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Setor automotivo mantém otimismo, apesar da crise

Indústrias do setor automotivo na região mantêm a confiança em relação ao cenário econômico do País

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
13/10/2008 | 07:02
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Indústrias do setor automotivo na região mantêm a confiança em relação ao cenário econômico do País, e dão seqüência a planos de ampliação e modernização, apesar das preocupações com os efeitos da crise financeira internacional - originada nos EUA e deve reduzir o crédito e o consumo no mundo todo.

Entre os fatores para demonstrações de otimismo estão o aquecimento do mercado até agora, a demanda reprimida e o desenvolvimento tecnológico das empresas.

"O momento é difícil mundialmente, mas o Brasil tem oportunidade para continuar em crescimento", afirma o presidente da Magneti Marelli Powertain (o grupo tem duas fábricas no Grande ABC), Virgílio Cerutti, que lembra que no País há apenas um carro para cada nove habitantes.

A empresa, que lançou na última semana um novo sistema de motorização bicombustível (que pode reduzir o a emissão de CO2 e o consumo de combustível em 5%), inaugura em novembro uma fábrica, com investimento de 8 milhões de euros (estimados R$ 24 milhões), em Hortolândia (SP).

Outras empresas do segmento também vêem forte potencial de crescimento, entre elas a B.Grob, de São Bernardo, que deve investir 2,5 milhão de euros (cerca de R$ 7,5 milhões) em 2009 para ampliar a fábrica em 10%; e a Saint-Gobain Sekurit, de Mauá, que já trabalha no limite da capacidade produtiva.

A empresa de Mauá, que acaba de colocar no mercado novas linhas de pára-brisas anti-embaçantes para veículos comerciais, aposta na demanda represada no mercado para crescer no ano que vem.

O gerente do mercado de reposição e Exportação da Sekurit, Rubens Sautner, afirma que devem ser feitos investimentos para a empresa se adequar à expansão do setor de veículos e também pelo fato de a fábrica já operar a plena carga. "Precisamos recompor estoques", afirmou.

Sautner avalia que a alta do dólar pode significar uma melhora no volume vendido ao Exterior, que hoje junto com o mercado de reposição corresponde a 10% do faturamento. "Estava inviável exportar", disse.

 

Crédito e câmbio trazem preocupação

A confiança da indústria automotiva na força do mercado nacional não impede que haja preocupações em relação ao cenário atual, seja por causa das perspectivas de restrições de crédito, seja por causa da própria alta do dólar, que eleva custos com matéria-primas importados.

"Usamos muito plástico de engenharia que vem do Exterior, 20% do custo total do material é ligado ao dólar", afirmou Mario Henrique Buttino, presidente da Dura Automotive, de Rio Grande da Serra. Ele acrescenta que a empresa, que tem faturamento bruto anual de R$ 230 milhões, não têm fortes exportações e, por isso, não se beneficia da nova tendência do câmbio.

Buttino relata ainda que os insumos já vinham sofrendo fortes reajustes neste ano. Além disso, a companhia também terá as vendas prejudicadas neste mês pela parada, para férias coletivas, na GM e na Fiat. "Teremos de 10% a 15% de redução neste mês", disse.

Para compensar perdas e elevar a produtividade, a fabricante tem intensificado o foco em um programa chamado Lean Manufacturing, de produção enxuta, em que busca reduzir custos, ao criar células de fabricação. São minifábricas, dentro da planta fábril, em que se descentraliza as ações até o nível o chão-de-fábrica, com a divisão de responsabilidades.

Com investimento de mais de R$ 2 milhões nos dois últimos anos em novos produtos, a Dura produz hoje mais de 1,2 milhão de peças ao mês, de itens que vão de cabos de freios, mecanismos de engate de marcha, pedais, janelas, macacos e dobradiças.

ESPECIALISTA
Para a consultora Leticia Costa, da Booz & Company, o mercado doméstico do setor ainda tem potencial significativo de crescimento mas a perspectiva é de desaceleração no ritmo em 2009, por conta dos sinais de menor disponibilidade e do maior custo do financiamento.

Vendas de veículos são dependentes do financiamento

No elo final do segmento automotiva, as vendas de veículos são em 65% dos casos feitas a prazo, e por causa disso, as alterações observadas nas condições dos financiamentos têm ajudado a assustar o consumidor e podem afetar resultados da indústria.

O presidente da Anef (Associação Nacional dos Executivos de Financeiras de Montadoras), Luiz Montenegro, ressalta, no entanto, que as mudanças nas linhas de crédito têm ocorrido ao longo dos últimos meses e não podem ser vinculados diretamente à crise que foi detonada nos EUA nas últimas semanas.

As condições de concessão do financiamento tem se tornado mais rigorosas. Os bancos ligados às fabricantes chegaram a oferecer planos de 84 vezes para financiar carros em meados do ano passado, mas desde o final de 2007, há um processo de redução desses prazos. Ao invés de 84, o máximo agora são 60 meses, embora os planos, em média, tenham se mantido em 42 parcelas.

Em relação aos juros, que vêm em ascensão - passaram da média de 1,74% ao mês em julho, para 1,78% em agosto, chegando a 1,80% em setembro, de acordo com números da associação - a tendência, segundo Montenegro, é que continuem subindo.

Mas ele ressalva, que, assim que houver uma estabilização do mercado, podem se estabilizar e voltar a cair. O executivo acrescenta que há taxas promocionais. "Deve se aproveitar as promoções, os carros estão sendo produzidos e há ofertas", afirmou.

Mesmo com todas as turbulências, a Anef projeta uma alta de 30% no saldo da carteira de crédito no final deste ano frente a 2007, para o total de R$ 144 bilhões. Para 2009, a expectativa de Montenegro é, "se a economia se mantiver atual da crise, dará para crescer 15%".




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