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Cetesb avisou São Caetano sobre BHC
Por Elaine Granconato
Da Sucursal do Diário em São Caetano
09/09/2001 | 17:18
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A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) enviou três ofícios, entre abril de 1997 e outubro de 1998, à Prefeitura de São Caetano em que solicitava o isolamento do terreno de 250 mil m² que abrigou as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, no bairro Fundação. O local foi contaminado por mercúrio e resíduos de hexaclorociclohexano, conhecido por BHC, ambos produtos altamente tóxicos e prejudiciais à saúde. No último dia 1º, o diretor da Desem (Diretoria de Serviços Municipais), Iliomar Darronqui, havia informado à reportagem do Diário que “nunca recebeu oficialmente nenhuma notificação da Cetesb” sobre o problema da contaminação no terreno. Em 1998, Darronqui era diretor de Obras e de Meio Ambiente.

Na quinta-feira passada, porém, a Prefeitura voltou atrás e admitiu que, não só recebeu os ofícios, como também atendeu a todas as solicitações da Cetesb. “Colocamos, no mínimo, por cinco vezes, placas nas áreas contaminadas; também pedi para erguer muros, mesmo sem ser obrigação da Prefeitura, por se tratar de área particular. Aliás, as medidas foram tomadas sempre com a Matarazzo”, disse Wenceslau Teixeira, diretor do DAE (Diretoria de Água e Esgoto), e que na época dos ofícios era presidente da Comissão de Defesa Civil da Prefeitura. Procurado pela reportagem, por meio da diretoria de Comunicação da Prefeitura, o diretor Darronqui não quis falar sobre o assunto.

A Cetesb, porém, nega ter recebido respostas por parte da Prefeitura sobre ações na área da Matarazzo. E afirma que, na última vistoria feita na área (dia 30 de agosto passado) técnicos da empresa constataram que não há placas de advertência, muros e cercas que impeçam a entrada no terreno. O engenheiro João Antônio Romano, gerente regional da Bacia do Alto Tietê (responsável pelas agências de Santo André, Ipiranga e Vila Prudente), afirmou que nunca recebeu retornos dos ofícios enviados pela Prefeitura. “Se tomaram providências, não nos comunicaram”, disse.

Apesar de assumir que recebeu os ofícios, a Prefeitura de São Caetano afirma que até hoje não sabe exatamente qual a extensão e as conseqüências da contaminação na área. “Oficialmente, a Prefeitura nunca recebeu um laudo da Cetesb sobre o grau do problema da contaminação”, disse o assessor jurídico da Prefeitura, Antônio Gusman Filho. Segundo o advogado, o órgão jamais apontou o “perigo concreto” em qualquer ponto do terreno que pudesse exigir a interferência da administração municipal ou órgãos do Poder Judiciário para remoção das pessoas, por exemplo.

Porém, após afirmarem que não sabem de fato qual a extensão da área, Teixeira, Gusman e o assessor da Diretoria de Saúde e Vigilância Sanitária, Edson Hiroshi Kakiushi, informaram que a “maior área de contaminação” ficaria em São Paulo. Em 1987, uma obra do Daee (Departamento de Água e de Energia Elétrica) desapropriou uma faixa de terreno da Matarazzo para a canalização do ribeirão dos Meninos. A mudança na trajetória do rio teria interferido nos limites da cidade, e parte do terreno, que antes pertencia a São Caetano, ficou do lado de São Paulo. O trecho, contaminado com BHC, transformou-se então em ‘terra de ninguém’.

Do lado de São Caetano, tambores de produtos agrotóxicos permanecem espalhados pelo matagal. A área é de fácil acesso pela avenida dos Estados, conforme a reportagem do Diário constatou. Além do BHC e do mercúrio, segundo os técnicos da Cetesb, o terreno também estaria contaminado com salmora, cloro e soda.

Em ofício enviado no dia 7 de outubro de 1998 ao prefeito Luiz Olinto Tortorello, a Cetesb informa que “conforme é de conhecimento de Vossa Excelência”, a área “encontra-se contaminada por mercúrio e resíduos de BHC, tornando-se imprópria à permanência e trânsito de pessoas no local” e afirma que a Prefeitura não informou o órgão a respeito da realização da Festa Italiana na área.

A companhia destaca ainda que os técnicos do órgão, em visita ao local, “constataram que várias áreas foram utilizadas como estacionamento de veículos, inclusive algumas delas fazendo divisa com as áreas críticas.”

Tanto Gusman quanto Teixeira afirmaram que todas as medidas de proteção foram tomadas pela Prefeitura. Porém, na última edição da Festa Italiana (ocorrida entre 4 e 26 de agosto), a reportagem constatou que cercas que dão acesso às áreas contaminadas estavam cortadas. “Algumas pessoas que vêm de São Paulo, e que costumam passar por dentro do terreno da Matarazzo para não pagar o ingresso de entrada da festa, podem ter aberto o buraco”, disse Teixeira.

O diretor afirmou ainda que as placas de advertência são roubadas do terreno. “Tem gente que usa na construção de barracos em São Paulo.”




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