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Indústria de caminhões começa 2021 em alta

Na região, as duas montadoras de pesados têm previsão de crescimento e de investimentos nas fábricas

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
28/02/2021 | 00:14
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DGABC


Depois de um 2020 turbulento para todo o setor automotivo, o mercado de caminhões inicia este ano com perspectivas de crescimento e ainda mais aquecido do que o de automóveis. Com previsão de investimentos em infraestrutura e crescimento de setores como agronegócio, construção civil, farmacêutico e e-commerce, os pesados devem ter destaque neste ano.

A Mercedes-Benz espera um mercado de cerca de 101 mil caminhões, o que representa crescimento de 15% em relação a 2020 – o que está acima do previsto pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) em 13% –, e tem como meta manter a participação de mercado acima de 30%.

“Isso porque, mesmo com a pandemia, o mercado de caminhões não parou. Pelo contrário, ficou evidente o quanto é importante e vital o transporte rodoviário no Brasil, bem como o caminhoneiro. O consumidor passou a ter um novo comportamento de compra estando em casa e, com isso, vimos o boom do e-commerce, que deve se manter inclusive após a pandemia, pois não perdeu energia mesmo com a reabertura do comércio físico”, informou a empresa, que também citou o agronegócio que está com safra recorde e com estabilidade no volume de carga durante quase o ano inteiro e outros segmentos como químico e gás, mineração, farmacêutico e locações.

Nesta última semana, a empresa alemã anunciou 1.100 contratações e a manutenção de investimento de R$ 800 milhões até 2022 na fábrica de São Bernardo, utilizados para a
modernização e o desenvolvimento de produtos.

A Scania, que não se posicionou sobre o assunto ao ser questionada pelo Diário, também pretende crescer neste ano, aumentando em 15% das vendas no País. A empresa sueca mantém um novo ciclo de investimentos no Brasil e deve injetar R$ 1,4 bilhão na modernização da fábrica de São Bernardo entre 2021 e 2024.

Tanto para a Scania como para Mercedes-Benz, o Brasil se tornou o principal mercado consumidor de pesados, o que aquece as perspectivas para o mercado nacional em 2021. Com as quase 27 mil unidades vendidas no País no ano passado, o Brasil voltou a ser o maior mercado de caminhões da marca alemã, desbancando a matriz que, com 24,5 mil caminhões vendidos, caiu para a segunda posição no ranking de mercados globais.

“O que acontece é que o setor de caminhões é movido mais pela ótica racional do que a emocional, ao contrário do que acontece com o setor de automóveis. Quando penso em caminhões, a compra realmente só acontece com a precisão”, disse o coordenador de MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV, Antonio Jorge Martins.

De acordo com o especialista, o cenário é promissor no mercado nacional. “Os investimentos em infraestrutura tendem a permanecer nesse período. O governo tem incentivado privatizações, além disso o agro caminha sozinho”, disse.

Mesmo com o cenário, o economista e professor da escola de negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Volney Gouveia, é mais conservador. “A fabricação de caminhões em relação ao total de veículos não ultrapassa 10%. Sendo assim, não acho que a retomada da produção seja suficiente pra compensar o ‘tombo’ do mercado automotivo. Mas a notícia de expansão da produção deste tipo de veículo é boa sinalização num cenário de forte depressão pelo qual o setor tem vivenciado”, disse.

EXPORTAÇÕES

No ano passado, foram exportadas 13,2 mil unidades de pesados, o que representa uma queda de 2,3% em relação a 2019. Apesar da redução, ela é bem menos acentuada neste segmento, já que os automóveis embarcaram para fora do País 324,3 mil unidades, o que representou retração de 24,3%.

“O segmento de caminhões caminhou antes do de veículos para promover exportações para a América Latina. As fábricas localizadas no País e no Grande ABC conseguem utilizar a capacidade das unidades para produzir para a exportação, o que ajuda nos altos e baixos da economia”, disse Martins. “Acho que a expectativa é muito boa para todos os segmentos de caminhões, inclusive os mais modernos, com motorização elétrica e a gás. As empresas estão até testando caminhões autônomos, que ainda não possuem demanda, mas mostra que estamos aptos a produzir”, finalizou.


Em 2020, indústria automotiva retrocedeu ao patamar de 2003

Em 2020, a indústria automotiva sentiu forte os impactos da pandemia de Covid-19 e retrocedeu a níveis de 2003. A queda foi de 31,6% com o total de 2 milhões de unidades produzidas. Porém, considerando somente o segmento de pesados, a queda foi menor, de 19,9%.

Os números são da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e foram divulgados no início de 2021. “Foi um ano bastante difícil, com muitos desafios”, afirmou o vice-presidente da associação para veículos pesados, Marco Saltini. “Mas, somaram-se alguns fatores, ainda que a economia não estivesse tão bem, como o e-commerce e o agronegócio bastante robusto, que favoreceu o nosso segmento”, disse.

Para este ano, a associação prevê um crescimento de 13% nos licenciamentos, totalizando 101 mil unidades, e incremento de 23% na produção de veículos pesados.

Em janeiro de 2021, foram produzidos 8.600 caminhões, o que representa alta de 19,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. Também foram emplacadas 7.500 unidades, elevação de 3,5% em relação ao mesmo período de 2020. Já as exportações de 1.400 unidades representaram aumento de 51,4% em relação a igual período do ano anterior.

“Se comparados a dezembro do ano passado, que foram 9.800 unidades (licenciadas) se tem uma queda (redução de 23,4%), mas vale lembrar que janeiro e fevereiro são meses atípicos dentro do nosso segmento. O volume, portanto, está condizente com o que foi previsto pela Anfavea para 2021”, assinalou o vice-presidente da Anfavea para veículos pesados, Gustavo Bonini.

VEÍCULOS

Com 2020 em queda, a indústria automotiva interrompeu ciclo de três anos de recuperação após a crise do biênio de 2015/2016. Em dezembro, o número de empregados no setor chegou a 120,5 mil, queda de 4,06% em relação a dezembro de 2019, quando havia 125,6 mil trabalhadores nas montadoras.

As exportações recuaram em 24,3%, totalizando 324,3 mil unidades. As vendas também atingiram 2 milhões de unidades, baixa de 26,2%, o que iguala ao nível de 2016, ano de crise.  




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