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Especialista alerta para riscos de câncer na população transexual

Longo período de hormonização pode aumentar incidência da doença

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
17/10/2020 | 10:39
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Integrante da comissão de mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e médica radiologista do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica, Ana Lúcia Kefalas alerta para estudos que indicam que mulheres transexuais com mais de 50 anos, que fazem uso de hormônios por mais de cinco anos, com casos de câncer em parentes de primeiro grau e IMC (Índice de Massa Corpórea) acima de 30 se enquadram no grupo de risco para câncer de mama.

A doença é o tipo de câncer mais prevalente em mulheres, e apesar de afetar cerca de 1% dos homens, pode acometer em maior proporção as mulheres transexuais. “É recomendado o autoexame das mamas e, a qualquer achado, que se procure um especialista.”

Para pessoas transexuais, encontrar atendimento médico não é das tarefas mais fáceis. Mesmo em situações de saúde não relacionadas com a sua identidade de gênero, precisam enfrentar o preconceito. 

Morador de Santo André e integrante da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos), Leo Paulino relata que em algumas cidades pacientes transexuais com queixas de dor de estômago são orientados a procurar o único ambulatório que atende especificamente essa população no Estado, que fica na Capital. “É pura transfobia”, acusa.

A auxiliar técnica de educação Virgínia Guitzel, 27 anos, mora em Santo André e há seis anos faz o tratamento de hormonização. Apesar de ter perdido o pai devido ao câncer, nunca foi alertada por algum médico sobre a possibilidade ter seus riscos aumentados. A jovem elogiou o acompanhamento que faz no centro de especialidades da cidade, mas afirma que já foi alvo de preconceito ao passar em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). "Vi uma publicação sobre o tema recentemente, em uma mídia independente, e pela primeira vez realizei o auto exame",declara.

Para Virgínia, falta mais informações sobre a saúde das pessoas transexuais. "Ainda mais com tanta propaganda contra a nossa população promovida pelo atual governo (federal) e a intolerância que só vem crescendo", acrescentou,

Se para mulheres trans é difícil prevenir o câncer de mama, para os homens o risco é o câncer de colo de útero. A dificuldade em realizar exames ginecológicos, aliado a hormonização se tornam fatores de risco, embora a maioria dos casos esteja relacionada à infecção viral por HPV (Papilomavírus Humano).

Na região, apenas Diadema soube informar quantas pessoas transexuais são atendidas na rede de saúde: 100 mulheres e cinco homens. As demais cidades não contam com os dados, mas afirmam que a população é atendida nas unidades de saúde e nos centros voltados para tratamento e prevenção de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC discute com o governo do Estado de São Paulo a implantação de um serviço regional, mas sem data prevista.

A falta de dados sobre a população é uma das facetas da falta de políticas públicas para os transexuais, destaca o presidente de honra da ABCDs (Ação Brotar Cidadania e Diversidade Sexual), Marcelo Gil. Para o professor de mastologia na FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Paulo Roberto Pirozzi, além de mais unidades de atendimento para a população trans, é preciso falar sobre o assunto para chamar a atenção para a questão.




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