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Pandemia estimula fechamento de lojas em shoppings da região

Diário constatou 357 espaços fechados ou ociosos nos nove centros de compras; alimentação e vestuário são mais afetados

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
27/09/2020 | 00:01
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DGABC


A pandemia do novo coronavírus trouxe mudanças nos hábitos de consumo do brasileiro. Entre eles, as compras nos shoppings centers, passeio garantido de família e amigos, que, com a quarentena, teve a frequência bruscamente diminuída. Isso refletiu no faturamento das lojas e, em alguns casos, gerou o encerramento das atividades. Conforme o Diário apurou ao longo da semana passada, havia 357 espaços ociosos, com tapumes, nos nove complexos de compras do Grande ABC.

Se considerarmos que o número de estabelecimentos dentro dos shoppings soma 2.087, hoje 17% deles estão inativos. Percentual similar ao do País, pois, de acordo com a Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings), desde o começo do ano o índice de lojas fechadas gira em torno de 12% a 15% dos 113,5 mil pontos de venda, conforme pesquisa realizada recentemente.

“A região não fugiu deste índice. Com a situação da pandemia e o fechamento temporário de shoppings, muitos lojistas que já enfrentavam dificuldades não conseguiram honrar os pagamentos”, disse o diretor de relações institucionais da Alshop, Luis Augusto Ildefonso.

No Grande ABC, há nove shoppings localizados em cinco cidades – Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá. A equipe do Diário percorreu todos os empreendimentos e verificou 357 espaços aparentemente fechados ou ociosos, sendo os setores da alimentação e vestuário os mais afetados. Muitas lojas fecharam por causa da crise desencadeada pela Covid-19, no entanto, outras baixaram as portas antes da pandemia e, ainda, há aquelas que optaram por reformar o ambiente.

Rede de cafeterias que optou por reabrir apenas no ParkShopping São Caetano e no Shopping ABC, em Santo André, a Starbucks mantém fechadas lojas em mais dois complexos de São Bernardo. Já a gigante do ramo de livrarias Saraiva optou por encerrar definitivamente as atividades em três unidades. E a Vila Romana fechou loja do Grand Plaza, em Santo André, para concentrar as operações no Shopping ABC, na mesma cidade. No Golden Square, em São Bernardo, há grandes tapumes no lugar onde a Forever 21 chegava a ocupar a maioria do corredor – a loja, no entanto, fechou em fevereiro. 

Em todos eles, que atualmente funcionam com capacidade e horário reduzidos, das 8h às 20h, é necessário a aferição da temperatura, seja por meio eletrônico ou termômetro, na entrada, com disponibilização de álcool em gel. Apesar de volume menor de frequentadores, já é possível observar pessoas em lojas e restaurantes, o que torna mais evidente os espaços vazios. Em contrapartida, os empreendimentos apontam pelo menos a abertura de 63 lojas – leia mais abaixo. 

“O que a gente observou neste primeiro momento é que a reabertura de lojas começou mais pelas ruas. A tendência é que o fluxo volte lentamente, mas é um caminho cheio de desafios e percalços para os lojistas. O consumidor ainda está a receoso de ir até ambientes fechados, o que é um desafio principalmente para o lojista pequeno”, explicou o consultor de varejo e bens de consumo Eugenio Foganholo.

SHOPPING x RUA

Apesar da redução no número de lojas, não há uma espécie de ‘debandada’ para as ruas, aponta Ildefonso. “A negociação foi fundamental e dependia de caso a caso. Alguns migraram as lojas do shopping para as ruas, mas não aconteceu uma demanda geral. Temos que lembrar que alguns lojistas já estavam em situação mais difícil antes da pandemia”, pontuou. Como exemplo, há o L’Entrecôte de Paris, que fechou no ParkShopping e reabriu na Vila Alpina, em Santo André.

Ou, ainda, a mudança já fazia parte dos planos, como é o caso do Pelle & Capelli, que fechou no Shopping ABC e abriu o maior salão do grupo na Vila Assunção.

