Sem saber o que isso significa, os cerca de 800 moradores desse lugarejo pacato nao deixaram de lado seus afazeres. Alguns estavam até um pouco descrentes. Afinal, muitas das estruturas arquitetônicas e maquinários antigos da parte baixa da vila se encontram em estado deplorável. Cautelosos, vao esperar a solenidade desta quinta, batizada de Ato por Paranapiacaba, para ver o que acontece.
"Isso aqui está abandonado", disse Maria Reis, 54 anos, viúva há 7, que faz tapetes e conserta roupas para o tempo passar mais depressa. Ela mora de aluguel com o filho Renê e o gato Bruno numa casinha pré-fabricada de madeira, em estilo vitoriano, da Rede Ferroviária Federal S.A., guardia legal do patrimônio de Paranapiacaba.
Seu marido foi funcionário da ferrovia durante anos e ela se orgulha de pagar todo mês à Rede R$ 97,00 mensais. "O que eu fico boba é que há muitos que nao pagam." Ela se referia aos vizinhos invasores, que começaram a chegar há três anos e, apesar da inadimplência, nao sao incomodados. "O que falta aqui é transporte; vivem dizendo que os trens vao voltar, mas nao voltam."
O professor Eric Tadeu Lamarca, 26 anos, espera que a inclusao na lista da World garanta repercussao internacional à vila. Sobretudo que chame atençao para suas necessidades.
"O patrimônio está ao Deus dará", afirmou ele, ressaltando que desde o tombamento da vila, em 1987, nada mais foi feito. Para ele, isso afetou o uso turístico, pedagógico e histórico de Paranapiacaba. Como presidente de uma associaçao ambientalista, em abril, Lamarca entrou com açao no Ministério Público para denunciar a degradaçao, que acarreta conseqüências sociais. "O alcoolismo é um problema grave por aqui."
Sebastiao Gana de Assis conhece as 250 famílias e as 15 ruas de Paranapiacaba na palma da mao. Assis é carteiro e morou na vila na infância. Depois, sua família se mudou para a vizinha Rio Grande da Serra. Apenas em duas ocasioes ele fica muito atarefado: uma é no dia de entregar as contas telefônicas. "Antes, só rico tinha telefone", disse, bem-humorado.
Outra é quando chegam as correspondências de aluguel, que, no entanto, só têm como destinatários os moradores das casas da Rede. "No morro vivem só proprietários", comentou, referindo-se ao lado mais alto da vila. Assis nao tinha conhecimento da importância da vila. "Nao sei se é porque estou acostumado, mas nao vejo muita coisa; as casas estao é acabadas."
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