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Montadoras param para ver a crise passar

Embora ainda não admitam os efeitos da crise, a General Motors e a Fiat anunciaram férias coletivas

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
07/10/2008 | 07:01
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A indústria automobilística entrou em compasso de espera por causa dos efeitos da crise financeira internacional. Embora não admitam a relação direta com as turbulências, que têm desaquecido as vendas no mercado externo, duas montadoras - a General Motors e a Fiat - anunciaram que vão parar neste mês a produção por um prazo determinado (até 20 dias) e pagar férias coletivas para parte de seus funcionários.

A General Motors vai interromper a fabricação de veículos em São Caetano dos dias 20 a 29 deste mês e colocará para descanso cerca de 5.000 funcionários da unidade. "O que nos moveu basicamente foi a queda do volume de exportações, houve uma redução muito grande para o México, Argentina, África do Sul e a Venezuela", disse o vice-presidente da montadora, José Carlos Pinheiro Neto.

As vendas da GM ao Exterior, de janeiro a setembro deste ano, registram queda de 17% em termos de volume de CKD (veículos desmontados) e 32% em carros montados.

O presidente interino do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano. Francisco Nunes Rodigues, disse que se surpreendeu, mas que já houve a partir desse mês uma redução na produção, de uma jornada semanal de 41,5 horas (40 horas mas uma hora e meia de extra) para 40 horas. "A empresa informou que, como o mercado se retraiu, a decisão foi uma forma de preservar empregos", disse. Com isso, deixam de ser produzidos de 50 a 52 veículos por hora nessa fábrica.

Pinheiro Neto afirma que não é possível fazer uma conexão direta dessa diminuição com a crise internacional. "Já vinha acontecendo uma queda, vínhamos aumentando o preço, já que o dólar não nos favorecia. Quando se aumenta o preço, o volume cai", disse.

No caso da Fiat, foram anunciadas férias coletivas para 1.700 empregados diretos a partir do dia 13, por período de dez e de 20 dias. No entanto, não haverá parada, mas redução na produção, de 2.700 veículos por dia ante a média diária atual de três mil.


Setembro foi o segundo melhor da história

O setor automobilístico registrou em setembro o segundo melhor mês da história do segmento no País para as vendas de veículos zero-quilômetro, atrás apenas de julho deste ano - quando foram vendidas 288,1 mil unidades. Foram 268,7 mil veículos comercializados, 31,7% mais que no mesmo mês do ano passado, de acordo com dados divulgados ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

A associação tinha, com isso, bons motivos para comemorar o desempenho do mercado, mas o momento, agora, é de preocupação com o futuro, em função das oscilações do mercado financeiro internacional.

"É preciso ter um pouco de serenidade para esperar acalmar (o mercado financeiro)", disse o presidente da Anfavea, Jackson Schneider.

Segundo ele, o mercado interno ainda está vigoroso, apesar de um movimento de altas nas taxas de juros observada no varejo.

Para o dirigente, recentes elevações de juros não foram significativos, por ora, embora haja preocupação de que aconteçam novos aumentos. Em agosto último, a taxa média dos bancos das montadoras estava em 23,6% ao ano, frente aos 19,6% do mesmo período do ano passado.

Como 65% das vendas do setor são financiadas, novas altas podem impactar no segmento. A redução dos prazos também pode significar retração nesse mercado. A Anef (Associação Nacional das Financeiras de Montadoras) aponta que os planos máximos se mantêm em 72 meses, mas esse prazo é cada vez menos utilizado.

Vendas ao mercado externo desanimam setor

Se há confiança em relação ao desempenho das vendas no mercado interno, a Anfavea aponta que, em relação às exportações, que (em valores) estão 9% maiores de janeiro a setembro frente a igual período de 2007, as perspectivas são de desaquecimento.

"Mercados tradicionais serão mais afetados, 10% das exportações do setor vai para a Europa (vários países europeus já registram recessão), e há encomendas importantes para o México, que é muito ligado ao mercado americano", disse o presidente da associação, Jackson Schneider.

Segundo ele, embora o dólar esteja se valorizando - o que em tese é benéfico para as vendas ao Exterior -, a retração na demanda internacional trabalha contra a obtenção da maior rentabilidade com as encomendas externas.

"É preciso olhar mercado a mercado e deixar passar o momento de turbulência", disse.

Na avaliação do dirigente, há ainda a questão de dificuldade de crédito para exportação, mas ele considera que o governo tem atuado prontamente para atenuar esse problema, com a liberação de recursos para o financiamento das vendas a outros países. "Temos uma autoridade monetária ativa. O Banco Central está vendendo dólares com o compromisso de recompra em 30 dias e tem outros instrumentos para oferecer condições aos exportadores", disse.

Em relação ao sistema financeiro internacional, a associação considera que o País está em situação mais tranqüila. "O Brasil não tem problemas de solvência (quebra de empresas), apenas de liquidez", disse.




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