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MAM programa oito Spielberg
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
18/07/2003 | 19:43
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Spielberg, hoje em dia, tem a significação de bom cinema – embora essa qualidade seja atribuída mais às suas capacidades de fazer bilheteria e de requentar o imaginário fantástico/heróico no cinema do que a predicados artísticos. Sua representatividade, comercialmente falando, é tal que o franco-suíço Jean Luc-Godard o elegeu como anjo mau do capitalismo norte-americano no filme O Elogio do Amor (2001). Deus ou diabo, Steven Spielberg norteia a próxima mostra do Cinemam, que começa domingo na salinha de cinema com 200 lugares do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo) e no auditório Banespa (40 lugares), dentro da PUC (Pontifícia Universidade Católica). A entrada é franca, tanto no parque do Ibirapuera como no Sumaré.

Afirma Lia Assunção, do Educativo MAM, setor do museu que organiza a mostra: “Sempre tivemos vontade de fazer uma mostra do Spielberg, ver sua obra além do dinheiro que ela movimenta.” Foi a partir de parcerias com as distribuidoras Warner e Universal que chegou-se aos oito filmes da mostra (leia mais nesta página). Descontados os curtas-metragens e os episódios de filmes na linha Amazing Stories, são 23 os longas do diretor nascido em Ohio, há 56 anos.

Nessa seleta do MAM, só há espaço para o autor, não para o Spielberg $ 2,2 bilhões (fortuna pessoal estimada, segundo a revista Forbes).

Godard discorda. Em cenas do já citado O Elogio do Amor, o diretor achincalha o todo-poderoso Spielberg. Um dos diálogos diz que a mulher do empresário Oscar Schindler, cuja história rendeu A Lista de Schindler, “não recebeu nada de Spielberg e vive na miséria na Argentina.” Godard o considera mero negociador de lembranças.

Os ignorados – A ira de Godard, fundamentalista do cinema enquanto dialética, é rebatida por uma linha spielberguiana ao mesmo tempo coerente e irregular. Descendente de judeus, o diretor de ET – O Extraterrestre freqüentemente busca o olhar dos perdidos e dos ignorados, a porção infantil (quando não infantilizada) da história.

Isso não é explicitamente autoral porque o diretor utiliza a linguagem do espetáculo, a mesma que enoja Roberto Rosselini segundo as linhas por ele escritas em Fragmentos de uma Autobiografia (editora Nova Fronteira).

ET, por exemplo, é o encontro de um filho de casamento desfeito com uma criatura esquecida em um mundo estranho. Um meio ambiente tão desconhecido ao alienígena quanto o oceano, território dos peixes, é aos homens em Tubarão; tanto quanto os machistas anos 10 na Geórgia parecem inóspitos a uma mulher com sede de igualdade, em A Cor Púrpura; tanto quanto o amor humano, ao qual não se adapta um andróide mirim, em AI – Inteligência Artificial.

Em todos eles, há o receio ou o desejo do contato, e não há nenhuma metáfora nisso. O contato do qual Spielberg trata é o físico mesmo, óbvio mas eficaz, escancarado pelo dedos em ET, pelos abraços em AI, pelos dentes em Tubarão. Debaixo das firulas e das pieguices, existe um Spielberg autor – e o MAM-SP faz o convite para descobri-lo.




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