Afirma Lia Assunção, do Educativo MAM, setor do museu que organiza a mostra: “Sempre tivemos vontade de fazer uma mostra do Spielberg, ver sua obra além do dinheiro que ela movimenta.” Foi a partir de parcerias com as distribuidoras Warner e Universal que chegou-se aos oito filmes da mostra (leia mais nesta página). Descontados os curtas-metragens e os episódios de filmes na linha Amazing Stories, são 23 os longas do diretor nascido em Ohio, há 56 anos.
Nessa seleta do MAM, só há espaço para o autor, não para o Spielberg $ 2,2 bilhões (fortuna pessoal estimada, segundo a revista Forbes).
Godard discorda. Em cenas do já citado O Elogio do Amor, o diretor achincalha o todo-poderoso Spielberg. Um dos diálogos diz que a mulher do empresário Oscar Schindler, cuja história rendeu A Lista de Schindler, “não recebeu nada de Spielberg e vive na miséria na Argentina.” Godard o considera mero negociador de lembranças.
Os ignorados – A ira de Godard, fundamentalista do cinema enquanto dialética, é rebatida por uma linha spielberguiana ao mesmo tempo coerente e irregular. Descendente de judeus, o diretor de ET – O Extraterrestre freqüentemente busca o olhar dos perdidos e dos ignorados, a porção infantil (quando não infantilizada) da história.
Isso não é explicitamente autoral porque o diretor utiliza a linguagem do espetáculo, a mesma que enoja Roberto Rosselini segundo as linhas por ele escritas em Fragmentos de uma Autobiografia (editora Nova Fronteira).
ET, por exemplo, é o encontro de um filho de casamento desfeito com uma criatura esquecida em um mundo estranho. Um meio ambiente tão desconhecido ao alienígena quanto o oceano, território dos peixes, é aos homens em Tubarão; tanto quanto os machistas anos 10 na Geórgia parecem inóspitos a uma mulher com sede de igualdade, em A Cor Púrpura; tanto quanto o amor humano, ao qual não se adapta um andróide mirim, em AI – Inteligência Artificial.
Em todos eles, há o receio ou o desejo do contato, e não há nenhuma metáfora nisso. O contato do qual Spielberg trata é o físico mesmo, óbvio mas eficaz, escancarado pelo dedos em ET, pelos abraços em AI, pelos dentes em Tubarão. Debaixo das firulas e das pieguices, existe um Spielberg autor – e o MAM-SP faz o convite para descobri-lo.
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