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O pé que congela a bola

Tudo bem, não vamos levar a sério as maldades que fazem com a temperatura dos pés do presidente Lula

Carlos Brickmann
30/05/2010 | 00:00
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Tudo bem, não vamos levar a sério as maldades que fazem com a temperatura dos pés do presidente Lula. É certo que ele visitou o vestiário do Corinthians que, em seguida, perdeu para o Flamengo; é certo que, depois de ir ao palácio, Gustavo Kuerten nunca mais venceu um torneio; é certo que, após visitá-lo, Popó perdeu o título de campeão mundial dos leves e sua carreira definhou. Diego Hypólito, favoritíssimo em Pequim, encontrou-se com o presidente antes da viagem. Nas Olimpíadas, caiu sentado no chão e nada ganhou. Mas o problema da visita da Seleção ao presidente Lula não é a sorte ou o azar: é que a mistura entre política e futebol nunca deu certo. Homenagens de governantes a campeões ainda vá lá; mas as tentativas de capitalizar o ovo ainda não botado nunca dão certo.

O grande exemplo foi a Copa de 1950. A Seleção estava concentrada no Joá, longe das aglomerações; foi transferida para o estádio de São Januário, onde todos os políticos do país puderam visitá-la. O prefeito do Rio saudou a Seleção pela vitória antes do jogo contra o Uruguai. Afinal de contas, o empate bastava para o Brasil. O Brasil marcou primeiro. E o Uruguai virou e ganhou a Copa.

Em 1954, na Suíça, a preleção aos jogadores envolveu até a necessidade de vingar os mortos de Pistóia - se bem que os brasileiros enterrados no cemitério italiano tinham morrido no combate contra nazistas e fascistas, sem nada a ver com a Suíça (nem com a Hungria, que eliminou o Brasil). Quem disputa uma Copa tem de sentir-se leve, livre, feliz, focado na disputa. A política só atrapalha.

ANTICAMPANHA
A campanha de Serra, a propósito, tem sido estranha. Baseia suas esperanças na possível, mas pouco provável, candidatura de Aécio Neves a vice; dá às pesquisas um papel que definitivamente não têm, de geradoras de voto. E como garantir que Serra voltará a liderar com folga depois que puser no ar seus primeiros programas de TV? As coisas não são assim: se Serra subir depois da TV, o impacto será menor, pois já anunciado; se não subir, a decepção será muito maior. E liderar pesquisas, ainda mais antes do horário gratuito, não significa vencer. Maluf liderou muitas vezes e muitas vezes foi derrotado na reta final. Quanto a Aécio, ninguém vota num candidato por causa do vice. Fernando Henrique venceu com Marco Maciel de vice. Como ensinava Jô Soares, vice não serve nem para nome de rua. Se a entrada de Aécio é tão essencial para a vitória, isso significa que Aécio é que tem os votos. E o candidato deveria ser ele.

AUTO-ANTI-CAMPANHA
Do Twitter do candidato tucano José Serra, dia 27: "Um governador comparou-me ao curiango, que só vive à noite. Divergi: vivo também de dia!" Curiango é uma ave. Há um curiango ameaçado de extinção - o bacurau-de-rabo-branco. Pela cor do rosto de Serra, imagine-se o restante do corpo! Há o curiango comum, também conhecido como bacurau, maria-angu ou engole-vento. E há candidatos que, para flertar com o esdrúxulo, nem precisam de adversário.

QUEM É O CARA?
O pessoal mais ligado ao presidente Lula diz que Barack Obama desistiu de vir ao Brasil antes das eleições por influência de Fernando Henrique. Mas O Cara nem deveria tocar no assunto: se um ex-presidente que encerrou o mandato há oito anos tem mais influência do que ele em Washington, a coisa anda mal.

QUEM É A BOLA?
Milton Neves é um jornalista de sorte: há alguns anos, fez uma entrevista com Lula em que o então candidato promete tudo, menos o que realmente fez mais tarde no poder; agora, em viagem para a África do Sul, faz uma entrevista no avião com Fernando Henrique em que o ex-presidente, que recebeu em Brasília a Seleção campeã do mundo de 2002 (aquela visita famosa, em que Vampeta, cheio de boas ideias, deu cambalhotas na rampa do palácio), diz que até agora achava que a Seleção tinha perdido a Copa.

QUEM SABE, SABE
O tucano Eduardo Cury, prefeito de São José dos Campos, SP, moveu processo no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) contra o radialista Antônio Leite, da Rádio Planeta, o deputado petista Carlinhos de Almeida, o presidente do Sindicato dos Motoristas de Ônibus e outros por terem prejudicado sua campanha, ao qualificá-lo de "prefeitinho" e "frouxo". Cury perdeu o processo. E ainda teve de ouvir o voto de um desembargador federal para quem que a aceitação das expressões "prefeitinho" e "frouxo" é tema de ação criminal, não do tribunal eleitoral, e completou: "Mas que em São José dos Campos alguém é frouxo, isso é".

O VOTO DA INDÚSTRIA
O empresariado paulista, quem diria, é comandado pela esquerda. Paulo Skaf, presidente da Fiesp, Federação das Indústrias de São Paulo, licenciou-se para ser candidato ao Governo pelo Partido Socialista Brasileiro (faz parte da corrente dos social-socialistas, socialistas com cadeira cativa em colunas sociais). Seu substituto na Fiesp, Benjamin Steinbruch, dono da Companhia Siderúrgica Nacional e do Grupo Vicunha, vota PT: é Dilma desde criancinha. Nenhum dos dois fez ainda a visita protocolar a Fidel Castro, mas é só o que falta.




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