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Crise na Argentina aumenta apreensão no Grande ABC

Instabilidade política no principal parceiro comercial tende a aprofundar tensão; só em 2019, região perdeu R$ 2,9 bi na relação

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
18/08/2019 | 07:00
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Rodrigo Amorim/EBC


O resultado das eleições primárias na Argentina, no domingo passado, que deixou cristalina a chance de derrota política do atual presidente, Mauricio Macri, fez elevar a crise econômica do principal parceiro comercial do Grande ABC. Especialistas ouvidos pelo Diário mostraram preocupação com o cenário, que vem se deteriorando desde o começo do ano. De janeiro a julho, as exportações da região para o país vizinho tiveram queda de 61,37% em relação ao mesmo período de 2018, o que representa a perda de US$ 737,7 milhões, ou seja, R$ 2,9 bilhões.

Os dados são do Ministério da Economia e foram levantados pelo Diário. Apesar de apenas permanecer como principal destino das operações de duas cidades – São Bernardo e Diadema –, devido ao volume movimentado neste ano (US$ 463,54 milhões ou R$ 1,8 bilhão), os hermanos ainda se consolidam na liderança da relação regional. Isso acontece pela forte presença do setor automotivo, que tem a Argentina como principal destino das exportações.

Logo atrás aparecem países como o México (US$ 284,35 milhões ou R$ 1,1 bilhão), Estados Unidos (US$ 246,78 milhões ou R$ 988 milhões) e Chile (US$ 207,3 milhões ou R$ 830,19 milhões). No Brasil, o mercado argentino é o terceiro mais importante. “Por mais otimista que a gente esteja, a situação da Argentina afeta as montadoras e autopeças, então é algo que sempre atrapalha bastante quando não vai bem”, afirma o diretor titular do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini Junior.

Para o diretor do Ciesp Diadema, Anuar Dequech Júnior, a solução é a busca de outros aliados, porém, o processo é demorado. “A Argentina continua a nossa principal parceira pela carência que ela tem e a proximidade. Com a redução de pedidos, vamos procurando alternativas para tentar suprir, mas qualquer exportação é algo que demora muito para se firmar. Achar outros parceiros lá fora é um caminho longo, desenvolvimento mais de longo prazo. Vamos sentir essa diminuição e só depois de empossado o novo presidente é que a gente vai saber qual será a nova política econômica.”

Na visão do coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, os acontecimentos políticos da semana passada, que apontam para vitória da chapa da ex-presidente Cristina Kirchner nas eleições presidenciais junto à reação do presidente Jair Bolsonaro (PSL), podem fazer o cenário para o Grande ABC piorar. “Não é papel de um chefe de Estado interferir nas eleições de outro país”. Sobre as questões econômicas, ele pondera que “não há nenhuma perspectiva de curto prazo”. “Pelo contrário, a situação vai se aprofundar. A inflação da Argentina está muito alta e o câmbio não favorece as importações do país. Acho muito difícil ela perder esse posto de principal parceira, porque já passou por crises mais intensas e se mantém entre as três do País. Essa situação ainda vai trazer impactos na região.”

“A pior coisa é quando você tem um cliente passando por instabilidade e não sabe o que vem pela frente, se é melhor ou pior. Essa é a situação da Argentina”, classificou Norberto Perrella, diretor titular do Ciesp Santo André, que também responde por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Postura de Bolsonaro pode piorar a situação

Além da situação externa, as recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e do ministro da Economia, Paulo Guedes, também podem prejudicar as operações com a Argentina, segundo especialista ouvido pelo Diário. Na semana passada, após eleição prévia que sinalizou a vitória da chapa de oposição à de Mauricio Macri, aliado de Bolsonaro, o mercado respondeu com expressiva desvalorização do Peso e com queda brusca dos indicadores da Merval, a bolsa de valores argentina.

Bolsonaro chegou a considerar a saída do Mercosul, postura questionada pelo coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero. “Não cabe dizer que essas pessoas são bandidos de esquerda, do contrário vamos ter problemas. Acontece algo parecido com os Estados Unidos, o alinhamento do presidente é com o (Donald) Trump. Então, se ele perder as eleições, vai ter muita dificuldade de negociações com os democratas.”

Macri anunciou série de medidas populistas na tentativa de buscar a reeleição no pleito marcado para o dia 27 de outubro. Entre elas estão o congelamento no preço dos combustíveis, o aumento do salário mínimo e do subsídio para as famílias mais necessitadas. O especialista classificou as propostas como “desesperadas”, já que o país está comprometido com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Segundo Balistiero, cenário argentino se dá pelo fato de o atual presidente não ter conseguido resolver a crise econômica. “A Cristina (Kirchner) foi muito populista e adotou medidas antimercado, deixando o país numa crise. Com o Macri, o desemprego dobrou e a inflação triplicou, não resolveu. Como piorou a situação, os saudosistas acreditam que era melhor antes”, disse. Cristina é candidata a vice na chapa liderada por Alberto Fernández.

BALANÇA COMERCIAL

Também impactada pela crise na Argentina, a balança comercial do Grande ABC está deficitária – quando as importações superam as exportações – em US$ 150,4 milhões, ou R$ 602,2 milhões.  




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