Cultura & Lazer Titulo
Arte atroz
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
19/02/2006 | 08:12
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“Arte é atroz, não é mesmo? Às vezes ela pode ser confusa, irritante, espantosa, horrível e... bem... incrivelmente esquisita! Eventualmente ela também pode ser absolutamente repulsiva (...). Por outro lado, arte quase sempre é muito divertida, empolgante e interessante!”. Esse trecho está logo na introdução do livro Arte Atroz (Melhoramentos, 168 págs., formato 13,5cm x 20,5cm, R$ 23 em média), do norte-americano Michael Cox e ilustrado pelo inglês Philip Reeve. O título faz parte da série Saber Horrível, uma “coleção que trata de assuntos considerados chatos de uma maneira mais agradável”, conforme diz o material de divulgação da editora. Entre os temas da série estão física, química, história e geografia, entre outros.

Arte Atroz, publicado originalmente na Inglaterra em 1997, é literatura infanto-juvenil, mas pode agradar aos adultos, sim. E, se arte é assunto é chato e incompreensível para muitos, não é bem essa a impressão que passa o bem-humorado texto de Cox (junto com Reeve, autor também de Elvis e Sua Pélvis).

O livro aborda muitas características da arte. Passeia das pinturas rupestres realizadas nas cavernas de Lascaux, na França, datadas de 17 mil anos, até a arte contemporânea. Fala do fazer artístico a características do mercado. Além disso, mesmo que em tom de brincadeira, ele estimula as pessoas a se envolver com arte, a criar. Indica também uma série de sites para os leitores se aprofundarem no assunto.

Mas o que chama mais a atenção é mesmo o fato de Cox falar de excentricidades de diversos artistas. Tirações de sarro, mas com conteúdo. O bom-humor do texto não atrapalha de forma alguma a seriedade da abordagem, mas sim a apimenta, a torna envolvente.

Um dos artistas que ganham destaque na narrativa de Cox é o pintor norte-americano Jackson Pollock (1912-1956). Segundo o autor, quadros de Pollock fizeram “algumas pessoas tremer de prazer... e outras ficarem vermelhas (e de muitas outras cores”.

“Pollock foi um expressionista abstrato. Isso significa que, em vez de pintar nus e paisagens, ele criava pinturas com formas e padrões que não se pareciam com nada conhecido. Em outras palavras, seus quadros eram uma massa multicolorida de gotas, esguichos, borrifos e listras... com alguns borrões espetaculares adicionados para equilibrar a pintura”, continua Cox em sua explicação.

Histórias curiosas, como a de Pollock, surgem aos montes no livro. Exemplos: como Picasso (1881-1973) se decepcionou com uma lingüiça; o uso que Sir Stanley Spencer (1891-1959) fazia de rolos de papel higiênico, como rascunhos; os pincéis de 1,8 m de comprimento de Thomas Gainsborough (1727-1788); e o cabelo castanho claro de Francis Bacon (1909-1992) transformado em preto, com graxa de sapato.

Num exemplo de trecho sério do livro, Cox fala da época em que os países europeus estavam construindo seus impérios e colonizando partes do mundo. “Os espanhóis, por exemplo, gostavam das peças feitas em ouro e prata pelos antigos incas, do Peru, e levaram muitas delas para casa – tendo o cuidado de matar os proprietários originais”.

Trechos

Arte-fato antigo
Soberanos da antigüidade, onipotentes e fabulosamente ricos, ordenavam que seus artistas fizessem obras de arte. Esses soberanos faziam, então, com que essas lindas criações fossem enterradas em câmaras subterrâneas seladas. Essas câmaras são conhecidas como tumbas. As obras de arte permaneciam escondidas por anos e anos sem que ninguém pudesse vê-las ou apreciá-las.

Arte-fato moderno
Modernos colecionadores de arte, milionários e todo-poderosos pagam enormes quantias de dinheiro por maravilhosas obras de arte. Os colecionadores, então, guardam essas lindas criações em câmaras subterrâneas seladas. Essas câmaras são conhecidas como cofres de bancos e áreas de armazenamento de museus. As obras de arte permanecem escondidas por anos e anos sem que ninguém possa vê-las ou apreciá-las.

‘Esqueça da arte, Zé! Temos que limpar a galeria!
Michael Landy (1963-) faz ‘instalações’. Mas ficaria um pouco ofendido se você pedisse para ele instalar seu fogão ou condicionador de ar. Michael é um artista que faz ‘instalações’ criativas de objetos em galerias. Apreciadores de arte observam suas obras e dizem coisas como ‘Essas... err... coisas artísticas são... realmente, err... artísticas, não são? Mas faxineiros dizem apenas ‘que monte de sujeira! e jogam tudo na lata do lixo.

Foi exatamente isso que aconteceu quando os faxineiros se depararam com um dos novos trabalhos de Michael. O que não foi surpresa alguma. A ‘instalação’ era uma lata cheia de lixo – e o pessoal da limpeza só estava fazendo seu trabalho, não é mesmo?

Essa não foi a primeira vez que esse tipo de coisa aconteceu. O problema de faxineiros jogando fora arte porque pensaram que era lixo tornou-se tão comum que algumas galerias agora têm que etiquetar as coisas como ‘arte’ ou ‘lixo’.

(...) Se você quiser ter certeza de que algo é realmente arte, leia o rótulo!




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