O primeiro emprego é sempre algo bastante esperado. Em se tratando de uma pessoa com deficiência, jovem, e sem grandes recursos, isso no começo dos anos 1990, significava a realização de um sonho distante. Cheguei no departamento pessoal do Diário do Grande ABC cedo, e quando tudo se confirmou, desejei mais que nunca encontrar um orelhão para contar aos meus pais que agora estava empregado! A função era de encartador, e o trabalho, duas vezes por semana.

Muita coisa aconteceu de lá até aqui. A conclusão do Ensino Médio, da faculdade, da pós e do mestrado. A ascensão profissional, o casamento, a mudança de peso, visual, e a maturidade política. Nesses 20 anos, acompanhei e participei de muitas lutas e conquistas. O debate sobre a inclusão saiu da periferia das ideias e se tornou base estruturante das grandes discussões.

Foi parar nas novelas, nos discursos políticos, nas histórias em quadrinhos e nas pautas dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Ser cego, então, nesse momento histórico do Brasil e do mundo, tem sido desafiadora aventura e, porque não dizer, um grande privilégio. De quedas em bueiros e trombadas com placas de publicidade até a descoberta de excelentes serviços que respeitam as diferenças e criativos projetos de acessibilidade, tenho testemunhado um País que se reconstrói à medida em que aqueles que necessitam de mudanças, passam a atuar enquanto protagonistas na busca por transformações.

Inauguro esse espaço que marca meu retorno ao Diário com um trechinho de Adoniran Barbosa, que, em seu centenário, ainda se mostra tão presente sempre que fazemos festa. Pois bem, espero que aqui seja uma festa constante da cidadania, onde possamos trocar ideias, identificar problemas e apontar soluções. Um espaço de reflexões sobre inclusão e participação popular, feito por mim e por vocês, leitores.

Eu vou ficando por aqui, agora a palavra é sua!

Nos encontraremos todas as quartas no caderno Setecidades e ainda poderemos conversar em www.blogdoferrari.com.br, no Twitter, www.twitter.com/blogdoferrari ou por e-mail: proferrari@uol.com.br

Carlos Ferrari é presidente do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e vice-presidente da Fenavape (Federação Nacional das Avapes), Administrador de empresas, mestre em Administração de Empresas pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e pós-graduado em Marketing pela Fundação Cásper Líbero. Deficiente visual de nascença, ficou totalmente cego aos 7 anos de idade. Atualmente, além de ser executivo da Instituição, é professor universitário nos institutos Ítalo-Brasileiro e Faculdade Interação Americana e integrante titular do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social). Idealizador do treinamento Superação de Limites e Identificação de Potencialidades.