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Filme traz o açúcar amoral contra o amargor do despotismo
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
26/11/2000 | 17:39
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Igual aos seus contemporâneos - sejam os do Cinema Novo brasileiro ou os da Nouvelle Vague francesa - o cineasta Dusan Makavejev é contestador. E nao sao só planificaçoes políticas que estao em sua linha de fogo. Estruturas familiares e sociais aparentemente estáveis ficam em perigo sob o terrorismo ideológico do cineasta iugoslavo, cuja contracultura santifica também o sexo livre e a escatologia. Essa fuzarca está registrada em Sweet Movie, filme de 1973 exibido no Espaço Unibanco de Cinema, em Sao Paulo.

A produçao descarta a linearidade narrativa. O despudor beira a amoralidade (neutra, nada a ver com imoralidade) em Sweet Movie, nunca sem trazer a grossa estampa da revoluçao comportamental que se seguiu entre os anos 60 e 70. Makavejev é escandaloso, sem conotaçao negativa. Assim pedia a época. Se atuava como carbonário, era para responder à tesoura descabida da censura que vigorava em regimes baseados no despotismo.

Duas histórias compoem a obra. Simultâneas, reveladoras. Em uma, há a modelo que se casa com um magnata do açúcar. O doce do título (sweet) nesse núcleo fica a cargo do banho de chocolate ao qual se submete a moça. Chocolate amargo depois da intervençao do capital. Foge, acomodada em uma mala, para Paris.

A segunda é protagonizada pela comandante de um navio cargueiro. A mulher sobe e desce, até encontrar um dissidente do Encouraçado Potenkim. A carga é açúcar, que perde o sabor com a injeçao de totalitarismo que resulta do encontro. A carranca da embarcaçao, que reproduz a cabeça de Karl Marx, e as idéias socialistas da mulher nao estao ali à toa. Formam o alvo da crítica impetrada contra sistemas de unificaçao econômica, que desfavorecem a revoluçao ideal, a anarquista.




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