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Em quatro anos, matrimônios caem 18% no Grande ABC

Registros foram de 20.232 para 16.540 entre 2015 e 2019; crise é principal razão

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
18/01/2020 | 00:01
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Denis Maciel/DGABC


Entre 2015 e 2019, os casamentos caíram 18,24% no Grande ABC, passando de 20.232 para 16.540, conforme dados do Portal da Transparência do Registro Civil. Ainda que a quantidade de casais que optam por uniões informais seja crescente, especialistas avaliam que a principal razão da queda é a crise econômica que afeta todo País desde 2014. O cenário regional está em sinergia com o Estado, onde o número de matrimônios foi de 307.463 para 274.342 (-10,77%).

“A instabilidade econômica que estamos vivendo nos últimos anos resultou na mudança nas formas de união e adiamento dos casamentos”, explicou Rosa Maria de Freitas, demógrafa da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados). “Isso, somado ao fator cultural de que as pessoas estão mais tolerantes a outras formas de união (como ir morar junto sem casar no civil), tem tornado a queda (de casamentos) comum”, completou.

Na avaliação de Rogério Baptistini, professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, há também a mudança do perfil do morador das sete cidades. “Trata-se de uma região que concentrava metalúrgicos, operários, e a desindustrialização alterou o comportamento social”, afirmou. “A família, na sociedade tradicional, era vista como produtora de mão de obra e com o direcionamento do Grande ABC para o setor de serviços, a juventude tende a ir para outros tipos de união.”

Segundo o docente, os matrimônios oficiais tem caído “há algum tempo” nos países desenvolvidos e a região está seguindo os mesmos passos. “O padrão de vida do homem médio do Grande ABC é próximo ao da Europa Ocidental e dos centros dos Estados Unidos, seguindo a tendência da sociedade contemporânea”, destacou. Portanto, ele avalia que não haverá retrocesso, a busca por enlaces não voltará a crescer. 

Por outro lado, Rosa Maria projeta que os casamentos devem aumentar quando a instabilidade econômica amenizar, já que os casais que adiaram a formalização por questões financeiras poderão arcar com os custos não apenas da união, mas também da vida a dois.

Na contramão, os matrimônios cresceram 9,27% no País, subindo de 815.994 para 891.637. Para a demógrafa da Fundação Seade, este número foi impactado pelos casamentos coletivos, que aumentaram durante a crise econômica, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. “Eles tiveram um peso muito grande porque os custos acabam sendo menores”, assinalou. Baptistini analisou que o cenário divergente é ocasionado pelo desenvolvimento do Grande ABC, que é maior do que o restante do País. 

AGUARDANDO PELO ‘SIM’ - De São Caetano, a produtora e gestora cultural Mabi Braga, 27 anos, e a técnica em eventos Beatriz Amoras, 20, estão noivas desde 2017. Em fevereiro de 2019, elas começaram a morar juntas na casa da mãe de Mabi e, há quatro meses, dividem um lar só delas. “Nossos projetos estavam em andamento e queríamos mais privacidade”, contou.

Para oficializar a união, as companheiras aguardam momento de estabilidade profissional e financeira. A formalização, com direito a festa, estava prevista para este ano. Entretanto, a mãe de Mabi enfrentou problema de saúde e passou por cirurgia há dois meses. “Decidimos respirar e esperar as melhoras da saúde da minha mãe e financeira, já que não sabíamos como seriam os custos envolvidos na cirurgia e recuperação”, explicou.

O sonho, porém, não está fora de cogitação. “Neste ano, vamos oficializar nem que seja só no papel com uma testemunha que pegarmos na rua e, em 2021, comemoramos com a festa”, garantiu Mabi.

Já o casal Ana Maria Largosta Ayala, modelista, 52, e Sérgio Luiz Manchini, segurança, 57, de Santo André, estão juntos há 28 anos. “Gostaria de casar no papel, mas sou estrangeira (do Paraguai) e a documentação necessária sempre esteve fora do orçamento”, contou. Eles foram morar juntos seis meses após começarem a namorar. “O tempo foi passando, veio minha filha (hoje, com 26 anos), depois veio o caçula (18 anos) foram surgindo outras prioridades”, lembrou. A família também inclui o filho mais velho, de 31 anos, de Ana Maria, adotado por Sérgio. Atualmente, caso surja oportunidade, o casal pretende oficializar a união.




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