Na prática, com o cenário de incertezas, a economia pode ser um fator que pesa, já que pode ocorrer uma redução de até 60% dos custos, de acordo com fontes de mercado. Isso porque, enquanto no shopping se desembolsa em torno de 20% do faturamento com o aluguel, na rua são 8%. “A ocupação do shopping também leva em conta, dentro do aluguel, custos com segurança, por exemplo, que é algo que o comerciante da rua vai ter que se preocupar. Isso sem falar que, dependendo da via em que ele estiver instalado, ele pode nem abrir aos domingos por causa de fluxo, o que não vai acontecer no shopping”, explicou Foganholo. “O fato é que, para ter condições de operar em shoppings, há custos relevantes e significativos.” 

ADAPTAÇÃO

O consultor de varejo acredita numa tendência mais incorporada aos meios digitais, além do próprio e-commerce, com ferramentas de retirada e pagamento, que diminuem a exposição.“Anteriormente, o consumidor ficava na média de uma hora e meia no shopping. Hoje, são 27 minutos. Quer dizer que ele passa menos tempo fora e que, de fato, a segurança total só vai acontecer com a vacina”, completou Ildefonso.

“Estamos quase em outubro, quando o comerciante tradicionalmente se prepara para o Natal, mas ainda não sabemos se serão de lembrancinhas ou de presentes de alto valor”, disse o presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura.

Mais de 60 inaugurações são esperadas

Apesar dos fechamentos ocorridos nos últimos seis meses, os empreendimentos da região apontaram a chegada de 63 marcas nos próximos meses.

Em Santo André, o Grand Plaza afirmou que durante a pandemia 3% das lojas fecharam, sendo que deste total “70% já estavam previstas dentro do planejamento comercial, antes da Covid-19, para movimentação”, informou o complexo, que se prepara para receber 14 lojas.

No ABC, serão cinco inaugurações nos próximos meses. “O empreendimento também tem várias lojas que estão aproveitando a ocasião de funcionamento em horário reduzido para repaginação interna e/ou troca de local, caso do Subway, que está de cara nova para atender ainda melhor. Salientamos que a troca de lojas acontece durante todo o ano, independentemente do momento que estamos atravessando”, afirmou, em nota.

O Atrium também destacou que a movimentação de lojas, e entradas e saídas de marcas, é bastante comum em empreendimentos do varejo. A unidade espera quatro novidades. “Vale ressaltar que o Atrium Shopping está localizado em região com grande potencial de adensamento populacional, tendo como perspectiva a futura instalação de estação de trem, é um empreendimento ainda em expansão e que nasceu dentro de um encolhimento da economia, completando sete anos em outubro. Como todo shopping center jovem, planejamos manter lojas vagas em locais estratégicos, como reservas técnicas, para negociação com grandes redes, sendo, lojas âncoras, megalojas ou restaurantes.”

Em São Bernardo, o Shopping Metrópole declarou que não registrou rescisões de contrato expressivas em razão da pandemia, dizendo que três lojas fecharam no período. O empreendimento afirmou que possui espaços em negociação, com inaugurações previstas para os próximos meses, como rede de grande porte que vai ocupar uma área ampla. 

O Golden Square Shopping informou que está passando por uma renovação de mix e que, até janeiro de 2021, contará com 12 inaugurações, entre lojas e restaurantes. Durante a pandemia, disse que cinco lojas encerraram as atividades.

O ParkShopping São Caetano afirmou que está com taxa de ocupação de 97%. “A saída de alguns lojistas representa agora uma oportunidade de renovar e complementar o nosso mix, trazendo marcas como Nespresso, Casa Porteña, Milon, Monte Carlo, Mr. Fit, Case Screen e Gimba. Em breve contaremos com o restaurante árabe SAJ, Cabana Burger, NewEra, Via Veneto e Criamigos.”

O Praça da Moça, em Diadema, afirmou que, do total de lojas apontadas, 11 estão comprometidas com novas marcas, sendo seis em fase adiantada de obras para inauguração até outubro. “Entre entradas e saídas de lojas no período, tivemos saldo positivo de quatro lojas, o que demonstra o quanto o shopping é resiliente, e nos faz crer que o retorno aos resultados de 2019 é uma questão de curto espaço de tempo”, afirmou.

O Mauá Plaza Shopping pontuou que os espaços vazios contabilizados pelo Diário não representam lojas não comercializadas, “para muitas já há negociações acontecendo”. “Além disso, algumas mudaram apenas de espaço e não encerraram as atividades, caso da Viv Leroa Outlet”, informou. Serão mais sete operações neste ano.




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