Nacional Titulo
Camelô que seqüestrou ônibus chora no xadrez
Por
11/11/2006 | 19:35
Compartilhar notícia


Depois de passar mais de 10 horas apontando uma arma para a ex-mulher Cristina Ribeiro dentro do ônibus 499, o ambulante André Ribeiro, já na 52ª Delegacia Policial, se disse neste sábado muito arrependido, chorou copiosamente e pediu perdão à ela e aos três filhos do casal.

O advogado Flávio Augusto Campos Fernandes, que defende Ribeiro, contou que o cliente está profundamente abalado pelo que fez. O ambulante está numa cela com outros 10 homens, acusados de não pagar pensão alimentícia aos filhos. “Tivemos o cuidado de não deixá-lo sozinho na cela porque existe o risco de ele se matar”, disse Fernandes.

Ribeiro não prestou depoimento à polícia, orientado pelo advogado. “Ele não está falando coisa com coisa.”. O vendedor foi autuado por lesão corporal, segundo o advogado, mas não por seqüestro. Segundo ele, as testemunhas afirmaram que permaneceram no ônibus por vontade própria, para resguardar Cristina e até mesmo Ribeiro.

Fernandes criticou a ação policial, qualificada por ele como “desmedida”. “Foi uma palhaçada. Mise-en-scène puro. O Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) é uma unidade que atua contra traficantes armados de fuzis e todo mundo sabia que se tratava de um trabalhador”, afirmou o advogado.

O drama aconteceu na rodovia Presidente Dutra, próximo a Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Após uma noite mal dormida, a técnica de enfermagem C., 38 anos, que preferiu não ter a identidade divulgada, contou as horas de tensão que viveu.

“Ele esfregava a arma nela (na ex-mulher), xingava com todas as palavras de baixo calão que se possa imaginar.” A técnica de enfermagem destacou a confusão mental em que Ribeiro se encontrava. “Ora ele conversava com a gente, nos tranqüilizando de que nada ia acontecer. Ora nos mandava calar a boca. Dizia ‘eu amo essa desgraçada’ e depois batia muito nela”.

C., que em junho de 2000 assistiu pela TV o drama dos passageiros do ônibus 174, seqüestrado no Jardim Botânico, revelou que nas cinco horas em que ficou no 499 só pensavam nas imagens do outro seqüestro. “Na minha cabeça passaram dois filmes. O do 174 e o do ônibus queimado”, fazendo referência ao ônibus 350 incendiado a mando de traficantes na Zona Norte do Rio há um ano.

Policiais e promotores discordam quanto à tipificação do crime cometido por Ribeiro. Policiais civis que o autuaram consideram que houve sim cárcere privado (o que na prática, segundo o Código Penal, é o mesmo que seqüestro) – mesma opinião de promotores ouvidos pelo Estado.

O promotor Carlos Guilherme Santos Machado, no entanto, apesar de não ter atribuição para cuidar do caso ajudou nas negociações, considera que o indiciado não deve responder por seqüestro.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;