquiátrica, das mais leves até as gravíssimas. Esse índice sobe para 30%, se o foco for o sofrimento psíquico de qualquer tipo, sem que seja uma doença mental. "Apenas 3% do total vai apresentar quadros mais graves de manifestaçoes psicóticas, como alucinaçoes", afirmou.

"Quem cheira cocaína, num quadro agudo, pode entrar em paranóia e também se encaixar nesses 3%", explicou. Jorge ressaltou que, mesmo nos casos extremos, só uma parte muito pequena pode oferecer riscos à sociedade ou a si próprio. Sexta-feira (05), alguns parentes de pessoas com transtornos mentais até procuraram médicos, preocupados que o caso de Meira pudesse repetir-se em suas famílias. "Expliquei às maes que o risco existe, mas ocorre em uma parcela muito pequena e é preciso nao confundir com uma ameaça real", disse o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, que tem dois pacientes com alucinaçoes auditivas. "O que mais angustia é a imprevisibilidade humana".

Ele lembrou que as auto-agressoes sao mais freqüentes do que a violência contra o outro. "Num caso extremo, o único que presenciei em 22 anos de profissao, um paciente do Hospital das Clínicas que sofria de alucinaçoes visuais chegou a arrancar os olhos para livrar-se da perturbaçao", afirmou. "Depois suicidou-se". O diretor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, Wagner Gattaz, disse que a maioria dos doentes mentais nao é agressiva e tendências homicidas ou suicidas (essas sao as mais fortes) podem ser detectadas durante o tratamento. "Mas nao sempre".

Há alguns problemas que emperram a descoberta, como o fato de alguns pacientes nao contarem tudo o que sentem ou a influência de um fator repentino. "Quem tem alucinaçoes auditivas, ouve vozes dando ordens de repente, que a pessoa executa; a tragédia é imprevisível". Ele lembrou que álcool e drogas podem ser fatores desencadeantes de um ato de violência, nao necessariamente ligados a doenças mentais.

"Um estudo feito na Dinamarca mostrou que 1,5% da populaçao total já havia cometido algum ato de violência, desde a agressao até o homicídio", explicou. Entre a populaçao de doentes mentais internados, esse índice subiu para 6,7%. "Mas a situaçao agravava-se com os dependentes de álcool e drogas internados, com níveis de 10% e 13%, respectivamente". Segundo o professor-titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp-EPM Jair Mari, estudos apontam que, em países onde é grande a violência é de apenas 3% a participaçao das pessoas com transtornos mentais nos índices de violência global.




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