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Venda à vista cresce mais que parcelada
Alexandre Melo e Paula Cabrera
02/02/2011 | 07:05
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O ano de 2010 já deixa saudades no segmento do comércio. Com a combinação de crédito caro e juros mais altos neste início de ano, os consumidores paulistas estão gastando menos do que no mesmo período do ano passado. Quem foi as compras apelou para sacar dinheiro da carteira e deixar o cartão de crédito no bolso. Isso porque as compras à vista cresceram 11,6% enquanto a modalidade a prazo avançou 8,2% em relação ao mesmo período de 2010, sinaliza a ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

Para o economista da ACSP, Emílio Alfieri, esse cenário só acontece por conta das restrições ao crédito tomadas no fim do ano pelo BC (Banco Central), que retiraram do mercado R$ 65 bilhões no compulsório (valor retido das financeiras e que fica retido junto ao BC quando o crédito é ofertado ao consumidor).

Além da preocupação redobrada de comerciantes e lojistas com as medidas para controlar a inflação, consumidores também estão preocupados com o possível aumento no peso do crédito no fim do mês. A alta da Selic (taxa básica de juros) para 11,25% ao ano elevou a tensão para assumir novas contas.

"O que complica mais é que o Copom (Comitê de Política Monetária) deixou claro que haverá novas altas. Isso encareceu bem o crédito e mostrou que ele ficará ainda mais caro até o fim do ano."

De acordo com a entidade, o cenário macroeconômico atual está desacelerando gradativamente a oferta de crédito e aumentando os juros para o consumidor final. Isso acaba exercendo efeito moderador no crescimento das vendas a crédito.

Alfieri explica ainda que tradicionalmente consumidores usam o valor das férias e do 13º para custear despesas no início do ano, o que ajudou para que as compras fossem todas pagas no cash. "Até fevereiro ele consegue comprar a vista. Esse cenário, costumeiramente muda depois do Carnaval. Como neste ano o feriado será em março, é preciso aguardar para ver como o mercado responderá", diz.

Outro ponto essencial para a moderação nas vendas acontece, segundo Alfieri, porque 2010 foi o melhor da década para o setor, o que dificilmente deve se repetir em 2011"Em 2010 trabalhávamos com uma base fraca de comparação, já que em 2009 havia a crise financeira. Agora, neste ano, o cenário é totalmente diferente e os números atuais ainda são positivos e ficam dentro da expectativa", completa.


Inadimplência sobe 7,8% em comparação com janeiro de 2010


Mesmo com a diminuição da procura por crédito e das vendas, a inadimplência registrou expressivo avanço neste início de ano, batendo à casa dos 7,8% em janeiro na comparação com igual mês do ano passado. Somando as consultas feitas ao SCPC e SCPC/Cheque (Serviço Central de Proteção ao Crédito), as vendas no comércio subiram 9,9%.

Apesar de já acender o sinal vermelho para lojistas e comerciantes, Emílio Alfieri atesta que o aumento nos números é normal e os índices não fogem à expectativa do setor.

"Ainda não é motivo para sustos porque as vendas superaram o valor registrado de inadimplência, só deve começar a gerar preocupação se o índice disparar, e muito, em relação as vendas", explica.

Os cancelamentos de registros no SCPC - número de consumidores que enfim conseguiram honrar dívidas antigas - aumentaram apenas 2,5%, em relação ao mesmo período de 2010. A situação acontece exatamente pelo aumento do valor retido em depósitos compulsórios pelo BC, que ocasionou a diminuição do crédito para renegociação de dívidas.

Com isso, o economista explica que é importante que o consumidor programe compras e evite ao máximo a utilização de financiamentos mais longos sem necessidade. "Neste ano será muito mais difícil conseguir refinanciar dívidas", aponta.

Enquanto no ano passado a renegociação dos débitos acaba em encolhimento do valor devido e amortização de juros e parcelas pequenas, o panorama de 2011 não é nada promissor de acordo com o economista. "Isso não se repetirá neste ano e é um sinal de alerta para todos", avisa.

Com o cenário que se desenha no horizonte, a expectativa do comércio é de que o número de dívidas não honradas seja muito maior do que em 2010 durante todo o ano. "Não chegará no patamar de inadimplência de 2009, mas já é um sinal de alerta para o mercado", conclui Alfieri.




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