A agente comunitária de saúde Rozinete Almeida Serrão, 51 anos, é o retrato da felicidade ao desfilar a enorme barriga onde crescem dois bebês, gêmeos não idênticos, seus netos, que podem nascer até 12 de outubro, prazo limite para a realização de uma cesárea. Este pode ser o primeiro caso da história da medicina no mundo em que a avó e mãe de aluguel engravida de gêmeos.

Cuidada e mimada pela filha Claudia Michelle, mãe dos bebês, Rozinete realiza o maior sonho da única filha mulher. Com útero infantil, Michelle, de 27 anos, e o marido Antonio de Brito, 33, tentaram, sem sucesso, durante quatro anos, gerar uma criança.

Tratamentos hormonais, esperanças, frustrações e depressão marcaram esse período até que o obstetra Cláudio Leal Ribeiro propôs o procedimento de fertilização in vitro com óvulos e espermatozóide dos pais, cujo embrião teria o útero de um familiar de até segundo grau (norma dos conselhos federal e estadual de medicina) como incubadora. Sem irmãs, a única opção de barriga de aluguel era a mãe de Michelle.

A sugestão foi aceita de imediato, com o apoio de toda a família que ficou ainda mais unida na conquista desse objetivo. Rozinete estava com 49 anos quando foi sondada pela filha. Fez todos os exames necessários - clínicos e bioquímicos - e foi aprovada como instrumento de realização da filha. Considerada de alto risco - devido à possibilidade de desenvolvimento de diabetes ou hipertensão, por conta da idade - a gravidez foi acompanhada por três médicos e correu tranqüilamente.

Os quatro embriões fertilizados in vitro foram colocados no útero de Rozinete em janeiro, três dias depois da fertilização. No início, houve muita tensão. Ela teve sangramento. Superado o contratempo, descobriu-se que dois dos embriões se desenvolveram: Antonio Bento e Vítor Gabriel.

Atualmente com 37 semanas de gestação, os bebês podem nascer a qualquer momento sem um outro temor que por meses rondou as mentes de Rozinete e Michelle - o de um nascimento prematuro. Hoje (19), em exame de rotina com a ginecologista, mãe e filha garantiram que não haverá briga pelos bebês depois do nascimento

"A ginecologista quer que eu tenha acompanhamento psicológico", afirmou a dona da barriga de aluguel. "Posso até fazer isso para atendê-la, mas minha cabeça está feita, desde o início tenho bem claro que estas crianças são meus netos e não meus filhos." Ela pretende dar o colostro (o primeiro leite, rico em proteínas e imunoglobilinas) para os bebês, mas acredita que a amamentação caberá a Michelle, que tomou hormônios e já está com leite nos seios.

Comerciantes, Michelle e o marido arcaram com todas as despesas ligadas à fertilização. "Nem sei calcular quanto gastamos, mas tudo tem jeito", disse Michelle, ansiosa com o nascimento. "Não dá para explicar o que sinto, é muita felicidade." Ela é só gratidão a Deus e a todos os que se envolveram, especialmente à mãe e ao marido, que sempre a estimulou a lutar pelo sonho. "Eu corri atrás e digo a todos: nunca desistam!" Nos seus planos já consta a adoção de uma menina quando os gêmeos estiverem por volta dos quatro anos.