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Simplesmente genial
Por Carlos Ferrari
15/09/2014 | 07:00
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Encanta-me a convergência dessas duas palavras compreendidas equivocadamente por alguns como antagônicas. O genial é ‘simples’ por essência e essa peculiaridade é que coloca algumas ideias e fenômenos nesse nível de reconhecimento por determinados segmentos sociais. Assim, soluções ‘simples’, como uma bolinha no número cinco do teclado numérico de telefones ou um design tátil diferenciado em determinadas embalagens, produzem para nós, cegos, um resultado de autonomia que nos faz celebrar tais implementos como simplesmente geniais.

Nunca vou me esquecer do meu assombro diante da descoberta de que as fitas cassetes em sua grande maioria – aqui tenho que abrir aspas gigantes para dizer que estou falando de uma mídia de áudio que provavelmente um percentual significativo de meus leitores jamais tenha visto ou tocado –, essas belezinhas que tinham músicas ou quaisquer outros sons gravados tanto no lado ‘A’ quanto no lado ‘B’, vinham com uma marcação bem discreta com as letras ‘A’ e ‘B’ também em Braille. Um dia, contando isso para um amigo, o cara falou: ‘Simplesmente genial, pois no escuro, até para quem enxerga, fica terrível saber o lado correto da fita’.

Notem que estou falando de pequenas sacadas, mas com forte impacto inclusivo. Eu poderia também buscar exemplos na mesma linha em receitas culinárias, músicas, pinturas, artes plásticas, enfim, em tudo aquilo que é produto da intervenção humana passando, a partir de então, a ser significativamente mais importante, agradável ou acessível para pessoas que venham a interagir ou que precisam daquela solução. 

Mas vamos voltar para as belas ideias que podem promover grandes níveis de autonomia e acessibilidade. Esta semana após atualizar meu WhatsApp, fiquei maravilhado com a nova implementação proposta pelos ‘caras’.

Trata-se de um botão a mais que permite ao usuário tirar fotos de dentro do próprio mensageiro, podendo logo em seguida inserir legendas e encaminhar.

Penso que muito do sucesso desse aplicativo se deu pela possibilidade de as pessoas constituírem grupos e poderem com agilidade e ‘privacidade’, compartilhar entre si ideias momentos bacanas que logo poderiam ser comentados e repercutidos de acordo com o nível de importância – ou falta dela – para os envolvidos. Contudo, até então nós, pessoas cegas, acabávamos no momento em que recebíamos as imagens ficando sem saber do que se tratava e, por muitas vezes, parecendo indelicados por não comentar algo que era compreendido como merecedor de atenção por nossos interlocutores.

É claro que já era possível inserir legendas nas fotos antes desse recurso do aplicativo, mas o trabalho seria bem mais complexo e chato de ser realizado. Agora o WhatsApp deu um pontapé inicial para que toda aquela pessoa que encaminha uma foto o possa fazer com criatividade suficiente para que qualquer outra pessoa que a receba possa ‘ver, curtir e comentar’.

Fica meu convite para que experimentem a brincadeira. Mesmo não tendo amigos cegos, passem a exercitar a cultura de legendar suas fotos no WhatsApp. Basta inserir uma pequena descrição e pronto, simplesmente genial, visto que, enxergando ou não, todos poderão ver de verdade suas fotografias. 

Depois que pegar gosto pela coisa já pode ampliar seus horizontes. Dá para legendar também no Facebook, Twitter e tantas outras redes sociais que ainda não trazem a mesma facilidade e que teriam tal medida muito bem-vinda.




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